Fotografia dos restos mortais de Bento Gonçalves no ano de 1900 os quais foram colocados junto ao monumento. Acervo: Papareia. |
O SIGNIFICADO DO MONUMENTO
A
Comissão organizadora buscou construir um monumento que se ressalta a figura de
Bento Gonçalves da Silva e também os feitos heróicos farroupilhas. Nas laterais
do pedestal foram colocados dois baixos-relevos representando a Proclamação da
República Rio-Grandense pelo General Netto e a outra a David Canabarro e a Expedição
à Laguna destacando a passagem dos lanchões por terra. A primeira alegoria está
ligada à justificativa do movimento revolucionário republicano e a segunda
assinalaria o apogeu da República que se expandiu até Santa Catarina. Porém,
graças à influência da comunidade italiana que também no dia 20 de setembro
comemora a unificação italiana, foi colocado um medalhão em homenagem a
Garibaldi e não a Canabarro. O culto ao indivíduo é inserido no contexto maior
de cultuar a epopéia farroupilha. Ressalte-se que a Comissão não tinha opinião
unânime quanto à simbologia a ser representada, sendo o caso de Alfredo
Ferreira Rodrigues que buscava exaltar mais o indivíduo retratado e não a
dimensão republicana, posição dos políticos castilhistas que acabou sendo
majoritária. No andamento do trabalho faltaram verbas para a conclusão do
monumento que teve um custo final (artista, encaixotamento, transporte,
barcagem, despacho etc) de 7 contos de réis. Deste montante mais de 50%
refere-se à alegoria dos Leões, os quais não constavam no projeto inicial e
tiveram a insistência do escultor Teixeira Lopes para figurarem na obra. A
Comissão propôs retirar esta alegoria mas o escultor afirmou que em janeiro de
1905 o trabalho estava quase concluído e que executaria a cobrança dos Leões.
Conforme carta do escultor os Leões representavam uma visão da Revolução
Farroupilha onde o leão superior representaria a monarquia brasileira; já leão
em posição inferior deitado ou “derrubado pelo mais forte levanta-se, encarando
o opositor em atitude serena, mas ameaçadora” representando a República
Rio-Grandense. Apesar de estar caído, o
leão republicano demonstrava e resistência e altivez republicana que chegaria
ao poder em 1889. Além da resistência republicana o ornamento remete a Paz
Honrosa que assinalou o final da Revolução Farroupilha. A simbologia do leão assinala
a qualidades e defeitos, podendo enfatizar o poder, a valentia, a sabedoria e a
justiça; mas também, o orgulho, o poder excessivo, a tirania. Daí a presença da
monarquia e da república. Porém, as polêmicas foram inesgotáveis desde o local
até a simbologia, e antes de ser inaugurada a obra já acumulava inúmeras
críticas: a posição ocupada pelos leões não agradou aos castilhistas; a
ausência do símbolo do centauro dos pampas que seria estar Bento Gonçalves
montado em um cavalo e não a pé; se a Paz de Ponche Verde foi uma vitória ou
derrota farroupilha; as roupas usadas por Bento Gonçalves e até a expressão
facial foi criticada. O mito que estava sendo perpetuado em bronze deveria ter
uma expressão tão humana e sofrida? O herói poderia ter uma expressão tão
humanizada? Teixeira Lopes respondeu às críticas recebidas pela Comissão: “Se
por um lado eu muito desejo ser amável com V.as Ex.as atendendo-os como pessoas
de elevada educação artística nem por isso deixo de me lembrar com tristeza que
o artista não deveria nunca seguir senão o que lhe é orientado pelo seu
sentimento” (carta de 2 de janeiro de 1905). A expressão facial buscava dar
mais ação e energia, assim como a posição da espada no braço direito e o
bastião farroupilha no braço esquerdo.
Juvenal
Miller propôs ao escultor colocar logo abaixo dos leões a colocação das datas
20 de Setembro – 15 de Novembro, ressaltando o processo evolutivo em direção à
República. Na parte posterior do pedestal foram colocadas alegorias de palmas
(vitória, ascensão e imortalidade) e louros (luta para chegar ao triunfo).
De
certa forma a edificação do monumento tem muito da luta farroupilha pois se
estendeu por quase 10 anos, gerou imensas polêmicas e mesmo a doação de antigos
canhões do Exército que se encontravam no 7º Batalhão de Infantaria do Largo de
Moura, no Rio de Janeiro, solicitados em 1904, só foram liberados em 1908.
Destes canhões foi feito o bronze que cobre as esculturas. Entre o bronze e o
granito edificou-se uma polêmica obra que já alcança 100 anos de sua
inauguração. O monumento túmulo buscou perpetuar a memória do general
farroupilha Bento Gonçalves da Silva e da República Rio-Grandense, se
constituindo numa sala de aula de história ao ar livre, onde gerações
constituíram inúmeras versões e leituras sobre a Revolução Farroupilha e seus
mitos.
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