Jornal O Commercial de 17-12-1865. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. |
Rio Grande é a porta de
entrada, por via marítima, no Rio Grande do Sul! Esta importância ajuda a
explicar o pioneirismo da imprensa local, a qual é multifacetada em áreas de
atuação: política, caricatura, noticiosa, literária, feminina, pasquim etc.
Também se fez presente o jornalismo voltado às atividades comerciais que eram
essenciais para o desenvolvimento de uma cidade portuária.
Conforme Francisco das
Neves Alves no artigo “Uma Folha Mercantil na cidade do Rio Grande: um
histórico do jornal O Commercial” (Indústria e Comércio na cidade do Rio
Grande: estudos históricos. Rio Grande: Furg, 2001), um jornal se destacou
neste campo de atuação: o jornal O
Commercial. O periódico foi criado em maio de 1857 por Francisco de Paula
Cardoso, um comerciante rio-grandino, ligado às lides tipográficas. O
proprietário atuou nesta folha até a sua morte, em 1865, quando foi substituído
em suas atividades por seu filho homônimo.
A linha editorial desta folha, conforme seu próprio título foi essencialmente comercial, pois seu proprietário pretendia organizar uma publicação que prestasse a melhor informação, quantitativa e qualitativamente, a respeito do setor mercantil, intentando, assim, auxiliar na organização e desenvolvimento de uma das bases da estrutura econômica da cidade do Rio Grande. Além de preocupar-se com as atividades comerciais, o periódico buscava atender também a outros setores produtivos da Província, chegando à auto-intitular-se como “jornal de indústria e agricultura”.
A linha editorial desta folha, conforme seu próprio título foi essencialmente comercial, pois seu proprietário pretendia organizar uma publicação que prestasse a melhor informação, quantitativa e qualitativamente, a respeito do setor mercantil, intentando, assim, auxiliar na organização e desenvolvimento de uma das bases da estrutura econômica da cidade do Rio Grande. Além de preocupar-se com as atividades comerciais, o periódico buscava atender também a outros setores produtivos da Província, chegando à auto-intitular-se como “jornal de indústria e agricultura”.
Conforme Alves, a folha
propunha a ocupar-se “dos interesses gerais do país”, dando “uma atenção
especial ao sul da Província, atendendo com preferência a tudo quanto
interessasse ao comércio” (13/2/1859).
De acordo com estes
objetivos eminentemente comerciais, a folha mercantil, durante os anos iniciais
de sua circulação, insistia em apresentar-se como uma folha apolítica. Os intentos basicamente mercantis do periódico
rio-grandino, em detrimento das discussões políticas ficavam expressos
numa das principais campanhas movidas pela folha durante a sua existência,
mormente na primeira década, que consistia no combate ao contrabando, através
da instauração da “tarifa especial” que protegeria a negociação dos produtos
rio-grandenses.
A busca da neutralidade
política vai se dispersando e o vínculo ao ideário conservador se confirma a
partir da inversão política de 1868, quando a folha comercial deixou
transparecer mais abertamente a sua filiação partidária ao Partido Conservador
de D. Pedro II. O jornal buscou
estabelecer uma imagem extremamente negativa dos liberais os quais deveriam ser
sempre combatidos, referindo-se à agremiação liberal como “uma planta parasita,
que nascera e se sustentara da seiva da massa da nação”. De acordo com o diário
mercantil o Partido Liberal não ambicionava “o poder pelo bem do povo”, e sim,
“apenas para satisfazer planos individuais, e levar ao cabo combinações
efêmeras, que teriam por resultado, a desgraça do Brasil”.
O Commercial enaltecia os valores morais demonstrados pelos
conservadores ao longo da história brasileira. Neste sentido, o jornal
censurava as formas de combate político utilizadas pelos liberais, os quais,
“para sustentar uma causa pouco sincera, encontravam por únicos esteios a
mentira, o insulto e o frenesi das paixões”.
A partir da inversão
partidária de 1868, O Commercial
apresentaria-se como um dos arautos do pensamento e das práticas do partido da
ordem o qual promoveria, segundo a concepção daquele, o engrandecimento do país
progressivamente, dentro das normas constitucionais, sem precisar apelar para
atitudes que colocassem em risco a integridade das instituições nacionais, como
era no caso da conduta dos inimigos liberais, revolucionários e subversivos por
natureza, de acordo com a opinião do jornal. Mesmo após a ascensão dos
liberais, em 1878, o jornal adotou uma postura inicialmente apolítica, porém, a
partir dos anos oitenta, retomaria a discussão em prol da agremiação
conservadora. Já o debate político, promovido durante o segundo semestre de
1882, ainda que realizado sob a visão da emoção e do despeito do redator,
traduziu as circunstâncias em que vivia o Partido Conservador no Rio Grande do
Sul de então, fragmentado e enfraquecido pelas disputas internas.
O desequilíbrio entre os
interesses comerciais e a veemência na exposição das ideias
político-partidárias foi um dos elementos constitutivos mais importantes para
determinar a decadência do Commercial
durante a década de oitenta, exatamente quando a imprensa rio-grandina passava
por uma de suas mais brilhantes fases. Enquanto se manteve como um jornal
essencialmente comercial, cujo objetivo era prestar informações sobre movimento
portuário, entradas e saídas de navios da Barra, valor das mercadorias e variações
no câmbio, o jornal garantiu sua sobrevivência, mesmo quando deixou
transparecer abertamente sua postura partidária. Porém, perdida a credibilidade
nos boletins comerciais e passando a servir quase que unicamente a interesses
políticos individuais, o diário mercantil perdera seu norte editorial e
tornou-se inevitável o caminho para o seu desaparecimento, conclui Alves.
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