O Artista, 04-01-1906. |
O livro “A Convicção através da Pena: a obra jornalística e literária do escritor Mario de Artagão no âmbito brasileiro e lusitano” (Lisboa: CLEPUL/Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2016) correspondeu ao centésimo livro publicado por Francisco das Neves Alves. Ele é um companheiro de viagens historiográficas (livros e artigos que publicamos desde 1993) e está cada vez mais se projetando em incursões ultramarinas até nossos fundamentos civilizatórios em Portugal sem nunca deixar de divulgar a sua terra natal: Rio Grande.
Nesta
publicação ele elaborou mais uma obra magistral que valoriza as raízes
históricas do jornalismo e da vida intelectual em Rio Grande, e ao mesmo tempo,
demarcou com um trabalho de referência os 150 anos de nascimento de Mario
Artagão, ocorrido em 1866, em Rio Grande.
Conforme Alves,
Mario de Artagão, conviveu e interagiu com uma época de ampla transformação
política no Brasil, correspondendo à transição da monarquia à república,
momento que se transformaria em verdadeiro ponto de inflexão em sua vida. Ele
nasceu em berço de ouro, no extremo-sul brasileiro, condição que lhe deu
condições de realizar seus estudos na Europa. De tal continente trouxe uma
bagagem cultural que se mesclou com os tempos vividos no Brasil, trazendo como
resultados as intrínsecas características que imprimiu à sua obra. Como homem
de letras de seu tempo, atuou nos mais variados campos, mas a essência de sua
carreira esteve ligada à poesia e ao jornalismo, através dos quais expressou
suas visões de mundo.
Artagão foi
um homem rico, mas inconformado com muitas das realidades vividas. Em primeiro
lugar, foi um monarquista convicto, jamais aceitando a mudança na forma de
governo brasileira e lutando ardorosamente pelo restabelecimento da monarquia.
Tal ação oposicionista e combativa de resistência à república iria custar-lhe
muito caro, vindo a ser calado a fórceps, como tantos escritores públicos
perseguidos à época da implantação republicana Tal processo viria a culminar
com a decisão do autoexílio, elegendo Portugal como o seu novo lar e
abandonando de vez os debates através do periodismo, voltando-se essencialmente
para a criação literária.
Na cidade
litorânea do Rio Grande foi gerada significativa riqueza, havendo indivíduos
que ali se instalaram, dedicando-se às lides mercantis e transformaram-se em
abastados comerciantes, ligados ao comércio de exportação e importação. Foi
esse o caso de Antônio da Costa Correia Leite que veio da cidade portuguesa do
Porto para o Rio Grande ainda nos anos 1850, fundando uma empresa comercial que
se afirmaria como uma das mais importantes do local. Como era padrão à época,
para aqueles que nasciam em famílias abastadas, Antônio Leite teve todo um
cuidado com a educação de seus quatro filhos, enviando-os para estudar na
Europa. Um de seus filhos, praticamente não ficou conhecido pela sua alcunha de
batismo – Antônio da Costa Correia Leite Filho – nascido na cidade do Rio
Grande, exatamente naquele dezembro de 1866, no dia 19, e vindo a ganhar
notoriedade pelo nome artístico que escolheu – Mario de Artagão – com o qual se
consagraria como literato e jornalista. Os primeiros anos de sua infância
passou em sua terra natal, mas cedo foi enviado ao continente europeu para lá
realizar seus estudos. Primeiramente em Lisboa, e posteriormente realizou seus
estudos no Porto, em Paris e bacharelou-se em Filosofia na Alemanha. Chamado
por seu pai ele retorna ao Brasil e atuou como representante da empresa Leite
& Cia. nas cidades do Recife e do Rio de Janeiro, nas quais inaugurou suas
lides no mundo das letras, como poeta e jornalista.
Logo ao
chegar ao Brasil, ao final dos anos oitenta, mesmo que ainda estivesse
trabalhando na firma paterna, já se desencadearia a carreira de Mario de
Artagão. Posteriormente, ele se dedicaria exclusivamente à pena, desenvolvendo
uma ação intelectual que se estendeu ao âmbito brasileiro e luso até o final da
sua vida em agosto de 1937. Artagão foi o típico representante da
intelectualidade de seu tempo, agindo em múltiplas áreas, ao atuar como
jornalista, poeta, professor, filósofo, conferencista, teatrólogo,
administrador escolar, dramaturgo e polemista. Era um poliglota, pois falava e
escrevia em português, inglês, francês, espanhol, alemão e italiano. Seu
reconhecimento como intelectual ultrapassou fronteiras, tendo pertencido a
academias literárias em Paris, Hamburgo e no Brasil.
Ao chegar ao
seu centésimo livro, a qualidade da pesquisa e da escrita deste livro de
Francisco valorizou ainda mais o sesquicentenário do grande intelectual e
literato Artagão que teve a qualidade de sua obra reconhecida no Novo e no
Velho Mundo.
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