Lagoa das Noivas no interior da Ilha dos Marinheiros (foto do autor). |
Ponte da Ilha dos Marinheiros, site: riogrande.rs.gov.br |
Relatos
sobre a Ilha dos Marinheiros recuam aos primeiros anos de ocupação de Rio
Grande, nos idos de 1737. A
Ilha era visitada em busca da madeira que era utilizada para construção das
casas e para lenha. O engenheiro militar Sebastião Betamio afirmou em 1780:
“Defronte da Vila (do Rio Grande) em distância por mar de menos de uma légua,
está uma ilha chamada dos Marinheiros, na qual tem sesmarias e datas alguns
particulares e como dali vem às lenhas para a vila, por não havê-las mais
próximas, foram isentas de sesmarias e datas assim as lenhas como os capins que
servem para coberta das casas, a fim de que, tanto a Fazenda Real como os
moradores da vila se pudessem, livremente, utilizar das ditas lenhas e capins”.
A busca desenfreada a madeira acabam reduzindo drasticamente a mata nativa da
Ilha e tornando o seu interior um imenso deserto de areia. A movimentação das
dunas se intensificaram com a presença do gado que pisoteava a vegetação que
fixava a areia. A alteração da cobertura vegetal trouxe alterações
significativas ao ambiente natural contribuindo para a redução da ocupação
humana que dependia da produção agrícola.
No
século 18 e 19, a
Ilha dos Marinheiros era constituída por uma extensa planície arenosa com
pequenas elevações, apresentando vegetação rasteira e capões de mato.
Atualmente é constituída por uma grande planície arenosa e extensos cordões de
dunas em sua parte interior. A cobertura vegetal ficou bastante reduzida e as
dunas chegaram a 10 metros
de altura invadindo áreas agriculturáveis desde a década de 1930.
Antes
de uma ocupação humana mais intensificada, a Ilha foi descrita no jornal Diário do Rio Grande como um espaço
paradisíaco que precisava ser conhecido pelos moradores da então Vila do Rio
Grande de São Pedro. O grande desafio em meados do século 19 era o de ligar a
Ilha com a cidade através de uma ponte. As discussões e a cotização financeira
acabaram não se realizando antes do final do século 20.
O
jornal Diário do Rio Grande assim
retrata, no ano de 1859, ou seja, há 150 anos, as expectativas de
desenvolvimento para a Ilha dos Marinheiros.
“Há bem
pouco tempo, houve uma quadra que não faltava mais do que no projeto para a construção
de uma ponte a Ilha dos Marinheiros. A câmara municipal desta cidade em sessão
de 11 de janeiro do corrente ano, resolveu definitivamente a construção dessa
ponte tão justamente reclamada e que ia ligar a formosa Ilha com nossa cidade.
Foi logo deliberado que a obra seria feita sob as vistas da municipalidade, e
por tanto tivemos a esperança de ver realizada essa via de comunicação que nos
ia proporcionar o fácil transito a esse jardim, que jaz no meio de nossa bahia,
banhado pelas suas quietas ondas. A obra foi então orçada em cento e cinqüenta
contos de réis, cuja soma seria dividida em três mil ações de cinqüenta mil
réis cada uma, quantia bastante pequena para que todos pudessem possuir uma
parte na útil e necessária obra que se premeditava construir.
A
municipalidade na mesma data nomeou uma comissão encarregada de agenciar acionista
e se não estamos enganados cremos que a afluência foi grande, e em breve
ficariam esgotadas. E tudo isso, parecia incrível mas foi passageiro, tudo
ficou em projeto e hoje em dia para nada é lembrado da ponte a Ilha dos
Marinheiros. Se conta com os elementos e há desejo de fazê-la, que falta pois?
Principiá-la! Avante, pois, e as benções de um povo inteiro cairão sobre as
cabeças dos iniciadores e executores de tão útil quão bela idéia.
A realização
desse projeto operaria um câmbio vantajoso; na Ilha dos Marinheiros pois não
tão somente facilitaria a vida de comunicação que até agora é entorpecida por
qualquer refega de vento, leve movimento das ondas ou baixa da maré; senão que
os prédios existentes ali tomariam um valor tríplice do atual. A providência
divina que tudo coordena com uma sabedoria e previsão infinita, ao colocar a
Ilha dos Marinheiros no centro de nossa bahia, cheia de fertilidade e sempre
verdejante, parece haver destinado a que ela fosse a notrisa de nossa cidade,
fornecendo-a com os legumes e hortaliças necessárias para o alimento da mór
parte do Rio Grande. E graças a ela, estes ingredientes nunca se vendem a alto
preço.
Em segundo
lugar, a cidade do Rio Grande, que já por sua posição topográfica, ou já seja
pela qualidade de seu terreno acha-se acéfala de lugares próprios para passeios
com o fácil transporte e livre comunicação a ilha, nos dias festivos e domingos
os habitantes do Rio Grande, iriam procurar no meio daqueles jardins a sombra
das frondosas árvores e sobre o verdejante tapete de relva, algumas horas de
recreio e passatempo.
A colocação
da Ilha dos Marinheiros, a pequena ilha donde acha-se construindo a nova casa
da pólvora, e a ponte donde acha-se a nova casa da Misericórdia; tudo oferece
facilidade para a realização de tão útil e necessário projeto. Sendo pois como
está mais que provado, que esta empresa não somente facilita e quebra as traves
da comunicação a Ilha senão que oferece grandes vantagens e lucros, a ela não
devem trepidar a dar princípio, que cremos que todos os proprietários da Ilha
dos Marinheiros se alistarão pressurosos na lista de acionistas. Não duvidamos
também que por sua parte o governo provincial propenderá em sua cooperação,
para a realização de tão útil empresa acordando a proteção devida em atenção
aos bons resultados que ela pode oferecer a cidade do Rio Grande” Diário do Rio
Grande, 9 de julho de 1859.
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