Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 19 de outubro de 2019

RIO GRANDE HÁ 160 ANOS

Rua Marechal Floriano por volta de 1865-1870, tendo ao fundo o casarão do Rasgado.
Acervo: Biblioteca Rio-grandense.

         No ano de 1859 o jornal Diário do Rio Grande informava aos leitores sobre os acontecimentos da cidade e região. Problemas urbanos, salteadores da fronteira, a importância da vinda de imigrantes, o baixo calado do porto do Rio Grande, as praticas religiosas na Igreja do Carmo, leilão de livros, entradas e saídas na cadeia e tentativa de envenamento fazia parte do noticiário. Alguns temas já são superados mas outros continuam com nova roupagem mesmo passados cento e cinqüenta anos.

A primeira igreja do Carmo foi inaugurada em 1809. A atual igreja do Carmo foi inaugurada em 1939. A importância da irmandade do Carmo está explícita nesta matéria: “Há cinco dias que a venerável ordem de N.S. do Carmo, celebra em sua igreja as novenas de seu orago. A devoção que tem a mãe de Deus, sob esta invocação é tanta na nossa população que os fiéis a porfia abandonavam seu afazeres, para irem em coro dirigir suas plegarias a Santíssima Virgem, motivo este que assistem as novenas uma numerosa concorrência. A festividade terá lugar infalivelmente no sábado, 16 do corrente, com toda a pompa devida, esperamos que terá todo o lusimento e esplendor desejado, a vista dos preparativos que se fazem para aquele dia” (12 de julho de 1859).

O quadro de D. Pedro II: “Desde o dia 22 do mês findo acha-se na alfândega desta cidade o retrato de S.M. o Imperador Sr. D. Pedro II, feito e oferecido pela muito digna esposa do sr. Assis Zuniga, tesoureiro da mesma Alfândega. Tínhamos apreciado varias obras da distinta brasileira, porém nenhuma tão perfeita e bem acabada como este retrato fielmente copiado do que existe na imperial sociedade Instrução e Recreio” (3 de julho).

Bandoleiros promoviam ataques às estâncias ou viajantes na fronteira com o Uruguai: “Cartas de Santa Vitória de 23 do mês findo, dizem que uma partida composta de 18 salteadores orientaes, munidos de 4 grandes canoas e bem armados, vagavam em Sebolaty no propósito de roubarem os hiates que navegarem naquela direção e de saquearem a povoação” (5 de julho).

Linguagem sutil para tratar do péssimo estado de uma rua: “O imundo lodaçal que existe na rua da Praia, em frente à propriedade da viúva do falecido comendador José de Souza Gomes, requer prontos socorros dos senhores fiscais da municipalidade. O continuo transito das carroças tem transformado aquele lugar num completo chiqueiro. E temos mesmo, que em todo o Rio Grande na o existe atualmente um charco tão nojento e fedorento!” (6 de julho).

Em defesa da vinda de imigrantes: “A província de S. Pedro do Sul, é uma das mais férteis do Império e é tão aparente para a criação de gado como para a lavoura, banhada de lindo e caudalosos rio, que deságuam nas lagoas dos Patos e Mirim que facilitam ao comércio livres comunicações. Esta parte do Brasil tão favorecida pela natureza, não tem a população necessária devida ao pouco zelo de nosso governo. A província pode conter de sete a oito milhões de habitantes oferecendo-lhe um brilhante porvir, e apenas conta de trezentos a quatrocentos [mil]. Não há que temer que o excesso de povoação leve os operários a miséria, pois quantos mais trabalhadores hajam, mais a terra produzirá porque é mais fértil no seu gênero do que a espécie humana. (...) Nesta convicção é que chamamos para nossa bela província de S. Pedro do Sul a todos os homens laboriosos que queiram deixar um patrimônio a sua família” (6 de julho).

Dragagem e limpeza do Porto do Rio Grande: “Alguns sinistros acontecidos nas embarcações que tentaram entrar no estreito canal do porto do Sul, já mostraram a necessidade que há de uma continua máquina de escavação em exercício, e o desentulhamento e limpeza do canal. Defronte do edifício do mercado jazem a pique dois navios que há longos anos obstruem a livre navegação dos navios nacionais que se dirigem ao ancoradouro de carga, os quais sendo de ali removidos, franqueariam a passagem tão necessária naquele lugar. (...) O porto do Rio Grande do Sul, bem atendido, limpo e aprofundado podia ser um excelente e seguro porto. Porém o pouco zelo por parte do governo priva a navegação deste recurso; pois que o porto com o continuado abandono, ajudado do lixo que em suas águas é arrojado quotidianamente vai-se atulhando de dia em dia, tornando se assim navegável tão somente a navios de pouco calado; tendo que ir os que calem 15 ou mais palmos, ao posto de S. José do norte, donde estão expostos ao furor do tempo, transportando com muito custo suas cargas a esta cidade, o que muitas vezes ocasiona graves prejuízos” (7 de julho).

Numa época em que o analfabetismo era elevadíssimo e os livros eram muito caros, a sua disponibilidade era motivo para promover um leilão: “Grande exposição científica. Aviso importante aos amantes da literatura. Na antiga Livraria Universal a rua da Praia n.43 hoje pertencente ao sr. José Filippini, serão expostos à pública concorrência grande número de excelentes obras científicas, romances, história de todas as nações, dita universal, dramas, poesias, tratados, jornais de literatura, dicionários de diversos, regras de arquitetura mitologia, instruções militares, códigos, biblioteca, tratados diversos, coleção de leis, excelentes, obras dos melhores autores conhecidos e que melhor se poderá examinar no Grande Catálogo que será distribuído em tempo competente nesta cidade. 12 de julho de 1859, p. 3.

Entradas e saídas da cadeia municipal: “Repartição da polícia. Dia 8. Delegacia. Foram recolhidos a cadeia o alemão Androve Riel por andar vagando fora de horas, o preto João do coronel Espindola por furto, e Fabião escravo da Santa Casa por desobediência. Foram soltos o marinheiro Manoel José de Queiroz, os escravos Turíbio do Dr. João José da Rocha e João do coronel Espindola” (9 de julho).


Tentativa de envenenamento: “O sr. Antonio Moreira da Silva, imediato do vapor Marques de Caxias, ia sendo ontem vítima de um envenenamento. Descoberto os primeiros sintomas, foram chamados três facultativos, e declararam que a água de que faziam uso em casa parecia envenenada. O sr. Moreira, sua senhora, uma filha menor e uma crioulinha de 10 anos que foram os atacados, acham-se fora de perigo. O sr. dr. delegado de polícia para logo tomou conhecimento do fato, fazendo examinar a água, e prendeu o pardo Luiz, escravo de Anacleto Medina, em quem recaem suspeitas por ter sido o aguadeiro e ter instado com a dona da casa para a que tomasse” (6 de julho).

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