Cinematógrafo. |
Programa da primeira exibição dos Irmãos Lumière. |
Irmãos Lumière. |
Rio Grande é
uma cidade que viveu intensamente a sétima arte. O grande número de salas de
projeção que não se restringiam só ao centro da urbe, mas que também se faziam
presente nos bairros evidencia a cultura cinematográfica dos moradores desde as
primeiras décadas do século 20.
Com base
numa série de descobertas anteriores, os irmãos Auguste e Louis Lumière inventaram um aparelho portátil que consistia
numa máquina de filmar, revelar e projetar chamada de cinematógrafo. Passados
poucos meses o inventor Thomas Edison também desenvolveu técnica de projeção e
ganhou renome com uma série de filmes. Os primeiros efeitos especiais foram
feitos pelo francês Georges Méliès a partir de 1896 na ficção científica
“Viagem a Lua” explorando a suposta presença de alienígenas neste satélite da
Terra.
A primeira
projeção pública com o cinematógrafo ocorreu em 28 de dezembro de 1895. Os
Irmãos Lumière fizeram uma apresentação de seu invento e o primeiro filme
exibido foi L’Arrivée d’um Train à la Ciotat (Chegada do Trem à Estação). Este
marco inicial do que conhecemos como cinema ocorreu no Salão Indiano do Grande
Café, em Paris, com cerca de 35 pessoas presentes. A entrada da
sessão custava um franco e o aluguel cobrado diariamente pelo local foi de 30
francos. A bilionária indústria cinematográfica levou várias décadas para se
firmar, mas já evidenciava que tinha futuro, pois nos dias seguintes mais de
1.500 pessoas pagavam para assistir a nova invenção.
Conforme Claude Dufresne
(Revista História Viva, n.15, 2005) ”algo aconteceu no Salão Indiano
para explicar tal sucesso. Os raros espectadores presentes à primeira sessão
estavam convencidos de que iam assistir a uma daquelas demonstrações de
lanterna mágica, muito comuns na época. De fato, assim que se instalaram na
sala, que evocava a de um pequeno teatro, eles mergulharam na obscuridade,
enquanto por trás deles um raio de luz projetava sobre uma tela branca as
palavras Cinematógrafo Lumière, seguidas pelo título A saída das
operárias da fábrica Lumière. O espetáculo começou mal, pois as palavras
tremiam na tela e o público já lamentava por “ter se deixado enganar”. Mas eis
que subitamente apareciam grupos de mulheres na porta de uma fábrica, e elas,
em vez de ficar imóveis, começavam a se mover, a andar. Elas se aproximavam,
punham-se a aumentar de tamanho, avançavam na direção do público com um sorriso
nos lábios; elas estavam "vivas". Na sala, a incredulidade e a
estupefação se seguiram ao ceticismo dos primeiros instantes. A luz foi acesa.
Os espectadores ainda não acreditavam no que tinham acabado de ver e trocavam
olhares como se cada um perguntasse ao outro se não tinha sonhado. No entanto,
a luz foi apagada novamente: dessa vez, um trem surgiu na tela; ele se
deslocava em grande velocidade e avançava na direção da sala, pronto, ao que
parecia, a destruir tudo pelo caminho. A impressão era tão espantosa que
instintivamente os espectadores da primeira fila se levantavam das cadeiras
para fugir. Durante 20 minutos os filmes se sucederam - eram dez ao todo. Cada
um tinha 16 metros de comprimento e dois minutos de duração. Quando o programa
terminou, o responsável pela projeção fez uma pausa de dez minutos para
descansar a mão, adormecida pela manivela do aparelho que teve de acionar
durante toda a sessão. A parada serviu também para deixar sair os espectadores
e receber um novo grupo. Não era raro que os que haviam assistido a uma sessão
retornassem uma ou duas horas mais tarde, acompanhados de amigos com os quais
compartilhavam a descoberta. O sucesso inicial do cinematógrafo se deveu à
boca-a-boca: a imprensa, em seu conjunto, ignorou olimpicamente a invenção. A
única repercussão nos jornais foi uma breve nota publicada na edição de 30 de
dezembro de Le Radical, o primeiro das dezenas de milhões de artigos que seriam
dedicados ao cinema: Uma nova invenção que é certamente uma das coisas mais
curiosas de nossa época foi apresentada ontem à noite no bulevar des Capucines,
14, escreveu o jornalista. "Trata-se da reprodução, por projeções, de
cenas vividas e fotografadas [...]. Seja qual for à cena assim tomada e o
número de pessoas surpreendidas nos atos de sua vida, vocês irão revê-las em
tamanho natural [...]. Merece ser mencionada a saída de todo o pessoal das
fábricas onde foi inventado o novo aparelho, que recebeu o algo carrancudo nome
de cinematógrafo” conclui Dufresne.
Em outubro de 1897 é inaugurada a primeira sala de projeção do mundo
chamada de Cinema Lumière. Décadas depois as salas de projeção se
espalhavam pelo planeta e permitiam que mais de mil pessoas compartilhassem a
mesma sessão.
Durante a Exposição Universal
de Paris em 1900 o cinematógrafo foi projetado ao ar livre e permitiu que 25
mil pessoas simultaneamente observassem a projeção de imagens em movimento numa
tela gigante. O cinema teve esta característica de ser uma arte voltada para as
multidões que formavam fila para assistir aos filmes. A criação desta técnica
levou a criação de padrões culturais que se difundiram pelo planeta como é o
caso do cinema de Hollywood que traz engajado perspectivas de difusão do modo
de vida norte-americano. O cinema é um espaço fundamental para entender
práticas sociais, políticas e culturais.
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