Recibo de compra e venda de escravos, Rio de Janeiro, 1851. Acervo: Arquivo Nacional. |
Grande parte das riquezas geradas no período
colonial e imperial da História do Brasil estavam na dependência das relações
escravistas. Nas vilas e cidades, a comercialização de utensílios de várias modalidades, de
vegetais e frutas, de alimentos cozidos (as “quitandas”), além da prestação dos
mais diferenciados serviços, era feita por pequenos comerciantes varejistas.
Nesta atividade comercial destaca-se o escravo “de ganho”, o qual pagava uma
diária (chamada “jornal”) aos seus donos e ofereciam ofícios à população
urbana. Este escravo “de ganho” ficaria com o lucro excedente das vendas, como
um estímulo a dedicação da atividade comercial. Seja nos centros urbanos ou no
meio rural, os escravos são essenciais para o desempenho das atividades
econômicas. Nas atividades de um comércio entre capitanias feito no lombo de
mulas através dos tropeiros, ou em embarcações ligando portos brasileiros ou
portos internacionais, a mão-de-obra muitas vezes está ligada ao escravo negro.
E esta condição pode ser como agente da distribuição de produtos ou como a
própria mercadoria, a ser vendida em áreas urbanas ou rurais que necessitassem
de mão-de-obra.
Na Vila/Cidade do Rio Grande, espaço
portuário que desde o final do século 18, atraiu um dinâmico segmento de
comerciantes com vinculações no Rio de Janeiro, portos do Prata, da Europa e
dos Estados Unidos, as atividades escravistas estavam enraizadas nas práticas
cotidianas. Exemplo desta presença de agentes históricos anônimos, podem ser
encontrada no jornal O Noticiador que se refere à procura ou venda de
mão-de-obra escrava, os anúncios de fuga e outros. Um amplo leque de atividades
empregava estes escravos ligados ao meio urbano de uma cidade marítima. Fica
evidenciado que mesmo estes personagens permanecendo no anonimato devido a
carência de informações, eles afloram nos anúncios como parte essencial do
funcionamento da sociedade.
“Vende-se um escravo pardo campeiro, quem o
pretender dirija-se no Armazém de Vicente José Pinto, na rua do Carmo”. 20 de
setembro de 1834.
“Manoel da Silva Rios e Companhia na Rua da
Praia, tem para vender por mui cômodo preço, trinta e um escravos crioulos de
ambos os sexos e entre eles cinco casais com filhos e alguns oficiais de
ofício, todos acostumados ao serviço de fazendas de gado e nascidos em clima
muito apropriado ao desta Província; além de um bom escravo oficial de pedreiro
e canteiro; dois pretos próprios para o serviço de lavoura; uma negra que lava,
engoma, cozinha e costura; duas negras boas lavadeiras; uma molecota de dezesseis
a dezoito anos própria para qualquer serviço, todos chegados proximamente da
Bahia”. 12 de outubro de 1834.
“Dia 20 de outubro. Preto Antonio, de Nação,
escravo de José Felix Buti, pronunciado pelo crime de morte, foi sentenciado a
pena última. Este réu protestou por julgamento no novo júri da Capital desta
Província.” 17 de novembro de 1834.
“A José Antonio Gonçalves Cardoso, morador
nesta vila, desapareceu em princípios de setembro deste ano uma preta de nação
nagô, linda rapariga, de nome Helena, cara riscada sinais de sua nação, de
estatura ordinária, quem dela tiver notícia a poderá mandar ao anunciante seu
senhor, que será recompensado”. 21 de novembro de 1834.
“No dia 8 do corrente fugiu um escravo de
nome Vicente, cozinheiro e lavadeiro, de estatura ordinária e bem
proporcionado, levou vestido camisa e calça de riscado azul e tem no pé direito
junto aos dois últimos dedos menores uma cicatriz causada de um golpe que
sofreu; quem o trouxer ou noticiar a seu Snr. O cirurgião Manoel Gomes da
Silva, nesta Vila, será bem gratificado”. 21 de novembro de 1834.
“No dia 2 do corrente, as 7 horas da noite desapareceu
um moleque por nome Luiz, oficial de bauleiro, idade de 15 a 16 anos, crioulo, rosto
redondo, bem falantes, com cicatriz de um talho na cabeça e calejado o pé da
mesma de carregar peso, com duas marcas nas costas junto aos ombros; quem o
apanhar poderá levá-lo a João Gonçalves Agra na rua da Praia desta Vila, que se
lhe gratificará seu trabalho”. 21 de novembro de 1834.
“Desta Vila em 26 do corrente fugiram a
Domingos Vieira de Castro os escravos seguintes: um de nome Francisco, cabinda,
de idade de 30 anos, alto e muito retinto, com um golpe antigo acima do olho
direito, é bom oficial de carpinteiro muito habilidoso e com bastante viveza,
faz pentes de chifre que imitam bem os de tartaruga, levou jaqueta de riscado e
calças azuis; outro de nome Antonio, Angola, com princípios de carpinteiro,
rosto comprido, nariz chato, boca pequena, bem retinto e com boa dentadura,
grosso de corpo, estatura ordinária, levou calças de brim e jaqueta de chita.
Quem os apresentar será pago de todas as despesas e receberá gratificação de
100 réis pelos 2 escravos”. 1 de dezembro de 1834.
“Para
vender, três escravos, a saber uma escrava parda de idade de vinte e tantos
anos, uma crioula de trinta e tantos dito; qualquer delas sabe fazer o
necessário de uma casa; e um escravo ainda meio novo. Qualquer pessoa que
pretender algum dos ditos procure o anunciante abaixo assinado, morador da rua
da Praia desta Vila, para os ver e tratar, que os vende por preço cômodo. José
Pedro de Oliveira Gaya.” 3 de fevereiro de 1832.
“Quem quiser comprar um escravo ladino muito
sadio e bonita figura, com ofício de
carpinteiro de machado, procure a Francisco da Silva Passos, no
Escritório de Antonio José Afonso Guimarães, que o venderá por preço cômodo.”
10 de fevereiro de 1832.
“Há para vender em casa de Francisco d’Araujo
Braga, uma escrava com boas qualidades, de 25 anos, e várias miudezas tudo por
preços cômodos”. 14 de fevereiro de 1832.
“Vende-se uma porção de escravos chegados
proximamente de Pernambuco na Escuna Feiticeira, e entre estes duas pretas
cozinheiras, dois Alfaiates e um Sapateiro; quem os quiser comprar dirija-se a
José dos Santos Magano, ou a bordo da mesma Escuna, que acharão com quem
tratar”. 17 de fevereiro de 1832.
“Vende-se um escravo pardo, ainda moço, de
bonita figura, oficial de alfaiate e bom barbeiro; assim mais outro sem ofício,
quem os quiser procure a Antonio Martins Torres, no Armazém de José dos Santos
Magano”. 2 de março de 1832.
“Quem quiser comprar um preto canoeiro e uma
preta lavadeira, qualquer dos dois de idade de vinte anos, dirija-se a povoação
do Norte ou a bordo do brigue Ativo, ou em terra na rua dos Conventos a falar
com o capitão do mesmo. Quem tiver escravos trabalhadores para alugar por mês,
sabendo eles remar, e alguns trabalhar de enxada, fale com Thomas Messiter,
morador da praça desta Vila para se tratar do seu ajuste”. 2 de março de 1832.
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