Alfredo Ferreira Rodrigues. |
Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul do ano de 1889. |
Um dos mais importantes
nomes da pesquisa histórica realizada no Rio Grande do Sul é o de Alfredo
Ferreira Rodrigues. Apaixonado pela história farroupilha, pioneiramente coletou
milhares de documentos que buscavam construir aquele período (1835-1845) e foi
um dos implementadores do projeto de construção do monumento a Bento Gonçalves
da Silva, na cidade do Rio Grande. Foi o editor do Almanaque Literário e
Estatístico do Rio Grande do Sul (1889-1917), um rico manancial de fontes para
o estudo da história e literatura rio-grandense, além de inúmeros artigos e
traduções de obras clássicas como O Corvo de Edgar Allan Poe.
O historiador Francisco
das Neves Alves no artigo “Documentos de um
historiador rio-grandino: a Coleção Alfredo Ferreira Rodrigues no acervo da
Biblioteca Rio-Grandense” (Historiadores
Rio-grandinos. Rio Grande: FURG, Coleção Pensar a História Sul-Rio-Grandense,
2001) realizou uma concisa e clara análise da escrita historiográfica de
Rodrigues, que é muito útil para pensar a forma de narração tradicional que foi
muito utilizada por historiadores por mais de um século. Ao mesmo destacou a
importância daqueles escritos como fonte para as pesquisas no presente.
“Na virada do século XIX
para o XX, a figura do historiador era ainda muito pouco definida no contexto
gaúcho, havia, isto sim, a figura de alguns intelectuais que, ligados à cultura
como um todo, numa visão bastante generalista, se dedicavam a resgatar alguns
episódios do passado nacional, regional e local. Esta intelectualidade estava
fortemente atrelada a uma história vinculada, primordialmente, ao levantamento
dos fatos, reproduzindo um modelo pelo qual a história é movida pelas
individualidades, ou seja, os líderes, os heróis, os mitos que, através de suas
ações, moldavam os destinos das comunidades humanas.
Nesta época, os
acontecimentos eram os elementos marcantes da construção historiográfica,
demarcando-se de forma estritamente cronológica a evolução das sociedades, sem
qualquer preocupação com a história-processo. Os trabalhos eram demarcados pela
narração descritiva, sem maior espaço, às vezes nenhum, para uma interpretação analítica
dos fundamentos históricos das questões abordadas, além do que, as opiniões e
posições do autor diante do fato abordado eram praticamente vetadas. Fazer
história neste momento significava, acima de tudo, apontar para os episódios do
passado, fazendo com que estes servissem como lições para o presente,
devendo-se, portanto, seguir os exemplos dados pelos antepassados, mormente no
que tange às demonstrações patrióticas e de abnegação diante do valor maior que era
a nação.
Este estilo de fazer
história é característico desta fase dos primórdios da estruturação da figura
do historiador, mas iriam demarcar profundamente e por longo tempo as formas de
pesquisar e escrever a história no Rio Grande do Sul. Apesar de seus limites,
condicionados pelo contexto histórico e historiográfico de então, a história
elaborada em princípios do século XX, na conjuntura rio-grandense, teve um
papel significativo para a reconstrução histórica acerca da formação gaúcha,
especialmente no que tange ao arrolamento de dados e ao levantamento de fontes,
fundamentais para as futuras gerações de historiadores.
Neste quadro, esteve
inserida a figura do escritor rio-grandino Alfredo Ferreira Rodrigues
(1865-1942). Pesquisador, ensaísta, historiador, cronista, literato,
jornalista, biógrafo, tradutor, folclorista, charadista, poeta e professor,
Ferreira Rodrigues representou a contento o homem de cultura de seu tempo.
Atuando vários anos junto à Livraria Americana, o historiador rio-grandino foi
o fundador do Almanaque Literário e
Estatístico do Rio Grande do Sul, publicação que se destinava à divulgação
cultural, literária e ao entretenimento do público leitor, servindo à difusão
da leitura junto à população, bem como foi membro de algumas das mais importantes instituições
culturais da época, como a Academia Rio-Grandense de Letras, o Centro
Rio-Grandense de Estudos Históricos e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Sul.
O
reconhecimento de Alfredo Ferreira Rodrigues como um homem de letras não se
limitaria ao Rio Grande do Sul, tendo pertencido também a instituições
históricas e geográficas brasileiras, em São Paulo, em Pernambuco, na Bahia, no Ceará e
estrangeiras, como na cidade de Lisboa. A produção histórica de Ferreira
Rodrigues foi direcionada mais diretamente ao estudo da história regional,
elaborando um grande número de ensaios, artigos e livros versando sobre a formação
histórica gaúcha. O norte da carreira do historiador, neste contexto, foi a
Revolução Farroupilha, verdadeira paixão que despertava a admiração e quase a
idolatria de Rodrigues para com os homens e os feitos de 1835-1845. Na faina de
reconstruir a história rio-grandense, a maior das preocupações de Ferreira
Rodrigues esteve ligada à coleta de documentos, os quais procurou, investigou,
copiou e colecionou a exaustão, reunindo um acervo significativo para uma
melhor compreensão da história gaúcha”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário