Praça Barão de São José do Norte e o chafariz francês por volta de 1980. Neste local, ocorriam as execuções por enforcamento. Acervo: IBGE. |
No dia 5 de março de 1850 a cidade do Rio Grande assistia pela oitiva vez a execução de um condenado, um escravo de nome Porfírio que tentara assassinar o seu proprietário de apelido Felipe Galego dono de uma taverna à rua dos Cômoros (atual Silva Paes) esquina com a rua do Castro (Duque de Caxias). Os condenados eram recolhidos à cadeia, local ‘imundo e promíscuo’, que se localizava no Beco do Corpo da Guarda ou Beco da Cadeia (Zalony) quase esquina com a rua da Praia (Marechal Floriano). O jornal Diário do Rio Grande deste dia informava: “Hoje às 11 horas da manhã vai ser executado o preto Porfírio, que tentou assassinar seu senhor. A forca está armada no Largo do Moinho”. O Largo do Moinho é a praça Barão de São José do Norte que nesta época encontrava-se cercada de madeira e que perdeu o nome de Largo do Moinho passando a denominar-se de Praça da Caridade após o início da construção do edifício do Hospital em 3 de fevereiro de 1850. A presença da forca, neste local, representando o poder judiciário em seu momento capital, reforça a possibilidade de que nesta praça situava-se o pelourinho (símbolo do poder judiciário luso-brasileiro onde eram publicadas as normas legais e aplicação de castigos, inclusive açoites em escravos). Num mapa da década de 1770, o pelourinho está representado nas proximidades desta área. Ressalte-se que a praça foi fragmentada em duas partes para possibilitar o escoamento do trânsito para a rua Aquidaban (na planta urbana de 1904 a Praça está integral já na planta de 1942, ela já fora dividida).
O ritual
saindo da cadeia às onze horas da manhã, seguia pela Marechal Floriano até a
praça do enforcamento, aguardando o sino da Igreja Matriz de São Pedro soar às
doze badaladas para a execução. No dia 9 de março o jornal O Riograndense
publicou uma matéria de cunho literário sobre o enforcamento do escravo: “Já a
praça em frente à cadeia estava apinhada de povo... já a Misericórdia com seu
estandarte havia chegado e o capelão. Quando o bronze apontava onze horas e o
padecente acabava de ser confortado pelo sacerdote, seu único consolador. Todas
as autoridades competentes estavam presentes; tudo estava disposto para o
cumprimento da lei, quando o préstito seguiu, sua marcha fúnebre e medonha.
Adiante, via-se a lúgubre campa dos finados! Após, o estandarte da Misericórdia
que os guiava... ao depois o réprobo e o carrasco, que lhe apontava o caminho
da Eternidade... seguido da justiça que apregoava seus crimes e sua sentença de
morte..., e do sacerdote que o animava com o perdão de Deus, para todos os seus
pecados! Após, todo este hórrido espetáculo, ia o povo!... o povo!... Daí a
pouco confrontaram com a Igreja de S. Francisco onde pararam e teve o padecente
de ouvir parte da missa como é de lei; finda esta cerimônia seguiram seu
destino! Pouca faltava então para o meio dia, quando o desgraçado teve de ver
em sua frente o elevado cadafalso que prestes lhe havia dar desesperadora e afrontosa
morte! E o carro fúnebre que também o aguardava, para conduzir seu cadáver a
sepultura!... Com efeito, o momento fatal era chegado! Daí a pouco acabava de
soar na torre da Matriz a décima segunda hora, quando o padecente já semimorto,
deu seu último arranco de vida... Estava punido o crime... e satisfeita à lei!
Queira Deus que todos aqueles que foram testemunhas de tal espetáculo, o tenham
sempre em memória e saibam desviarem-se da carreira dos crimes e
perversidades... amando a seu próximo como a si mesmo e respeitando a Deus e a
lei, como lhes cumpre”.
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