Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

domingo, 10 de novembro de 2019

O HISTORIADOR E O LITERATO



O Artista, 04-01-1906. 

         O livro “A Convicção através da Pena: a obra jornalística e literária do escritor Mario de Artagão no âmbito brasileiro e lusitano” (Lisboa: CLEPUL/Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2016) correspondeu ao centésimo livro publicado por Francisco das Neves Alves. Ele é um companheiro de viagens historiográficas (livros e artigos que publicamos desde 1993) e está cada vez mais se projetando em incursões ultramarinas até nossos fundamentos civilizatórios em Portugal sem nunca deixar de divulgar a sua terra natal: Rio Grande.
Nesta publicação ele elaborou mais uma obra magistral que valoriza as raízes históricas do jornalismo e da vida intelectual em Rio Grande, e ao mesmo tempo, demarcou com um trabalho de referência os 150 anos de nascimento de Mario Artagão, ocorrido em 1866, em Rio Grande.
Conforme Alves, Mario de Artagão, conviveu e interagiu com uma época de ampla transformação política no Brasil, correspondendo à transição da monarquia à república, momento que se transformaria em verdadeiro ponto de inflexão em sua vida. Ele nasceu em berço de ouro, no extremo-sul brasileiro, condição que lhe deu condições de realizar seus estudos na Europa. De tal continente trouxe uma bagagem cultural que se mesclou com os tempos vividos no Brasil, trazendo como resultados as intrínsecas características que imprimiu à sua obra. Como homem de letras de seu tempo, atuou nos mais variados campos, mas a essência de sua carreira esteve ligada à poesia e ao jornalismo, através dos quais expressou suas visões de mundo.
Artagão foi um homem rico, mas inconformado com muitas das realidades vividas. Em primeiro lugar, foi um monarquista convicto, jamais aceitando a mudança na forma de governo brasileira e lutando ardorosamente pelo restabelecimento da monarquia. Tal ação oposicionista e combativa de resistência à república iria custar-lhe muito caro, vindo a ser calado a fórceps, como tantos escritores públicos perseguidos à época da implantação republicana Tal processo viria a culminar com a decisão do autoexílio, elegendo Portugal como o seu novo lar e abandonando de vez os debates através do periodismo, voltando-se essencialmente para a criação literária.
Na cidade litorânea do Rio Grande foi gerada significativa riqueza, havendo indivíduos que ali se instalaram, dedicando-se às lides mercantis e transformaram-se em abastados comerciantes, ligados ao comércio de exportação e importação. Foi esse o caso de Antônio da Costa Correia Leite que veio da cidade portuguesa do Porto para o Rio Grande ainda nos anos 1850, fundando uma empresa comercial que se afirmaria como uma das mais importantes do local. Como era padrão à época, para aqueles que nasciam em famílias abastadas, Antônio Leite teve todo um cuidado com a educação de seus quatro filhos, enviando-os para estudar na Europa. Um de seus filhos, praticamente não ficou conhecido pela sua alcunha de batismo – Antônio da Costa Correia Leite Filho – nascido na cidade do Rio Grande, exatamente naquele dezembro de 1866, no dia 19, e vindo a ganhar notoriedade pelo nome artístico que escolheu – Mario de Artagão – com o qual se consagraria como literato e jornalista. Os primeiros anos de sua infância passou em sua terra natal, mas cedo foi enviado ao continente europeu para lá realizar seus estudos. Primeiramente em Lisboa, e posteriormente realizou seus estudos no Porto, em Paris e bacharelou-se em Filosofia na Alemanha. Chamado por seu pai ele retorna ao Brasil e atuou como representante da empresa Leite & Cia. nas cidades do Recife e do Rio de Janeiro, nas quais inaugurou suas lides no mundo das letras, como poeta e jornalista.
Logo ao chegar ao Brasil, ao final dos anos oitenta, mesmo que ainda estivesse trabalhando na firma paterna, já se desencadearia a carreira de Mario de Artagão. Posteriormente, ele se dedicaria exclusivamente à pena, desenvolvendo uma ação intelectual que se estendeu ao âmbito brasileiro e luso até o final da sua vida em agosto de 1937. Artagão foi o típico representante da intelectualidade de seu tempo, agindo em múltiplas áreas, ao atuar como jornalista, poeta, professor, filósofo, conferencista, teatrólogo, administrador escolar, dramaturgo e polemista. Era um poliglota, pois falava e escrevia em português, inglês, francês, espanhol, alemão e italiano. Seu reconhecimento como intelectual ultrapassou fronteiras, tendo pertencido a academias literárias em Paris, Hamburgo e no Brasil.
Ao chegar ao seu centésimo livro, a qualidade da pesquisa e da escrita deste livro de Francisco valorizou ainda mais o sesquicentenário do grande intelectual e literato Artagão que teve a qualidade de sua obra reconhecida no Novo e no Velho Mundo.  

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