Porto do Rio Grande em 1908

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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

OS CHAFARIZES E A ARTE EM FERRO

Cartão-postal da Praça Tamandaré por volta de 1910. Em primeiro plano a Vênus ao Banho. Acervo: Walter Albrecht. 


            Os chafarizes franceses instalados no Brasil a partir da segunda metade do século XIX, transcenderam a sua funcionalidade inicial de serem fontes de abastecimento de água. Por sua beleza estética e situarem-se em espaços públicos, -as praças, que eram valorizadas enquanto espaço recreativo das famílias-, os chafarizes contribuíam ou muitas vezes foram a maior atração, no embelezamento da paisagem urbana.
         Em região próxima a Paris, no Departamento de Haute-Marne, estabeleceram-se no século 19, destacadas fundições artísticas: a Val d’Osne, a Capitain-Gény, a Dommartin e a Durenne. A fundição artística na França remonta a década de 1830 produzindo além dos chafarizes, estátuas, lamparinas, colunas, fontes e outros ornamentos.
         A divulgação desta arte em ferro assumiu maiores proporções nas Exposições Universais, que desde o ano de 1851 buscavam difundir novas tecnologias, onde administradores e visitantes conheciam os novos modelos a serem encomendados a partir dos catálogos disponíveis. A arte em ferro assume o caráter de uma indústria que se difunde pelo planeta e passa a ser orgulhosamente ostentada nos espaços públicos. Este encontro com a arte ao ar livre, tem o sentido para os países adquirentes, de estar em sintonia com os padrões estéticos europeus e seus projetos de civilidade.
         Além da Europa, países como o Brasil, Estados Unidos, México, Venezuela, Argentina, Chile e Canadá, adquiriram estas peças a serem colocadas em praças ou na residência de particulares. Somente para o Rio de Janeiro, foram importados mais de 200 chafarizes e estátuas para adornarem praças, parques, jardins...  
         As novas técnicas de modelagem do ferro e a capacidade de produção em larga escala, especialmente, em relação às ferrovias, permite refletir na sua relação direta com o desenvolvimento da Revolução Industrial no século 19. A arte em ferro foi adaptada a um mercado consumidor em expansão possibilitando que milhares de pessoas participassem das várias etapas que iam da idealização, produção, divulgação e venda destas inúmeras peças fundadas no ecletismo.
         José Francisco Alves, é um autor que se especializou na pesquisa sobre a arte em espaços públicos do Rio Grande do Sul. Publicou recentemente Fontes d’Art no Rio Grande do Sul pela editora Artfólio. Para este autor as fontes de arte ou fontes d’art eram peças artísticas e ornamentais que tinham o caráter utilitário de serem usadas como chafarizes, bebedouros etc. Apesar da Inglaterra e Escócia terem fundições desta modalidade artística, as fundições da região próxima a Paris de Champagne-Ardenne (Departamento de Haute-Marne) tinham um mercado latino-americano que ambicionava os padrões estéticos franceses. O Rio de Janeiro foi no Brasil o maior mercado para estas peças. O Chafariz Monroe da fundição Val d’Osne, localizado na Cinelândia, é considerado como um dos mais bonitos do mundo.
         Os chafarizes vindos para o Rio Grande do Sul foram produzidos pela Fundição Antonie Durrene. A cidade pioneira no recebimento foi Porto Alegre que chegou a contar com sete chafarizes. O primeiro foi instalado na Praça da Alfândega e inaugurado por D. Pedro II em outubro de 1865. Seguiram-se outros seis chafarizes, totalizando sete. Destes chafarizes das décadas de 1860-70, atualmente só restou o Chafariz Imperial que foi importado em 1866 da Fundição Durenne, estando localizado no Parque Farroupilha. José Francisco Alves acredita que administrações municipais os venderam como ferro-velho a mais de cem anos atrás. A quebra das empresas que os utilizavam para fornecer água potável e o sucateamento do material pode ter motivado esta atitude. Porém, o assunto não está esclarecido na documentação: como seis fontes de arte desapareceram sem maiores informações?
ARTE FRANCESA EM RIO GRANDE
         Da arte em ferro colocadas em espaços públicos e elaboradas em fundições francesas, cinco peças podem ser destacadas: a Vênus e os quatro chafarizes.
Muito já se especulou sobre a Vênus da Praça Tamandaré. O autor contribuiu com o esclarecimento da procedência desta peça: “Na Praça Tamandaré, temos a reprodução em ferro, produto das fundições Val D’osne, de um exemplar bem representativo da escultura francesa do séc. XVIII, cujo original em mármore pertence ao acervo do Museu do Louvre: a Banhista, também conhecida como Vênus ou Vênus ao Banho. Trata-se de uma célebre escultura de Christophe-Gabriel Allegrain (Paris, 1710-1795), exibida no Salão de Paris de 1767. Tem-se que a obra original foi a que impulsionou a carreira de Allegrain e encantou de forma extrema a ninguém menos do que o nascido no Departamento do Haute Marne, Denis Diderot (1713-1784), o qual teria se pronunciado ao vê-la: ‘Linda, linda, figura sublime; até mesmo a mais linda, eles dizem, a mais linda figura de uma mulher que os modernos criaram’. Muito provavelmente, esta cópia em ferro fundido da escultura foi comprada para a Cidade do Rio Grande em fins do séc. XIX ou princípios do séc. XX com o objetivo de embelezar a praça”. Contribuindo com as informações do competente pesquisador, no ano de 1888 a Vênus ao Banho (altura de 1,65m e peso de 340kg) estava instalada na atual Praça Julio de Castilhos, local que havia uma fonte de captação de água. Em algum período posterior, possivelmente primeira década do século XX, foi transferida para a ilha onde está localizada na Praça Tamandaré. No ano de 1888, a nudez da estátua, era motivo de comentários irreverentes em jornal da cidade. 

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