Porto do Rio Grande em 1908

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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O CINEMA E OS IRMÃOS LUMIÈRE

Cinematógrafo. 



Programa da primeira exibição dos Irmãos Lumière.


Irmãos Lumière. 

Rio Grande é uma cidade que viveu intensamente a sétima arte. O grande número de salas de projeção que não se restringiam só ao centro da urbe, mas que também se faziam presente nos bairros evidencia a cultura cinematográfica dos moradores desde as primeiras décadas do século 20.
Com base numa série de descobertas anteriores, os irmãos Auguste e Louis Lumière inventaram um aparelho portátil que consistia numa máquina de filmar, revelar e projetar chamada de cinematógrafo. Passados poucos meses o inventor Thomas Edison também desenvolveu técnica de projeção e ganhou renome com uma série de filmes. Os primeiros efeitos especiais foram feitos pelo francês Georges Méliès a partir de 1896 na ficção científica “Viagem a Lua” explorando a suposta presença de alienígenas neste satélite da Terra.
A primeira projeção pública com o cinematógrafo ocorreu em 28 de dezembro de 1895. Os Irmãos Lumière fizeram uma apresentação de seu invento e o primeiro filme exibido foi L’Arrivée d’um Train à la Ciotat (Chegada do Trem à Estação). Este marco inicial do que conhecemos como cinema ocorreu no Salão Indiano do Grande Café, em Paris, com cerca de 35 pessoas presentes. A entrada da sessão custava um franco e o aluguel cobrado diariamente pelo local foi de 30 francos. A bilionária indústria cinematográfica levou várias décadas para se firmar, mas já evidenciava que tinha futuro, pois nos dias seguintes mais de 1.500 pessoas pagavam para assistir a nova invenção.
Conforme Claude Dufresne  (Revista História Viva, n.15, 2005) ”algo aconteceu no Salão Indiano para explicar tal sucesso. Os raros espectadores presentes à primeira sessão estavam convencidos de que iam assistir a uma daquelas demonstrações de lanterna mágica, muito comuns na época. De fato, assim que se instalaram na sala, que evocava a de um pequeno teatro, eles mergulharam na obscuridade, enquanto por trás deles um raio de luz projetava sobre uma tela branca as palavras Cinematógrafo Lumière, seguidas pelo título A saída das operárias da fábrica Lumière. O espetáculo começou mal, pois as palavras tremiam na tela e o público já lamentava por “ter se deixado enganar”. Mas eis que subitamente apareciam grupos de mulheres na porta de uma fábrica, e elas, em vez de ficar imóveis, começavam a se mover, a andar. Elas se aproximavam, punham-se a aumentar de tamanho, avançavam na direção do público com um sorriso nos lábios; elas estavam "vivas". Na sala, a incredulidade e a estupefação se seguiram ao ceticismo dos primeiros instantes. A luz foi acesa. Os espectadores ainda não acreditavam no que tinham acabado de ver e trocavam olhares como se cada um perguntasse ao outro se não tinha sonhado. No entanto, a luz foi apagada novamente: dessa vez, um trem surgiu na tela; ele se deslocava em grande velocidade e avançava na direção da sala, pronto, ao que parecia, a destruir tudo pelo caminho. A impressão era tão espantosa que instintivamente os espectadores da primeira fila se levantavam das cadeiras para fugir. Durante 20 minutos os filmes se sucederam - eram dez ao todo. Cada um tinha 16 metros de comprimento e dois minutos de duração. Quando o programa terminou, o responsável pela projeção fez uma pausa de dez minutos para descansar a mão, adormecida pela manivela do aparelho que teve de acionar durante toda a sessão. A parada serviu também para deixar sair os espectadores e receber um novo grupo. Não era raro que os que haviam assistido a uma sessão retornassem uma ou duas horas mais tarde, acompanhados de amigos com os quais compartilhavam a descoberta. O sucesso inicial do cinematógrafo se deveu à boca-a-boca: a imprensa, em seu conjunto, ignorou olimpicamente a invenção. A única repercussão nos jornais foi uma breve nota publicada na edição de 30 de dezembro de Le Radical, o primeiro das dezenas de milhões de artigos que seriam dedicados ao cinema: Uma nova invenção que é certamente uma das coisas mais curiosas de nossa época foi apresentada ontem à noite no bulevar des Capucines, 14, escreveu o jornalista. "Trata-se da reprodução, por projeções, de cenas vividas e fotografadas [...]. Seja qual for à cena assim tomada e o número de pessoas surpreendidas nos atos de sua vida, vocês irão revê-las em tamanho natural [...]. Merece ser mencionada a saída de todo o pessoal das fábricas onde foi inventado o novo aparelho, que recebeu o algo carrancudo nome de cinematógrafo” conclui Dufresne. 
Em outubro de 1897 é inaugurada a primeira sala de projeção do mundo chamada de Cinema Lumière.  Décadas depois as salas de projeção se espalhavam pelo planeta e permitiam que mais de mil pessoas compartilhassem a mesma sessão.
Durante a Exposição Universal de Paris em 1900 o cinematógrafo foi projetado ao ar livre e permitiu que 25 mil pessoas simultaneamente observassem a projeção de imagens em movimento numa tela gigante. O cinema teve esta característica de ser uma arte voltada para as multidões que formavam fila para assistir aos filmes. A criação desta técnica levou a criação de padrões culturais que se difundiram pelo planeta como é o caso do cinema de Hollywood que traz engajado perspectivas de difusão do modo de vida norte-americano. O cinema é um espaço fundamental para entender práticas sociais, políticas e culturais.  

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