Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 12 de novembro de 2019

ENFORCAMENTO EM RIO GRANDE

Praça Barão de São José do Norte e o chafariz francês por volta de 1980. Neste local, ocorriam as execuções por enforcamento. Acervo: IBGE.

        
No dia 5 de março de 1850 a cidade do Rio Grande assistia pela oitiva vez a execução de um condenado, um escravo de nome Porfírio que tentara assassinar o seu proprietário de apelido Felipe Galego dono de uma taverna à rua dos Cômoros (atual Silva Paes) esquina com a rua do Castro (Duque de Caxias). Os condenados eram recolhidos à cadeia, local ‘imundo e promíscuo’, que se localizava no Beco do Corpo da Guarda ou Beco da Cadeia (Zalony) quase esquina com a rua da Praia (Marechal Floriano). O jornal Diário do Rio Grande deste dia informava: “Hoje às 11 horas da manhã vai ser executado o preto Porfírio, que tentou assassinar seu senhor. A forca está armada no Largo do Moinho”. O Largo do Moinho é a praça Barão de São José do Norte que nesta época encontrava-se cercada de madeira e que perdeu o nome de Largo do Moinho passando a denominar-se de Praça da Caridade após o início da construção do edifício do Hospital em 3 de fevereiro de 1850. A presença da forca, neste local, representando o poder judiciário em seu momento capital, reforça a possibilidade de que nesta praça situava-se o pelourinho (símbolo do poder judiciário luso-brasileiro onde eram publicadas as normas legais e aplicação de castigos, inclusive açoites em escravos). Num mapa da década de 1770, o pelourinho está representado nas proximidades desta área. Ressalte-se que a praça foi fragmentada em duas partes para possibilitar o escoamento do trânsito para a rua Aquidaban (na planta urbana de 1904 a Praça está integral já na planta de 1942, ela já fora dividida).
O ritual saindo da cadeia às onze horas da manhã, seguia pela Marechal Floriano até a praça do enforcamento, aguardando o sino da Igreja Matriz de São Pedro soar às doze badaladas para a execução. No dia 9 de março o jornal O Riograndense publicou uma matéria de cunho literário sobre o enforcamento do escravo: “Já a praça em frente à cadeia estava apinhada de povo... já a Misericórdia com seu estandarte havia chegado e o capelão. Quando o bronze apontava onze horas e o padecente acabava de ser confortado pelo sacerdote, seu único consolador. Todas as autoridades competentes estavam presentes; tudo estava disposto para o cumprimento da lei, quando o préstito seguiu, sua marcha fúnebre e medonha. Adiante, via-se a lúgubre campa dos finados! Após, o estandarte da Misericórdia que os guiava... ao depois o réprobo e o carrasco, que lhe apontava o caminho da Eternidade... seguido da justiça que apregoava seus crimes e sua sentença de morte..., e do sacerdote que o animava com o perdão de Deus, para todos os seus pecados! Após, todo este hórrido espetáculo, ia o povo!... o povo!... Daí a pouco confrontaram com a Igreja de S. Francisco onde pararam e teve o padecente de ouvir parte da missa como é de lei; finda esta cerimônia seguiram seu destino! Pouca faltava então para o meio dia, quando o desgraçado teve de ver em sua frente o elevado cadafalso que prestes lhe havia dar desesperadora e afrontosa morte! E o carro fúnebre que também o aguardava, para conduzir seu cadáver a sepultura!... Com efeito, o momento fatal era chegado! Daí a pouco acabava de soar na torre da Matriz a décima segunda hora, quando o padecente já semimorto, deu seu último arranco de vida... Estava punido o crime... e satisfeita à lei! Queira Deus que todos aqueles que foram testemunhas de tal espetáculo, o tenham sempre em memória e saibam desviarem-se da carreira dos crimes e perversidades... amando a seu próximo como a si mesmo e respeitando a Deus e a lei, como lhes cumpre”.

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