Catraia na Barra do Rio Grande em 1847. Atalaia à direita. |
Vento pampeiro (1824). Jean Debret. |
Se
considerarmos o período de 1839 até 1889, ou seja, ao longo de meio século, 250
pessoas perderam a vida nestes naufrágios. Em relação a procedência das embarcações,
predominou o sal, com vinte e cinco navios perdidos, dos quais onze do porto
espanhol de Cadiz, seguido do carvão de pedra, com quinze navios, açúcar em dez
e vinho em cinco navios afundados”.[2]
A intensa
movimentação marítima com portos brasileiros, com o Uruguai, Argentina, Chile e
Estados Unidos, além de portos europeus na Inglaterra, Portugal, Espanha,
França, Itália, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Noruega, Áustria e
Alemanha, exigiam um cuidado redobrado no acesso a Barra do Rio Grande. Neste
sentido, “o serviço da Praticagem da Barra, na maior parte do período,
demonstrou eficiência como aparece nos artigos dos jornais, quando
sobreviventes dos sinistros agradecem as autoridades, elogiando a atuação dos
práticos e seus ajudantes”.[3]
A relação a
seguir exemplifica alguns dos naufrágios ocorridos na Barra do Rio Grande:
15 de janeiro de 1832: bergantim nacional Flor do Brasil, procedente de Santa
Catarina, 11 dias de viagem, carregamento de sal, arroz e melado, encalhou e
naufragou no banco. Mestre Jacinto de Sousa Nunes. Salvou-se a tripulação.
23 de outubro de 1832: bergantim inglês Northumberland procedente do Rio de
Janeiro, 11 dias de viagem, lastro areia, naufragou no cabeço sudoeste da
barra. Mestre Turner William. Salvou-se a tripulação.
05 de setembro de 1835: patacho português Angélica, procedente do Porto, 74 dias
de viagem, carregamento sal. Mestre Antonio Gomes da Silva. Salvou-se a
tripulação.
03 de
outubro de 1839: naufragou uma catraia, perdendo a vida oito tripulantes. A
catraia estava conduzindo o barco a vapor Paquetá
do Norte, que transportava 130 praças de infantaria para Santa Catarina.
13 de setembro de 1843: brigue sardo São José, procedente de Montevidéu
conduzindo quarenta e sete passageiros e treze tripulantes, naufragou
juntamente com o brigue nacional Prazeres
de Pelotas, em conseqüência de um forte temporal. Perderam a vida vinte e
sete pessoas.
27 de setembro de 1851: escuna inglesa Elisa Francis, ao sair da barra,
naufragou no banco do sul. Salvou-se a tripulação. Parte do carregamento foi
salvo e leiloado: 4345 couros salgados e de novilhos, 3391 couros cavalares,
13142 chifres e 6 toneladas de unhas de boi.
22 de abril de 1855: patacho nacional Santa Cruz, com 19 dias de viagem,
procedente de Pernambuco, carregamento açúcar, consigando a Thomas Aquino
Ribeiro. Salvou-se a tripulação.
01 de fevereiro de 1857: brigue nacional Encantador, carregamento de charque,
saindo do Porto do Rio Grande, bateu no banco naufragando frente a São José do
Norte.
02 de maio de 1857: patacho holandês Erato, procedente de Liverpool,
carregamento carvão de pedra, investiu a barra e naufragou. Salvou-se a
tripulação.
03 de novembro de 1858: patacho nacional Philintho, procedente do Rio de Janeiro,
carregamento diversas mercadorias. Encalhou no Lagamar, começou a desmanchar-se
após um tufão, morrendo quatorze pessoas: doze tripulantes e dois passageiros.
27 de junho de 1875: a Presidência da
Província, considerando que o vapor Gomos,
encalhado na barra, ocasionou o naufrágio dos navios também ingleses Gerent e Ada, ordenou que os restos do Gomos
fossem imediatamente destruídos.
03 de julho de 1879: brigue alemão Henriette, carregamento de trilhos de
ferro, consignados ao engenheiro da estrada de ferro do norte desta província,
encalhou e afundou no cabeço SE da barra. Salvou-se a tripulação.
09 de julho de 1882: brigue alemão Ida e o patacho alemão Tiger, procedentes de Hamburgo,
carregamento de vários gêneros, consignados a Warneck & Dorken, encalharam
e foram ao fundo posteriormente. Salvaram-se as tripulações.
19 de janeiro de 1868: escuna prussiana Eitea, procedente de Hamburgo,
carregamento carvão de pedra, consignado a Rannirger & Titzk e ainda 55
colonos. Encalhou e posteriormente foi ao fundo, légua e meia ao sul da barra.
Salvaram-se os tripulantes e os colonos.
11 de julho de 1887: vapor nacional Rio Apa, procedente do Rio de Janeiro
com destino a Corumbá. Teria sido a quarta vítima do temporal do ‘Carpinteiro
da Praia’ pois outras três embarcações naufragaram neste dia. No Rio Apa
morreram 112 pessoas, na tragédia de maior perda humana da história da Barra do
Rio Grande.
[1] NEVES,
Hugo. A insegurança e os naufrágios na Barra do Rio Grande (1822-1889). In:
ALVES, Francisco das Neves. Náufragos e Naufrágios no Litoral do Rio Grande.
Rio Grande: FURG, 2001, p.28.
[2] NEVES,
Hugo. Naufrágios no litoral sul-rio-grandense (1822-1889) In: ALVES, Francisco
das Neves. Náufragos e Naufrágios no Litoral do Rio Grande. Rio Grande: FURG,
2001, p.75.
[3] NEVES,
Hugo. A insegurança e os naufrágios na Barra do Rio Grande (1822-1889). In:
ALVES, Francisco das Neves. Náufragos e Naufrágios no Litoral do Rio Grande.
Rio Grande: FURG, 2001, p.53.
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