Cartão do monumento a Bento Gonçalves da Silva. Por volta de 1935. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande. |
A Praça Tamandaré tem dimensões tão amplas
que a aproximam de um parque e é repleta de histórias. Por sua privilegiada
localização foi cobiçada desde o século 19 para terem outras funcionalidades,
mas felizmente, a sua preservação como espaço público foi uma grande conquista
da população.
A Tamandaré é um dos mais marcantes cenários
cotidianos da cidade do Rio Grande e gerações se sucederam mantendo uma relação
lúdica e afetiva com os diferentes espaços que a compõem: o lago e seus
recantos; as árvores; os patos e as tartarugas; os quiosques com fotógrafos
lambe-lambe; os animais do mini zoológico (década de 1940) como os macacos ou a
anta; as grandes carpas, traíras e acarás; a praça infantil; as centenas de
garças que passam a noite nas árvores; a música no coreto; o sossego nos bancos
de cimento dos anos 1950 e a abrigolândia (bondes) desde a década de 1940; a
praça infantil com a zorra de 1924 (fabricação alemã); a pipoca e as guloseimas
como o “candy”; o funcionamento do chafariz francês da década de 1870; a monumentalidade
da escultura do monumento de Bento Gonçalves etc. Alguns anos atrás se foram os
camelôs e ficaram os ônibus e a grande circulação de pessoas no dia-a-dia.
Muito da nostalgia de tempos mais pacíficos está ficando no passado e o medo
dos assaltos, da violência e da depredação dos monumentos passou a fazer parte
do cotidiano.
Nos últimos mais de 120 anos a praça recebeu
aformoseamentos que a deixaram próxima ao que hoje conhecemos. Um número
incalculável de pessoas frequentou a Tamandaré ao longo do tempo e comigo não
foi diferente: foram muitos passeios com meu filho na busca de um espaço de
lazer no centro de uma cidade cada vez mais barulhenta e agitada. Levar o pão
para os patos era obrigatório assim como era praxe as crianças subirem nos
leões do monumento dedicado ao famoso general Rio-grandense. Ficar tão próximo
e tocar esta impressionante obra de arte em bronze (quando se vai criando uma
intimidade fecunda) me propiciou desenvolver cada vez mais a curiosidade sobre
a história daquele magnífico monumento e da praça.
Demorou uma década para contar algumas
histórias e o livro chega aos leitores com o objetivo de perpetuar e valorizar
este patrimônio tão próximo de nós, mas também tão desconhecido em sua
historicidade. Tenhamos certeza que por trás de cada realização (como a
existência de uma praça ou de um monumento) inúmeras histórias esperam para
serem contadas e que atrás de cada obra existem debates e visões de mundo nem
sempre convergentes. Cada evento histórico é parte de uma construção e a praça
da Geribanda do tempo dos escravos até o espaço lúdico e natural da praça
Tamandaré em meio ao concreto urbano é extremamente rica de histórias.
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