Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 19 de outubro de 2019

A ILHA DOS MARINHEIROS

Lagoa das Noivas no interior da Ilha dos Marinheiros (foto do autor).

Ponte da Ilha dos Marinheiros, site: riogrande.rs.gov.br


Relatos sobre a Ilha dos Marinheiros recuam aos primeiros anos de ocupação de Rio Grande, nos idos de 1737. A Ilha era visitada em busca da madeira que era utilizada para construção das casas e para lenha. O engenheiro militar Sebastião Betamio afirmou em 1780: “Defronte da Vila (do Rio Grande) em distância por mar de menos de uma légua, está uma ilha chamada dos Marinheiros, na qual tem sesmarias e datas alguns particulares e como dali vem às lenhas para a vila, por não havê-las mais próximas, foram isentas de sesmarias e datas assim as lenhas como os capins que servem para coberta das casas, a fim de que, tanto a Fazenda Real como os moradores da vila se pudessem, livremente, utilizar das ditas lenhas e capins”. A busca desenfreada a madeira acabam reduzindo drasticamente a mata nativa da Ilha e tornando o seu interior um imenso deserto de areia. A movimentação das dunas se intensificaram com a presença do gado que pisoteava a vegetação que fixava a areia. A alteração da cobertura vegetal trouxe alterações significativas ao ambiente natural contribuindo para a redução da ocupação humana que dependia da produção agrícola.
                   No século 18 e 19, a Ilha dos Marinheiros era constituída por uma extensa planície arenosa com pequenas elevações, apresentando vegetação rasteira e capões de mato. Atualmente é constituída por uma grande planície arenosa e extensos cordões de dunas em sua parte interior. A cobertura vegetal ficou bastante reduzida e as dunas chegaram a 10 metros de altura invadindo áreas agriculturáveis desde a década de 1930. 
         Antes de uma ocupação humana mais intensificada, a Ilha foi descrita no jornal Diário do Rio Grande como um espaço paradisíaco que precisava ser conhecido pelos moradores da então Vila do Rio Grande de São Pedro. O grande desafio em meados do século 19 era o de ligar a Ilha com a cidade através de uma ponte. As discussões e a cotização financeira acabaram não se realizando antes do final do século 20.
         O jornal Diário do Rio Grande assim retrata, no ano de 1859, ou seja, há 150 anos, as expectativas de desenvolvimento para a Ilha dos Marinheiros.
 A Ponte a Ilha dos Marinheiros.
“Há bem pouco tempo, houve uma quadra que não faltava mais do que no projeto para a construção de uma ponte a Ilha dos Marinheiros. A câmara municipal desta cidade em sessão de 11 de janeiro do corrente ano, resolveu definitivamente a construção dessa ponte tão justamente reclamada e que ia ligar a formosa Ilha com nossa cidade. Foi logo deliberado que a obra seria feita sob as vistas da municipalidade, e por tanto tivemos a esperança de ver realizada essa via de comunicação que nos ia proporcionar o fácil transito a esse jardim, que jaz no meio de nossa bahia, banhado pelas suas quietas ondas. A obra foi então orçada em cento e cinqüenta contos de réis, cuja soma seria dividida em três mil ações de cinqüenta mil réis cada uma, quantia bastante pequena para que todos pudessem possuir uma parte na útil e necessária obra que se premeditava construir.
A municipalidade na mesma data nomeou uma comissão encarregada de agenciar acionista e se não estamos enganados cremos que a afluência foi grande, e em breve ficariam esgotadas. E tudo isso, parecia incrível mas foi passageiro, tudo ficou em projeto e hoje em dia para nada é lembrado da ponte a Ilha dos Marinheiros. Se conta com os elementos e há desejo de fazê-la, que falta pois? Principiá-la! Avante, pois, e as benções de um povo inteiro cairão sobre as cabeças dos iniciadores e executores de tão útil quão bela idéia.
A realização desse projeto operaria um câmbio vantajoso; na Ilha dos Marinheiros pois não tão somente facilitaria a vida de comunicação que até agora é entorpecida por qualquer refega de vento, leve movimento das ondas ou baixa da maré; senão que os prédios existentes ali tomariam um valor tríplice do atual. A providência divina que tudo coordena com uma sabedoria e previsão infinita, ao colocar a Ilha dos Marinheiros no centro de nossa bahia, cheia de fertilidade e sempre verdejante, parece haver destinado a que ela fosse a notrisa de nossa cidade, fornecendo-a com os legumes e hortaliças necessárias para o alimento da mór parte do Rio Grande. E graças a ela, estes ingredientes nunca se vendem a alto preço.
Em segundo lugar, a cidade do Rio Grande, que já por sua posição topográfica, ou já seja pela qualidade de seu terreno acha-se acéfala de lugares próprios para passeios com o fácil transporte e livre comunicação a ilha, nos dias festivos e domingos os habitantes do Rio Grande, iriam procurar no meio daqueles jardins a sombra das frondosas árvores e sobre o verdejante tapete de relva, algumas horas de recreio e passatempo.
A colocação da Ilha dos Marinheiros, a pequena ilha donde acha-se construindo a nova casa da pólvora, e a ponte donde acha-se a nova casa da Misericórdia; tudo oferece facilidade para a realização de tão útil e necessário projeto. Sendo pois como está mais que provado, que esta empresa não somente facilita e quebra as traves da comunicação a Ilha senão que oferece grandes vantagens e lucros, a ela não devem trepidar a dar princípio, que cremos que todos os proprietários da Ilha dos Marinheiros se alistarão pressurosos na lista de acionistas. Não duvidamos também que por sua parte o governo provincial propenderá em sua cooperação, para a realização de tão útil empresa acordando a proteção devida em atenção aos bons resultados que ela pode oferecer a cidade do Rio Grande” Diário do Rio Grande, 9 de julho de 1859.

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