Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 19 de outubro de 2019

CENÁRIOS DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ

Historical map of German colonies at South Brazil (1905). 


          O cenário da imigração alemã para o Rio Grande do Sul até o ano de 1867 foi descrito por Carlos de Koseritz, agente intérprete da colonização, em relatório apresentado ao presidente da Província do Rio Grande do Sul, sr. Francisco Ignácio Marcondes Homem de Mello. O longo relatório analisou o processo imigratório, suas dificuldades e avanços. O lugar da cidade do Rio Grande e da nascente Colônia de São Lourenço está presente no documento.
O ALOJAMENTO NA CIDADE DO RIO GRANDE 
         Conforme Koseritz, “os colonos alemães que tem vindo para o Rio Grande, são na maior parte todos oriundos da Pomerania ou de um pequeno distrito da Prússia-Renana, chamado Hundssuech. Ali de onde vieram os primeiros colonos para o Rio Grande, a nossa província é tão conhecida, como os Estados Unidos o são na maior parte da Alemanha. As terras são vendidas aos colonos com prazo de cinco anos e no mesmo tempo devem eles restituir ao governo o importe dos adiantamentos que recebem, e que se resumem na alimentação nos depósitos do Rio Grande e Porto Alegre, e no transporte do Rio Grande até a colônia”.
         O porto marítimo do Rio Grande é o destino inicial para os imigrantes. Aqui ficavam alojados esperando o deslocamento para as colônias em que seriam fixados. Segundo Koseritz, Rio Grande contava com boas condições para receber os imigrantes, após ter sido superado problemas administrativos ligados ao agente intérprete do Rio Grande, assim descrito por ele: “Por deliberação do Exmo. Sr. Conde da Boa Vista, foi por ato de 11 de abril de 1866, declarado extinto o lugar de agente intérprete  na cidade do Rio Grande, mandando o mesmo ato cessar todas as despesas que se fazia com socorros, transporte e sustento dos colonos recém-chegados. Atendendo as judiciosas considerações que a respeito da inconveniência desta medida fez o meu ilustrado antecessor na direção central das colônias, no seu relatório último, resolveu a Assembléia provincial a continuação destes socorros e restabeleceu o lugar de agente intérprete no Rio Grande (...) Em virtude desta disposição legislativa, V. Ex. dignou-se por ato de 30 de janeiro do corrente ano, nomear o cidadão Joaquim Carlos Miller para o lugar de agente intérprete da colonização no Rio Grande; este empregado, que já anteriormente exercera este cargo, desempenha hoje essas funções com zelo e inteligência, tendo prestado bons serviços por ocasião da repetida vinda de colonos norte-americanos. Em virtude do ato do Exmo. predecessor de V. Ex., ficou também extinta a casa de recepção que no Rio Grande havia para os colonos recém-chegados, sendo vendidos em hasta pública os utensílios da mesma. Restabelecendo o orçamento provincial os socorros aos imigrantes na ocasião da sua chegada, tornou-se preciso a aquisição de uma nova casa de recepção e não havendo armazém algum por baixo preço e nas condições de servir, mandei fazer um contrato com Bussard Constant, proprietário no Rio Grande, o qual se obrigou a mandar construir um barraco com todos os cômodos para acomodação de 200 colonos, num terreno seu, na rua do Canal, obrigando-se a administração colonial a alugar esse barracão durante o prazo de dois anos, mediante o aluguel mensal de 32$000 réis, o que sendo aprovado por V. Ex. foi levado  a efeito, achando-se o agente intérprete no Rio Grande empossado do edifício desde o 1º de maio do corrente ano. Solicitei de V. Ex. autorização para mandar comprar os utensílios necessários para a acomodação dos colonos, como sejam tarimbas, mesas, bancos, telhas, tinas, fogão, panelas, etc, o que tudo foi comprado, estando à casa de recepção no Rio Grande presentemente habilitada, para acomodar de maneira conveniente de 150 a 200 imigrantes. Finalmente mandei contratar o fornecimento de víveres aos colonos pela tabela em vigor nesta capital, a razão de 410rs diários por pessoa adulta e de 200 réis para os menores de 12 anos, de sorte que o serviço tendente à recepção dos recém-chegados, no Rio Grande, se acha hoje completamente organizado e nada deixa a desejar, evitando ao governo a crescida despesa, que até a pouco fazia com a acomodação de colonos nas hospedarias daquela cidade. (...) Rio Grande possui hoje um asilo de colonos recém chegados digno do grau de civilização a que o país atingiu e não é muito que a capital da província também possua um estabelecimento desta ordem”.
A COLÔNIA SÃO LOURENÇO
Com a colonização de São Lourenço o escoamento da produção colonial através de iates pela Lagoa dos Patos até o porto do Rio Grande será gradualmente intensificado. Koseritz relata os primórdios e perspectivas da colonização daquela localidade: “No ano de 1858 surgiu uma nova empresa particular, a Colônia São Lourenço, no 4º Distrito de Pelotas, do qual é fundador e empresário o negociante alemão Jacob Rheingantz. Essa colônia subvencionada pelo governo, que em virtude do seu contrato pagou ao empresário o prêmio de 20$000 réis por cabeça de cada pessoa adulta dos colonos importados, desenvolve-se vantajosamente. O empresário adianta aos colonos a passagem da Alemanha até esta Província, vende-lhe as terras a crédito e fornece-lhes outros socorros de que precisarem sob a condição de posterior reembolso. Em 31 de dezembro de 1866 contava essa colônia com 1.637 almas, divididas em 340 famílias, sendo 1.277 protestantes e 360 católicas. Estão vendidos e ocupados 372 prasos coloniais, nos quais os colonos cultivam trigo, centeio, cevada, milho, feijão e batatas, que exportam para a cidade do Rio Grande e Pelotas.
A colônia S. Lourenço, o único núcleo provincial do sul da província que tem dado a fundada esperança de um futuro próspero, é muito bem situada nas fraldas da Serra dos Tapes, e acha-se na proximidade do navegável  Camaquã, fazendo-se hoje a navegação entre Rio Grande e São Lourenço, por um vaporzinho próprio para o efeito. Daí se espalhará à colonização pela citada Serra dos Tapes e mais tarde pelos vastos e ricos municípios de Canguçu, Piratini e Bagé, onde principalmente o cultivo de trigo, que produz com grande espontaneidade e abundância, contribuirá muito para a prosperidade da província. O empresário que nesta empresa comprometeu toda a sua fortuna, é incansável em promover o progresso do estabelecimento e, ainda neste mês, espera ele dois navios com mais de 200 novos imigrantes procedentes de Hamburgo. (...) São Lourenço é digno da mais decidida atenção do governo provincial, porque é dali que terá origem a colonização do sul da província, como de S. Leopoldo nasceu a de todo o norte da mesma”.

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