Bandeira dos Estados Confederados. |
Com o final da Guerra Civil Americana (1861-1865) os Estados Confederados estavam arrasados pelo conflito com a União. Neste contexto de decadência econômica e perseguições, milhares de sulistas passaram a buscar o reinício da vida fora dos Estados Unidos. No Brasil, o Imperador D. Pedro II desenvolveu uma política de atração destes colonos para aqui desenvolverem a produção de algodão ou a indústria têxtil. Estima-se que entre quatro mil e até vinte mil confederados teriam migrado para o Brasil. A solidão, o isolamento e a falta de mercado para o algodão, levou a que muitos retornassem aos Estados Unidos. Porém, uma experiência que deu certo está ligada ao coronel e senador do Alabama William Hutchinson Norris que em 1866 comprou terras na região de Campinas. O resultado foi o desenvolvimento de Santa Barbara d’Oeste e o povoamento da atual da cidade de Americana. Propriedades agrícolas passam a ser fundadas por norte-americanos que cultivam e beneficiam o algodão. A primeira indústria têxtil da região, a Fábrica de Tecidos Carioba, foi fundada pelo engenheiro confederado William Pultney Ralston em 1875. Em 1881 surge a primeira escola Metodista
No Rio
Grande do Sul a experiência migratória norte-americana foi completamente
diferente não obtendo resultados satisfatórios, devido a utilizar um modelo
completamente distinto do ocorrido em São Paulo. Relatório
ao governo da Província do Rio Grande do Sul pelo intérprete da colonização
Carlos de Koseritz datado do ano de 1867, faz referência sobre a vinda destes
colonos e os seus resultados. Neste relatório são apontados os fatores que
levaram a não fixação destes colonos no Rio Grande do Sul: “Por conta do
governo geral, chegaram a esta capital nos primeiros seis meses do ano corrente
165 colonos, dos quais serão procedentes dos Estados Unidos 157 e da Alemanha
8. Dos 157 colonos norte-americanos seguiram para Santo Ângelo (atual Agudo) 6
e para Nova Petrópolis 85, e alguns dos quais, porém, nem chegaram ao seu
destino, ficando pelo caminho, e outros muitos se evadiram depois das colônias.
Outros ficaram vagando nesta cidade, outros voltaram para o Rio Grande donde na
maior parte se evadiram para o Estado Oriental. Mais de cem imigrantes
norte-americanos de que não tenho relação, desembarcaram no Rio Grande e daí
seguiram por terra para Montevidéu, considerando o Rio Grande apenas como
escala. Se em geral não tem sido satisfatório o resultado colhido ao Império da
imigração norte-americana, tristes e muito desanimadoras tem sido as
experiências que a província do Rio Grande do Sul tem feito com esses novos
imigrantes, cuja vinda fora anunciada ao país como aurora de uma nova era de
prosperidade e progresso. A imigração norte-americana por sua natureza se
divide em duas classes, a proveniente dos estados do norte, e a precedente dos
portos da extinta confederação escravocrata do Sul. A maior parte dos
imigrantes vindos para o Império e todos que vieram para esta província ao
número de cerca de 300, pertencem à primeira dessas classes, isto é, são
colonos engajados pelo sr. Quintino Bocaiúva, em Nova York. Condeno
absolutamente a imigração procedente dos Estados Unidos (do norte), e 6 meses
que tenho lidado com esses imigrantes me habilitam sem dúvida para formar um
juízo a respeito deles. Os Estados do Norte da União fazem os maiores sacrifícios
para atraírem ao seu país a imigração inglesa e alemã, eles sustentam na
imprensa da Alemanha, órgãos seus, que fazem propaganda, mantém numerosas
agências de imigração em todos os centros mais populosos daquele país, criam
linhas de navegação a vapor e oferecem aos imigrantes as maiores vantagens possíveis
na recepção em Nova York, as acomodações, nos transportes e na venda de terras,
todo com o fim atrair a imigração em larga escala, cujo fim tem sido conseguido
de maneira completa, porque em 40 anos (desde 1820 a 1859) imigraram aos
Estados Unidos nada menos de 6.000.000 de colonos; só nos anos de 1850 a 1857
receberam os referidos estados 3.000.000 de imigrantes, o que é 375.000 por ano
e a própria guerra civil não impediu que em 1863 chegassem somente ao porto de
Nova York 156.843 indivíduos, isto é 130 por dia. Um país que promove a
imigração em tão larga escala e tantos sacrifícios faz para traí-la as suas
praias, não pode mandar-nos imigrantes que prestem”.
Duas
matérias do jornal Diário do Rio Grande
vão ao encontro desta posição: “Chamamos a atenção da polícia para os colonos
norte-americanos que vivem na praça Municipal, a maior parte deles num estado
deplorável de embriaguez, incomodando com exigências impertinentes os
transeuntes” (19 de fevereiro de 1867). “Pelas nove horas da noite de 15 fora
surpreendido o sr. Manuel Pinto da Costa Guimarães, na rua, por quatro ladrões
que lhe roubaram o relógio e a corrente. O sr. Manuel Pinto conheceu que os
larápios eram colonos americanos” (19 de março de 1867).
Carlos de
Koseritz enfatiza sua interpretação do fracasso desta colonização: “Quem
importa de país estrangeiro um certo e determinado gênero, porque há falta dele
no mercado, só tornará a exportar esse mesmo artigo ao caso dele ser de péssima
qualidade. É o que nos tem acontecido com a imigração norte-americana, vinda
pelo porto de Nova York. Poucos norte-americanos tem vindo; entre os 157
colonos norte-americanos que chegaram a esta capital, só houveram 13
norte-americanos natos, todos os mais serão irlandeses, franceses, ingleses, escoceses
e alguns alemães, e fora de dúvida que os Estados Unidos poderão congratular-se
de se verem livres da maior parte dessa gente, que prestaram um iminente
serviço a polícia americana, mudando seu domicílio para o Brasil. Dos homens
solteiros, quase nenhum prestou. Chegando aqui seus vestígios de bagagem, nus e
descalços, apresentava a maior parte deles o aspecto de verdadeiros vagabundos.
Nem por isso, porém, deixavam de ser exigentes, no depósito queriam que o
governo lhes desse roupa e calçado; foi preciso pagar-lhes cozinheiro, porque
não queriam cozinhar sem retribuição; o pão que receberam trocaram nas vendas
por aguardente; as portas, tarimbas e janelas do quartel foram arruinadas e
queimadas. Na viagem até as respectivas colônias fizeram mil distúrbios,
desertando aliás, grande parte deles no caminho. Chegados a colônia piorou o
caso, ao trabalho não se ajeitavam, comido queriam melhor do que a tabela em
vigor para os colonos o permite, a casa de recepção em Nova Petrópolis
queimaram uma estribaria inteira, 40 braças de cerca, as tabuinhas de telhado
de cozinha e as próprias tábuas do forro da casa. Em toda a parte praticaram
roubos e distúrbios as suas exigências não tinham limites. Quando por dúvidas
suscitadas pela repartição fiscal da capital demorou o pagamento de seus
jornais, aí vieram em número de 16 quererem impor condições ao governo
provincial, como V. Ex. sabe, e só com dificuldades se resolveram a voltar para
a colônia; aqui mesmo no depósito da ilha foi preciso prender-se 11 deles que
os próprios companheiros denunciaram como verdadeiros bandidos e salteadores de
estrada (high-waymen). Sabendo
próximas as fronteiras da banda oriental, os tais colonos não tem outra idéia
senão evadirem-se para lá, depois de terem viajado de Nova York até o Rio
Grande a expensas do governo imperial”.
Koseritz
acreditava que os colonos do sul dos Estados Unidos não buscariam o Rio Grande
do Sul para plantarem o algodão devido ao clima temperado não ser favorável a
este cultivo. Os então almejados imigrantes do norte dos Estados Unidos
acabaram não promovendo uma imigração sistemática para a Província do Rio
Grande do Sul.
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