Eucalipto após a poda. Autor. |
A poda (em
2016) de um dos símbolos da cidade do Rio Grande, o eucalipto em frente à
Igreja de São Pedro, possibilita um momento de reflexão e também trazer a luz
novas informações sobre o tema.
Muitas
gerações conviveram com o eucalipto que faz parte da paisagem urbana e que
necessitou de uma radical intervenção para buscar o salvamento da árvore e
também garantir a segurança da população no local mais movimentado da cidade.
Apesar de o
momento ser de decepção popular frente à mudança da visão da bela árvore que
ficou muito reduzida em volume, podemos aproveitar para relembrar as antigas
iniciativas ligadas ao plantio dos eucaliptos em Rio Grande.
O prof.
Titular do Dep. de Ciências Florestais da Universidade Federal de Santa Maria José
Marchiore escreveu um artigo, a partir de pesquisas realizadas na Biblioteca
Rio-grandense, que são muito esclarecedores (Primórdios da Silvicultura no Rio
Grande do Sul - nota sobre a introdução do gênero Eucalyptus L’Her. Revista Balduinia. Santa Maria: UFSM, n.
44, p. 21-31, 2014).
Marchiore
destacou que a introdução de espécies do gênero Eucalyptus L'Her no Rio Grande
do Sul é objeto de controvérsia na literatura científica. Apesar de reconhecer
a dificuldade de uma definição segura sobre a data de introdução no país, o
pesquisador Navarro de Andrade (1911 – autor que propôs o cultivo do eucalipto para
utilização em madeireiras) foi o primeiro a apontar o pioneirismo do Rio Grande
do Sul, atribuindo a iniciativa ao rio-grandino Frederico de Albuquerque, em
1868. Outras fontes afirmam que desde a década de 1830 iniciara o plantio, mas
sem fontes confiáveis de confirmação. O que podemos afirmar é que o jornal
Diário do Rio Grande nos meses de janeiro e fevereiro de 1873 anunciava a venda
de mudas de "Eucalyptus e Acácias da Austrália", entre outras árvores
ornamentais, na rua General Osório n° 33. Ou seja, não é uma nota sobre a
introdução das espécies, mas sim da utilização comercial destas árvores,
fortalecendo a perspectiva de que a introdução está relacionada a Frederico de Albuquerque.
Em termos de
Brasil as duas primeiras mudas de eucalipto foram plantadas no Brasil em 1824,
no Jardim Botânico do Rio de Janeiro as quais foram trazidas de Portugal. O
cultivo no século 19 era voltado à ornamentação e arborização urbana. De acordo
com Navarro de Andrade, a primeira plantação foi realizada em ruas e no Jardim
Público da cidade fluminense de Vassouras, em 1871, porém, um fato pitoresco
ocorre: as árvores acabaram cortadas pelo povo, que lhes atribuía a culpa pelo
aparecimento da febre amarela na cidade. Enquanto Andrade é o "pai da
eucaliptocultura" no Brasil, no Rio Grande do Sul, esse papel é atribuído
a Joaquim Francisco de Assis Brasil na Granja de Pedras Altas.
O Eucalipto
do Largo Dr. Pio, antes da poda, possuía 26 metros de altura e 740 cm de
circunferência a altura do peito. A igreja mais antiga do Rio Grande do Sul
ostenta em sua frente o eucalipto mais antigo do estado. Conforme Marchiore a
placa de informação junto à árvore apresenta incorreções de data e espécie
botânica. A placa indica Eucalyptus globulus, mas trata-se um “Eucalyptus
camaldulensis Dehnh., espécie com ampla distribuição geográfica em sua pátria
de origem (Austrália). Espécie vinculada a margens de cursos de água,
Eucalyptus camaldulensis requer fácil acesso ao lençol freático, peculiaridade
ecológica que ajuda a entender o bom desenvolvimento da árvore e sua
longevidade no ambiente inóspito em que se encontra, haja vista o calçamento
realizado em toda a praça, com exceção de um anel de mais ou menos um metro de
largura, em torno da base do tronco. Não custa lembrar que o lençol freático se
encontra a pouca profundidade na planície litorânea, de modo que nunca falta
água para a árvore, independentemente da intensidade do período de seca. O nome
específico (camaldulensis) remete ao Monastério de Camaldoli, nas proximidades
de Nápoles (Itália), de onde foi colhido, por Friedrich Dennhardt (1787-1870),
jardineiro chefe do Jardim Botânico de Nápoles, o material utilizado na
descrição original, de 1832”, conclui Marchiore.
A data de
plantio também apresenta uma incorreção. Conforme pesquisa do autor na coleção
de jornais da Biblioteca Rio-grandense, uma pequena nota, constante no número
8.885 do jornal Diário do Rio Grande, publicado em 20 de Setembro de 1878, uma
sexta-feira, esclarece sobre a datação: "A Praça da Matriz acaba de ser
arborizada com Eucaliptos globulos, em substituição aos salsos que ali
existiam. O Eucalipto é a árvore adotada em toda a parte, por considerar-se uma
das plantas mais higiênicas". Apesar de concisa, a matéria jornalística
esclarece sobre a data aproximada de plantio e que a arborização anterior era
feita com indivíduos de Salix humboldtiana Willd (salsos), espécie nativa e de
fácil propagação por estacas. O Diário do Rio Grande, em edição anterior, destacou
que "os dois salsos que se achavam colocados bem na frente da porta
principal da Igreja Matriz haviam sido serrados".
Dos eucaliptos
plantados na praça em 1878, restou apenas o atual, pois na década de 1940,
quando da construção do prédio dos Correios e Telégrafos, eles foram cortados e
a então praça da Matriz é reduzida e vai se tornar o Largo Dr. Pio hoje
conhecido.
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