Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

domingo, 20 de outubro de 2019

RIO GRANDE: INDÚSTRIAS EM 1911

Indústria Rheingantz/União Fabril na década de 1940. Acervo: papareia. 


          Reginald Lloyd foi responsável pela direção da obra Impressões do Brasil no século vinte: sua história, seu povo, comércio, indústrias e recursos. Londres: Lloyds Greater Britain Publishing Company Ltd, 1913. Neste livro de mais de mil páginas foi feito um levantamento da história e atividades produtivas realizadas no Brasil até o ano de 1911.  A cidade do Rio Grande foi destacada em relação ao seu papel portuário e as atividades comerciais e industriais que estavam ocorrendo.
         O perfil de algumas indústrias locais foi traçado nesta obra e será reproduzido o conteúdo relativo a Leal Santos & Cia, União Fabril e Poock.

Leal Santos & cia. Esta firma, fundada em Lisboa em 1881, abriu uma fábrica no Brasil em 1889, iniciando os seus negócios na cidade do Rio Grande. Em 1911 foi aberta uma sucursal em Pelotas. Os fundadores foram os srs. Francisco M. Leal Pancada, José Antonio J. Santos e o Dr. Moysés Marcondes. O capital da firma é Rs 2.200:000$000. As fábricas da empresa manufaturam toda a sorte de biscoitos considerados absolutamente iguais, como qualidade, aos produtos similares europeus, apenas modificados de acordo com os gostos do país. A produção anual vai a mais de 800.000 quilos. A fábrica de conservas faz também largo negócio, produzindo anualmente 2.000.000 de latas de conservas de toda a sorte: legumes, peixe, carne, caça, frutas etc. Tem também a empresa uma fábrica no Rio de Janeiro, cuja especialidade é a fabricação do chocolate. A firma vende os seus produtos por todo o Brasil, para o que mantém 15 viajantes, espalhados pelos Estados. Há 600 operários trabalhando nas fábricas de Pelotas, Rio Grande e Rio de Janeiro. A casa de Lisboa produz sardinhas em latas, para as sucursais do Brasil e também exporta para os países da Europa. Os principais artigos de importação consistem em folha de Flandres para manufatura das latas, chumbo, estanho e borracha em fio. O maquinismo compreendendo três caldeiras e dois motores de 120 cavalos é de manufatura alemã, dos conhecidos fabricantes Woolf. Há também grande número de maquinas operadoras, para os diversos serviços. A fábrica tem instalação elétrica própria, cuja força é obtida por motores a vapor. Todas as máquinas usadas para a fabricação de biscoitos são de manufatura inglesa e dos tipos mais modernos. A empresa possui uma moderna oficina de litografia e gravura, cujos produtos são usados na fábrica. Os atuais sócios da firma são os srs. Henrique e Leonel Marques Leal Pancada, J. Amaro de Carvalho e Hyppólito dos Santos. O sr. Henrique Marques leal Pancada, nasceu em 1874, em Portugal, onde foi educado, estudando também na Inglaterra; e fez a sua educação comercial naqueles dois países. Veio para o Rio Grande em 1895 e tomou conta da gerência da sucursal da firma nessa cidade. Tem desempenhado cargos importantes na Praça do Comércio e faz parte dos principais clubs locais. O sr. Leonel Marques Leal Pancada, também nascido  em Portugal, em 1876, fez a sua educação e aprendizagem comercial naquele país. Veio para o Brasil em 1897, ocupando-se dos interesses sociais da firma: é membro dos principais clubs. O sr. J. Amaro de Carvalho nasceu em Portugal em 1872 e veio para o Brasil em 1888; casou-se com uma filha do fundador da casa e entrou depois, como sócio, para a firma. É também membro dos principais clubs. O sr. Hypólito dos Santos nasceu no Brasil em 1882. Foi educado na Inglaterra e regressou ao seu país em 1906. Os dois primeiros sócios gerentes da firma foram condecorados pelo Governo de Portugal com as comendas do Mérito Industrial.

Companhia União Fabril. A firma Rheingantz & Vater foi estabelecida em 1874 pelo sr. Carlos Guilherme Rheingantz, hoje falecido, de sociedade com o sr. Vater. Em 1875 passou a ser Rheingantz & Cia, retirando-se o sr. Vater, e em janeiro de 1884 foi transformada em Sociedade Comanditária em ações Rheingantz & Cia, que, finalmente, em 1890 foi convertida em uma sociedade anônima, com o título de Companhia União Fabril, que ainda conserva. A empresa manufatura lãs e tecidos de algodão, exportando para todo o Brasil. Tão avultado é o número de encomendas que recebe, que dificilmente pode atender a todas. O número de operários que trabalham na fábrica é de 1.200, aos quais foram pagos, em 1910, Rs.1.092:370$000 de salários. A produção anual da fábrica vai a 900.000 quilos de tecidos de lã de toda a sorte, 350.000 quilos de tecidos de algodão diversos e 700.000 quilos de aniagens para sacaria. O capital da Companhia é de Rs.3.500:000$000 com um fundo de reserva de Rs.1.500:000$000. O dividendo distribuído em 1910 foi de Rs.630:000$000. A Companhia tem, para uso dos seus operários, 120 casas e está construindo uma creche e um Club destinados aos mesmos operários. Além disso, existem, para auxílio dos empregados da Companhia, um fundo de Auxílios, um Armazém Cooperativo, uma Sociedade de Mutualidade e outra de Amparo Mútuo. O fundador da empresa, o falecido Comendador Carlos G. Rheingantz, nasceu em Pelotas e foi educado no Rio Grande e na Alemanha. Voltando ao Rio Grande, esteve empregado no comércio durante alguns anos. Em 1874, por ocasião da fundação da empresa, contribuiu pecuniariamente para se melhorarem as condições das classes operárias. Foi membro da Câmara Municipal no tempo da Monarquia e continuou a sê-lo, mais tarde, no período republicano. Muito considerado na cidade, de que foi um benemérito, era condecorado pelo Imperador D. Pedro II com a Ordem da Rosa, por serviços prestados a Indústria. Era filho de Jacob Rheingantz, fundador da próspera colônia de São Lourenço. Desde o falecimento do Comendador Carlos Rheingantz, está à direção da empresa entregue a cargo de seu filho, Sr. Eduardo Rheingantz.

Poock. Esta fábrica de charutos havaneses e nacionais foi fundada em 1891, na cidade de Rio Grande, pelo Sr. Gustavo Poock, ao qual exclusivamente pertenceu durante longo tempo. Atualmente, trata-se da transformação da firma em Companhia de Charutos Poock, sucessora de Poock & Cia, continuando, porém, o mesmo pessoal administrativo, técnico e comercial. Esta transformação é apenas a conseqüência da elevação do capital da Empresa a Rs. 1.500:000$000. Continua como principal administrador o sr. Gustavo Poock Sênior, auxiliado por novos diretores, membros do alto comércio e indústria, e por gerentes preparados no ramo, entre os quais o sr. Gustavo A. Poock Filho. Os produtos desta fábrica, uma das mias importantes do país, são conhecidos por todos os Estados da União e justamente apreciados; as suas marcas constituem um atestado de excelência. As recompensas obtidas por esta empresa nas Exposições em que os seus produtos tem figurado, são em grande número e incluem grandes prêmios e medalhas de ouro nos Estados Unidos, no Rio de Janeiro etc. Os srs. Poock & Cia tem uma sucursal na Bahia denominada Seção Bahiana, que fabrica charutos especiais com fumo daquele Estado. O único gerente que a fabrica tem tido, desde o seu início, é o sr. Poock que, como já se disse, foi o seu iniciador, há 20 anos. O sr. Gustavo Poock nasceu em Hamburgo, onde foi educado. Entrou a praticar na fábrica de charutos havaneses de seu pai sr. Ed. Poock, falecido em 1876. O sr. Gustavo Poock Sênior exerceu as funções de Cônsul alemão durante 14 anos, sendo nomeado em 1897, em caráter efetivo para esse cargo que exerceu até 1903. Nesse ano foi substituído a seu pedido. Também exerceu as funções de Cônsul austríaco, por mais de uma vez. O sr. Poock goza da geral consideração e estima. É presidente de muitas sociedades, clubs, escolas etc, na cidade de Rio Grande e nas colônias. Escreveu muitos artigos e brochuras que lhe tem valido o aplauso geral; e durante a sua recente visita a Europa tomou parte em um Congresso realizado na Áustria, onde se fez notar num debate sobre a aplicação de ar congelado no preparo do fumo, etc. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário