Historical map of German colonies at South Brazil (1905). |
O cenário da imigração alemã para o Rio Grande do Sul até o ano de 1867 foi descrito por Carlos de Koseritz, agente intérprete da colonização, em relatório apresentado ao presidente da Província do Rio Grande do Sul, sr. Francisco Ignácio Marcondes Homem de Mello. O longo relatório analisou o processo imigratório, suas dificuldades e avanços. O lugar da cidade do Rio Grande e da nascente Colônia de São Lourenço está presente no documento.
O ALOJAMENTO NA CIDADE DO RIO GRANDE
Conforme
Koseritz, “os colonos alemães que tem vindo para o Rio Grande, são na maior
parte todos oriundos da Pomerania ou de um pequeno distrito da Prússia-Renana,
chamado Hundssuech. Ali de onde vieram os primeiros colonos para o Rio Grande,
a nossa província é tão conhecida, como os Estados Unidos o são na maior parte
da Alemanha. As terras são vendidas aos colonos com prazo de cinco anos e no
mesmo tempo devem eles restituir ao governo o importe dos adiantamentos que
recebem, e que se resumem na alimentação nos depósitos do Rio Grande e Porto
Alegre, e no transporte do Rio Grande até a colônia”.
O
porto marítimo do Rio Grande é o destino inicial para os imigrantes. Aqui
ficavam alojados esperando o deslocamento para as colônias em que seriam
fixados. Segundo Koseritz, Rio Grande contava com boas condições para receber
os imigrantes, após ter sido superado problemas administrativos ligados ao
agente intérprete do Rio Grande, assim descrito por ele: “Por deliberação do
Exmo. Sr. Conde da Boa Vista, foi por ato de 11 de abril de 1866, declarado
extinto o lugar de agente intérprete na
cidade do Rio Grande, mandando o mesmo ato cessar todas as despesas que se
fazia com socorros, transporte e sustento dos colonos recém-chegados. Atendendo
as judiciosas considerações que a respeito da inconveniência desta medida fez o
meu ilustrado antecessor na direção central das colônias, no seu relatório último,
resolveu a Assembléia provincial a continuação destes socorros e restabeleceu o
lugar de agente intérprete no Rio Grande (...) Em virtude desta disposição
legislativa, V. Ex. dignou-se por ato de 30 de janeiro do corrente ano, nomear
o cidadão Joaquim Carlos Miller para o lugar de agente intérprete da
colonização no Rio Grande; este empregado, que já anteriormente exercera este
cargo, desempenha hoje essas funções com zelo e inteligência, tendo prestado
bons serviços por ocasião da repetida vinda de colonos norte-americanos. Em
virtude do ato do Exmo. predecessor de V. Ex., ficou também extinta a casa de
recepção que no Rio Grande havia para os colonos recém-chegados, sendo vendidos
em hasta pública os utensílios da mesma. Restabelecendo o orçamento provincial
os socorros aos imigrantes na ocasião da sua chegada, tornou-se preciso a
aquisição de uma nova casa de recepção e não havendo armazém algum por baixo
preço e nas condições de servir, mandei fazer um contrato com Bussard Constant,
proprietário no Rio Grande, o qual se obrigou a mandar construir um barraco com
todos os cômodos para acomodação de 200 colonos, num terreno seu, na rua do
Canal, obrigando-se a administração colonial a alugar esse barracão durante o
prazo de dois anos, mediante o aluguel mensal de 32$000 réis, o que sendo
aprovado por V. Ex. foi levado a efeito,
achando-se o agente intérprete no Rio Grande empossado do edifício desde o 1º
de maio do corrente ano. Solicitei de V. Ex. autorização para mandar comprar os
utensílios necessários para a acomodação dos colonos, como sejam tarimbas,
mesas, bancos, telhas, tinas, fogão, panelas, etc, o que tudo foi comprado,
estando à casa de recepção no Rio Grande presentemente habilitada, para
acomodar de maneira conveniente de 150 a 200 imigrantes. Finalmente mandei
contratar o fornecimento de víveres aos colonos pela tabela em vigor nesta
capital, a razão de 410rs diários por pessoa adulta e de 200 réis para os
menores de 12 anos, de sorte que o serviço tendente à recepção dos
recém-chegados, no Rio Grande, se acha hoje completamente organizado e nada
deixa a desejar, evitando ao governo a crescida despesa, que até a pouco fazia
com a acomodação de colonos nas hospedarias daquela cidade. (...) Rio Grande
possui hoje um asilo de colonos recém chegados digno do grau de civilização a
que o país atingiu e não é muito que a capital da província também possua um
estabelecimento desta ordem”.
A COLÔNIA SÃO LOURENÇO
Com a
colonização de São Lourenço o escoamento da produção colonial através de iates
pela Lagoa dos Patos até o porto do Rio Grande será gradualmente intensificado.
Koseritz relata os primórdios e perspectivas da colonização daquela localidade:
“No ano de 1858 surgiu uma nova empresa particular, a Colônia São Lourenço, no
4º Distrito de Pelotas, do qual é fundador e empresário o negociante alemão
Jacob Rheingantz. Essa colônia subvencionada pelo governo, que em virtude do seu
contrato pagou ao empresário o prêmio de 20$000 réis por cabeça de cada pessoa
adulta dos colonos importados, desenvolve-se vantajosamente. O empresário
adianta aos colonos a passagem da Alemanha até esta Província, vende-lhe as
terras a crédito e fornece-lhes outros socorros de que precisarem sob a
condição de posterior reembolso. Em 31 de dezembro de 1866 contava essa colônia
com 1.637 almas, divididas em 340 famílias, sendo 1.277 protestantes e 360
católicas. Estão vendidos e ocupados 372 prasos coloniais, nos quais os colonos
cultivam trigo, centeio, cevada, milho, feijão e batatas, que exportam para a
cidade do Rio Grande e Pelotas.
A colônia S.
Lourenço, o único núcleo provincial do sul da província que tem dado a fundada
esperança de um futuro próspero, é muito bem situada nas fraldas da Serra dos Tapes,
e acha-se na proximidade do navegável
Camaquã, fazendo-se hoje a navegação entre Rio Grande e São Lourenço,
por um vaporzinho próprio para o efeito. Daí se espalhará à colonização pela
citada Serra dos Tapes e mais tarde pelos vastos e ricos municípios de Canguçu,
Piratini e Bagé, onde principalmente o cultivo de trigo, que produz com grande
espontaneidade e abundância, contribuirá muito para a prosperidade da
província. O empresário que nesta empresa comprometeu toda a sua fortuna, é
incansável em promover o progresso do estabelecimento e, ainda neste mês,
espera ele dois navios com mais de 200 novos imigrantes procedentes de
Hamburgo. (...) São Lourenço é digno da mais decidida atenção do governo
provincial, porque é dali que terá origem a colonização do sul da província,
como de S. Leopoldo nasceu a de todo o norte da mesma”.
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