Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O HISTORIADOR ALFREDO FERREIRA RODRIGUES

Alfredo Ferreira Rodrigues.


Almanaque  Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul do ano de 1889.

           Um dos mais importantes nomes da pesquisa histórica realizada no Rio Grande do Sul é o de Alfredo Ferreira Rodrigues. Apaixonado pela história farroupilha, pioneiramente coletou milhares de documentos que buscavam construir aquele período (1835-1845) e foi um dos implementadores do projeto de construção do monumento a Bento Gonçalves da Silva, na cidade do Rio Grande. Foi o editor do Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul (1889-1917), um rico manancial de fontes para o estudo da história e literatura rio-grandense, além de inúmeros artigos e traduções de obras clássicas como O Corvo de Edgar Allan Poe.
           O historiador Francisco das Neves Alves no artigo “Documentos de um historiador rio-grandino: a Coleção Alfredo Ferreira Rodrigues no acervo da Biblioteca Rio-Grandense” (Historiadores Rio-grandinos. Rio Grande: FURG, Coleção Pensar a História Sul-Rio-Grandense, 2001) realizou uma concisa e clara análise da escrita historiográfica de Rodrigues, que é muito útil para pensar a forma de narração tradicional que foi muito utilizada por historiadores por mais de um século. Ao mesmo destacou a importância daqueles escritos como fonte para as pesquisas no presente.

           “Na virada do século XIX para o XX, a figura do historiador era ainda muito pouco definida no contexto gaúcho, havia, isto sim, a figura de alguns intelectuais que, ligados à cultura como um todo, numa visão bastante generalista, se dedicavam a resgatar alguns episódios do passado nacional, regional e local. Esta intelectualidade estava fortemente atrelada a uma história vinculada, primordialmente, ao levantamento dos fatos, reproduzindo um modelo pelo qual a história é movida pelas individualidades, ou seja, os líderes, os heróis, os mitos que, através de suas ações, moldavam os destinos das comunidades humanas.
           Nesta época, os acontecimentos eram os elementos marcantes da construção historiográfica, demarcando-se de forma estritamente cronológica a evolução das sociedades, sem qualquer preocupação com a história-processo. Os trabalhos eram demarcados pela narração descritiva, sem maior espaço, às vezes nenhum, para uma interpretação analítica dos fundamentos históricos das questões abordadas, além do que, as opiniões e posições do autor diante do fato abordado eram praticamente vetadas. Fazer história neste momento significava, acima de tudo, apontar para os episódios do passado, fazendo com que estes servissem como lições para o presente, devendo-se, portanto, seguir os exemplos dados pelos antepassados, mormente no que tange às demonstrações patrióticas e de abnegação diante do valor maior que era a nação.
           Este estilo de fazer história é característico desta fase dos primórdios da estruturação da figura do historiador, mas iriam demarcar profundamente e por longo tempo as formas de pesquisar e escrever a história no Rio Grande do Sul. Apesar de seus limites, condicionados pelo contexto histórico e historiográfico de então, a história elaborada em princípios do século XX, na conjuntura rio-grandense, teve um papel significativo para a reconstrução histórica acerca da formação gaúcha, especialmente no que tange ao arrolamento de dados e ao levantamento de fontes, fundamentais para as futuras gerações de historiadores.
           Neste quadro, esteve inserida a figura do escritor rio-grandino Alfredo Ferreira Rodrigues (1865-1942). Pesquisador, ensaísta, historiador, cronista, literato, jornalista, biógrafo, tradutor, folclorista, charadista, poeta e professor, Ferreira Rodrigues representou a contento o homem de cultura de seu tempo. Atuando vários anos junto à Livraria Americana, o historiador rio-grandino foi o fundador do Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul, publicação que se destinava à divulgação cultural, literária e ao entretenimento do público leitor, servindo à difusão da leitura junto à população, bem como foi membro de algumas das mais importantes instituições culturais da época, como a Academia Rio-Grandense de Letras, o Centro Rio-Grandense de Estudos Históricos e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.
O reconhecimento de Alfredo Ferreira Rodrigues como um homem de letras não se limitaria ao Rio Grande do Sul, tendo pertencido também a instituições históricas e geográficas brasileiras, em São Paulo, em Pernambuco, na Bahia, no Ceará e estrangeiras, como na cidade de Lisboa. A produção histórica de Ferreira Rodrigues foi direcionada mais diretamente ao estudo da história regional, elaborando um grande número de ensaios, artigos e livros versando sobre a formação histórica gaúcha. O norte da carreira do historiador, neste contexto, foi a Revolução Farroupilha, verdadeira paixão que despertava a admiração e quase a idolatria de Rodrigues para com os homens e os feitos de 1835-1845. Na faina de reconstruir a história rio-grandense, a maior das preocupações de Ferreira Rodrigues esteve ligada à coleta de documentos, os quais procurou, investigou, copiou e colecionou a exaustão, reunindo um acervo significativo para uma melhor compreensão da história gaúcha”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário