Depósito da Swift. |
Mulheres no setor de funilaria da Swift. |
Na República Velha
(1889-1930), Rio Grande teve um papel importante nos quadros da
industrialização gaúcha. Localidade que sediou a primeira grande indústria do
Rio Grande do Sul, a Rheingantz, e manteve um patamar elevado de empregos em
suas fábricas têxtil, de conservas alimentícias, carne frigorificada entre
outras. A presença feminina neste proletariado é um item relevante num período
conservador em que o espaço da mulher é o da casa e não o da rua. Neste
sentido, o espaço aberto às mulheres nas atividades industriais antecipou em
quase um século o quadro atual em que as mulheres dividem o mercado de trabalho
com os homens. Foi pesquisado o ano de 1918 como referencial para o
levantamento dos dados a seguir.
O
MUNDO DO TRABALHO
O ano de 1918 foi
marcado por movimento grevista que frequentemente buscava melhores condições de
trabalho, de salário ou repúdio as atitudes arbitrárias de mestres. Em junho
deste ano ocorre uma greve no Frigorífico Swift. Nos primeiros dias de outubro
inicia uma greve na Companhia Francesa entre trabalhadores de carga e descarga
de armazéns. A participação ocorreu com trabalhadores do setor de serviços,
operários de construção civil de várias obras, operários de estaleiros, estivadores,
funcionários ligados ao fornecimento de energia elétrica, carroceiros e
operários navais num total de 1.100 trabalhadores. “A repressão foi violenta,
com as sedes de entidades invadidas ou sendo vigiadas pela Brigada, indústrias
trabalhando com garantia da polícia, bem como patrulhas policiais no porto e
nos armazéns, além de intensa campanha contra os operários e suas idéias, ditas
subversivas”.[1]
A maior parte do operariado industrial estava concentrada em algumas empresas
de grande e médio porte, apesar de existir dezenas de outras de pequeno porte
que empregavam entre 40 e somente três operários. Estavam instaladas na cidade
fábricas de tecidos, conservas alimentícias e biscoitos, charutos e fumos,
calçados e alpargatas, cerveja e gasosa, frigorífico, além de inúmeros
estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços. Na tabela abaixo é
possível observar as maiores empresas do período:
Estatística
das fábricas existentes no município em março de 1918*
Nome da Fábrica
|
Localização
|
Produtos
|
Pessoal empregado
|
Produção Anual
|
Mercado
|
Companhia União Fabril
(sucessora da Rheingantz)
|
Rua Rheingantz
|
Algodões, lãs, cobertores e ponchos
|
983
|
Lã 4.000kg diariamente; algodão 336.000kg anualmente
|
Brasil e Montevidéu
|
Companhia de Tecelagem Ítalo-Brasileira
|
Senador Correa n°1
|
Tecidos de algodão branco, tinto e cru
|
600
|
|
Brasil
|
Leal Santos & C.
|
Ruas Gen. Portinho n°1 e Aquidaban n°44
|
Biscoitos e conservas
|
300
|
1.500.000 latas de conservas, 300.000kg de biscoitos
|
RS, Norte do Brasil e Inglaterra (carnes)
|
Charutos Poock
|
Senador Correa n°51
|
Charutos finos e entrefinos
|
150
|
5.000.000 charutos por ano
|
Brasil, Argentina, Uruguai e Chile
|
Llopart, Mata & Cia
|
Boulevard 14 de Julho
|
Alpargatas e calçados
|
150
|
300.000 pares
|
RS e outros estados brasileiros
|
Companhia Swift
|
Porto Novo
|
Carnes e conservas
|
2.000
|
Somente entrou em funcionamento em setembro deste ano
|
Europa e Estados Unidos
|
Sociedade Comercial e Industrial Rio-Grandense
|
Boulevard 14 de Julho
|
Conservas
|
130
|
|
Brasil e Europa
|
Para um período tão recuado no tempo em que o
espaço da rua no Brasil ainda é
majoritário para os homens, em
Rio Grande enquanto cidade em expansão industrial,
constata-se uma significativa presença do gênero feminino na classe operária. A
indústria de tecelagem é o grande fator desta significativa participação. Os
dados para o ano de 1919 trazem os seguintes indicadores: na Companhia União
Fabril havia 1.024 operários sendo 370 homens e 71 meninos (idade entre 12 a 70 anos) e 444 mulheres e
139 meninas com idade entre 12
a 60 anos; Fábrica de Tecelagem Ítalo-Brasileira com 600
operários sendo 150 homens (entre 20
a 50 anos) e 450 mulheres entre 15 a 40 anos (salários diários
em média dos homens 6$500 e das mulheres 5$000); Companhia Swift do Brasil com
944 operários sendo 896 homens (27 anos em média) e 48 mulheres (22 anos em
média); Leal Santos & C. havia 300 operários sendo 200 homens (de 20 a 40 anos) e 100 mulheres
(de 18 a
30 anos) com salários diários médios para homens de 6$000 e para mulheres
1$400; Companhia de Charutos Poock empregando 200 operários sendo 60 homens e
140 mulheres com salários diários entre 3$000 e 15$000; Llopart & C.
empregando 120 operários sendo 65 homens (entre 12 a 50 anos) e 55 mulheres
(entre 12 a
50 anos).
Os
dados esclarecem a representativa presença feminina no operariado local, o
salário inferior aos homens por elas recebido e também a presença sistemática
de meninos e meninas a partir dos 12 anos de idade nas atividades industriais. Nas
fotografias tiradas em Rio
Grande entre 1919-1920, se observa operárias da Companhia
Swift nos setores de empacotamento e de funilaria.
[1]
LONER, Beatriz Ana. O movimento operário na cidade de Rio Grande na República
Velha. In: ALVES, Francisco das Neves (Org.). O Mundo do Trabalho na Cidade
do Rio Grande. Rio Grande: FURG, 2001, p. 37.
*
Outras fábricas são citadas com um número inferior a cem trabalhadores. São
fábricas de caixas de madeira, de sabão, de massas, de cervejas e gasosas,
bebidas e vinagre, vassouras, fumo e café, licores, louças de barro, botões e
tijoletas. In: Relatório do capitão dr. Alfredo Soares Nascimento. Rio
Grande: Oficinas do Rio Grande, 1918.
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