Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 19 de outubro de 2019

A REGATA DA INDEPENDÊNCIA EM 1859

Regata Imperial no Porto Velho do Rio Grande quando da vinda de D. Pedro II em julho de 1865. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.


             No dia 8 de setembro ocorreu uma Regata no Porto Velho do Rio Grande, uma das atividades realizadas em homenagem a Independência do Brasil no distante ano de 1859. O jornal Diário do Rio Grande fez a seguinte transcrição da regata comemorativa que mostra a popularidade dos festejos da Independência.
“Amanheceu o dia 8, sereno, límpido e belo; nossa bahia branca e tersa como um mar de prata, oferecia um belo aspecto. Inumeráveis navios balançavam-se mansamente ao suave embate das ondas, todos empavesados, ondulando milhares de bandeiras, que matizadas formavam um  lindo e agradável. Davam-se onze horas; todas as casas da rua da Boa Vista, os trapiches e as embarcações surtas no porto achavam-se apinhadas de seres viventes, quando a Charrua partiu rápida conduzindo a música e várias pessoas, que iam para o Caxias, lugar donde se achava a comissão diretora desse divertimento e grande número de convidados. Poucos momentos depois, retumbou um tiro de peça e a música tocou uma linda valsa, anunciando a partida dos primeiros corredores. Trinta e sete embarcações estavam inscritas para as quatro partidas, sendo duas carreiras a vela e outras duas a remo. A 1ª foi de 15 botes grandes a vela, da carreira do Norte, que partindo de junto o vapor Caxias passaram em roda de uma lancha que se achava colocada na bóia, seguiram a S. José do Norte e passando em roda da barca de Vigia voltaram no trapiche do Carmo. A 2ª de escaleres e balieiras, de particulares em número de seis e a 4 remos, tripulada por pessoas do comércio nacionais e estrangeiros, que largando do lugar acima mencionado passaram em roda da barca de Vigia, em frente à Macega voltaram ao ponto da partida. A 3ª de seis pequenos botes a vela de particulares e de navios. A 4ª de escaleres e balieiras a 4 remos em número de 10. Ao sinal designado largou a 1ª carreira a vela e logo em seguida a segunda de sei lindos escaleres a remos, tripulados por belos e bizarros mancebos de nossa escolhida sociedade, vestidos com elegantes trajes de marinheiro, que partiram no meio dos vivas e aclamações dos concorrentes que cheios de ansiedade esperavam o resultado da carreira. Passado poucos minutos, apareceram e logo na frente os vitoriosos. O Union Jack foi o primeiro a transpor as raias, seguido do Raio e do Arabibá. Os foguetes, os harmoniosos sons da música, os vivas, os bravos, os acenos das interessantes jovens e mais senhoras com seus brancos lenços, anunciaram a vitória dos três ligeiros contendores.
A glória foi do Union Jack cuja tripulação de cavalheiros ingleses foi condecorada com uma medalha de prata com a legenda ‘Regata Sete de Setembro, Rio Grande, 1859’, colocada sobre o peito dos entusiastas vencedores pelas excelentíssimas senhoras, esposas do sr. capitão do porto, do sr. W. Wigg e do sr. capitão-tenente Pereira Pinto, e pelas jovens filhas do sr. capitão de fragata Caetano Ferraz e do sr. capitão-tenente de Lamare. Alguns momentos depois chegou o bote Bom Fim, seguido do Que t’importa e Restaurador, vencedores da 1ª carreira a vela.
De novo troaram os canhões do vapor Caxias, era o sinal para a partida da 3ª e 4ª carreira, das quais foram vencedores o escaler a vela inglesa Sem Igual, espanhol Coquette e Marques de Caxias; o escaler a remos Marques de Caxias, a balieira da Alfândega, e o escaler da barca portuguesa Ourense.
Compareceram depois uma multidão de canoinhas que a semelhança de formigas disputavam entre si a velocidade na carreira, provocando o riso dos circundantes. Os prêmios para a 1ª, 3ª e 4ª carreira foram em moeda; e os da 2ª carreira foram um copo de prata dourado, uma cesta de prata e uma bandeira de seda bordada. Na ocasião de tão magnífica festa o litoral desta cidade apresentava um panorama verdadeiramente animador. As janelas dos sobrados da rua da Boa Vista estavam cobertas de madamismo; a rua atopetada de espectadores e os vapores e navios atados à estacada, e outros fundeados ao largo, estavam cobertos de povo! Sobre as plácidas e cristalinas águas da nossa bahia sulcavam para mais de 60 embarcações pequenas. Botes e escaleres cruzavam em direções diversas, carregados de homens e de senhoras. Dir-se-ia que os 14 mil habitantes do Rio Grande, achavam-se na rua da Boa Vista e no mar, a verem as regatas. A própria natureza parecia partilhar de nossos regozijos, oferecendo-nos dias tão calmos e claros! O divertimento correu bem.
O entusiasmo era geral; e o prazer de ver a amizade e lhaneza com que os estrangeiros associavam-se aos rio-grandenses num festim puramente nacional enchia a todos de alegria. Num dos intervalos das carreiras teve lugar a bordo do Caxias, um copo de água, no qual, por acanhamento da Câmara para as pessoas que se achavam a bordo, foram servidas primeiro as senhoras e em seguida os cavalheiros. Seguiu-se depois a distribuição dos prêmios. A excelentíssima esposa do sr. W. Wigg foi quem ofertou os prêmios e a ela coube à cerimônia de distribuí-los aos vencedores da 2ª partida Union Jack, Raio e Araribá. Ao entregar o 1º prêmio (o copo de prata dourado), esta respeitável senhora fez uma breve alocução rematando que muito estimaria que divertimentos desta ordem se tornasse  freqüentes no Rio Grande. O sr. Campbell comandante do escaler Union Jack respondeu que nutria iguais sentimentos. Estrepitosos vivas, correspondidos pela música com o hino nacional coroou este ato e assim seguiu-se a distribuição do 2º  e 3º prêmio, sendo este entregue ao sr. Bastos comandante do Araribá, e aquele ao sr. Miller, comandante do Raio que era tripulado por cavalheiros alemães. Nesta ocasião de inteiro regozijo para os vencedores, o sr. B.J. Borges, vice-presidente da Sociedade Sete de Setembro, resumiu nas seguintes palavras que dizem tudo o que há de apreciável e de digno de louvor na manifestação de prazer exibida por diversos estrangeiros no dia aniversário da independência do país hospitaleiro que os há, com respeito, acolhido: ‘É delicado... é tocante; Ver o brioso estrangeiro; Folgar conosco, abraçar-nos; Neste festim brasileiro!...’.
Estas palavras foram bem acolhidas e aplaudidas com fervorosos vivas por parte dos autores da festa, sendo o primeiro deles a S. M. Imperial, o sr. D. Pedro II. O entusiasmo requintou e os vivas e os hip, hip, hip hurrah troaram no espaço! Então o sr. Campbell, como um dos membros da comissão do divertimento, expressou os sentimentos do prazer de que se achavam possuídos por haver sido tão geralmente aplaudido o divertimento com que se hão, lembrado, de, por seu turno, solenizar o nosso primeiro dia nacional; disse mais que se achavam recompensados de seus esforços pelo bom acolhimento que tal idéia havia merecido: prometeu secundá-lo para continuar a proporcionar tal festejo e finalizou agradecendo ao sr. capitão do porto e comandante do vapor Caxias a cooperação que nesses senhores haviam encontrado para realizar essa inocente distração na qual se observara a melhor ordem e regularidade.

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