Rua Marechal Floriano por volta de 1865-1870, tendo ao fundo o casarão do Rasgado. Acervo: Biblioteca Rio-grandense. |
No ano de 1859 o jornal Diário do Rio Grande informava aos
leitores sobre os acontecimentos da cidade e região. Problemas urbanos,
salteadores da fronteira, a importância da vinda de imigrantes, o baixo calado
do porto do Rio Grande, as praticas religiosas na Igreja do Carmo, leilão de
livros, entradas e saídas na cadeia e tentativa de envenamento fazia parte do
noticiário. Alguns temas já são superados mas outros continuam com nova
roupagem mesmo passados cento e cinqüenta anos.
A primeira
igreja do Carmo foi inaugurada em 1809. A atual igreja do Carmo foi inaugurada em
1939. A
importância da irmandade do Carmo está explícita nesta matéria: “Há cinco dias
que a venerável ordem de N.S. do Carmo, celebra em sua igreja as novenas de seu
orago. A devoção que tem a mãe de Deus, sob esta invocação é tanta na nossa
população que os fiéis a porfia abandonavam seu afazeres, para irem em coro
dirigir suas plegarias a Santíssima Virgem, motivo este que assistem as novenas
uma numerosa concorrência. A festividade terá lugar infalivelmente no sábado,
16 do corrente, com toda a pompa devida, esperamos que terá todo o lusimento e
esplendor desejado, a vista dos preparativos que se fazem para aquele dia” (12
de julho de 1859).
O quadro de
D. Pedro II: “Desde o dia 22 do mês findo acha-se na alfândega desta cidade o
retrato de S.M. o Imperador Sr. D. Pedro II, feito e oferecido pela muito digna
esposa do sr. Assis Zuniga, tesoureiro da mesma Alfândega. Tínhamos apreciado
varias obras da distinta brasileira, porém nenhuma tão perfeita e bem acabada
como este retrato fielmente copiado do que existe na imperial sociedade Instrução
e Recreio” (3 de julho).
Bandoleiros
promoviam ataques às estâncias ou viajantes na fronteira com o Uruguai: “Cartas
de Santa Vitória de 23 do mês findo, dizem que uma partida composta de 18
salteadores orientaes, munidos de 4 grandes canoas e bem armados, vagavam em
Sebolaty no propósito de roubarem os hiates que navegarem naquela direção e de
saquearem a povoação” (5 de julho).
Linguagem
sutil para tratar do péssimo estado de uma rua: “O imundo lodaçal que existe na
rua da Praia, em frente à propriedade da viúva do falecido comendador José de
Souza Gomes, requer prontos socorros dos senhores fiscais da municipalidade. O
continuo transito das carroças tem transformado aquele lugar num completo
chiqueiro. E temos mesmo, que em todo o Rio Grande na o existe atualmente um
charco tão nojento e fedorento!” (6 de julho).
Em defesa da
vinda de imigrantes: “A província de S. Pedro do Sul, é uma das mais férteis do
Império e é tão aparente para a criação de gado como para a lavoura, banhada de
lindo e caudalosos rio, que deságuam nas lagoas dos Patos e Mirim que facilitam
ao comércio livres comunicações. Esta parte do Brasil tão favorecida pela
natureza, não tem a população necessária devida ao pouco zelo de nosso governo.
A província pode conter de sete a oito milhões de habitantes oferecendo-lhe um
brilhante porvir, e apenas conta de trezentos a quatrocentos [mil]. Não há que
temer que o excesso de povoação leve os operários a miséria, pois quantos mais
trabalhadores hajam, mais a terra produzirá porque é mais fértil no seu gênero
do que a espécie humana. (...) Nesta convicção é que chamamos para nossa bela
província de S. Pedro do Sul a todos os homens laboriosos que queiram deixar um
patrimônio a sua família” (6 de julho).
Dragagem e
limpeza do Porto do Rio Grande: “Alguns sinistros acontecidos nas embarcações
que tentaram entrar no estreito canal do porto do Sul, já mostraram a
necessidade que há de uma continua máquina de escavação em exercício, e o
desentulhamento e limpeza do canal. Defronte do edifício do mercado jazem a
pique dois navios que há longos anos obstruem a livre navegação dos navios
nacionais que se dirigem ao ancoradouro de carga, os quais sendo de ali
removidos, franqueariam a passagem tão necessária naquele lugar. (...) O porto
do Rio Grande do Sul, bem atendido, limpo e aprofundado podia ser um excelente
e seguro porto. Porém o pouco zelo por parte do governo priva a navegação deste
recurso; pois que o porto com o continuado abandono, ajudado do lixo que em
suas águas é arrojado quotidianamente vai-se atulhando de dia em dia, tornando
se assim navegável tão somente a navios de pouco calado; tendo que ir os que
calem 15 ou mais palmos, ao posto de S. José do norte, donde estão expostos ao
furor do tempo, transportando com muito custo suas cargas a esta cidade, o que
muitas vezes ocasiona graves prejuízos” (7 de julho).
Numa época
em que o analfabetismo era elevadíssimo e os livros eram muito caros, a sua
disponibilidade era motivo para promover um leilão: “Grande exposição
científica. Aviso importante aos amantes da literatura. Na antiga Livraria
Universal a rua da Praia n.43 hoje pertencente ao sr. José Filippini, serão
expostos à pública concorrência grande número de excelentes obras científicas,
romances, história de todas as nações, dita universal, dramas, poesias,
tratados, jornais de literatura, dicionários de diversos, regras de arquitetura
mitologia, instruções militares, códigos, biblioteca, tratados diversos,
coleção de leis, excelentes, obras dos melhores autores conhecidos e que melhor
se poderá examinar no Grande Catálogo que será distribuído em tempo competente
nesta cidade. 12 de julho de 1859, p. 3.
Entradas e
saídas da cadeia municipal: “Repartição da polícia. Dia 8. Delegacia. Foram
recolhidos a cadeia o alemão Androve Riel por andar vagando fora de horas, o
preto João do coronel Espindola por furto, e Fabião escravo da Santa Casa por
desobediência. Foram soltos o marinheiro Manoel José de Queiroz, os escravos
Turíbio do Dr. João José da Rocha e João do coronel Espindola” (9 de julho).
Tentativa de
envenenamento: “O sr. Antonio Moreira da Silva, imediato do vapor Marques de
Caxias, ia sendo ontem vítima de um envenenamento. Descoberto os primeiros
sintomas, foram chamados três facultativos, e declararam que a água de que
faziam uso em casa parecia envenenada. O sr. Moreira, sua senhora, uma filha
menor e uma crioulinha de 10 anos que foram os atacados, acham-se fora de
perigo. O sr. dr. delegado de polícia para logo tomou conhecimento do fato,
fazendo examinar a água, e prendeu o pardo Luiz, escravo de Anacleto Medina, em
quem recaem suspeitas por ter sido o aguadeiro e ter instado com a dona da casa
para a que tomasse” (6 de julho).
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