Biblioteca Rio-Grandense em fotografia da década de 1950, primeiro local onde funcionou a Escola de Engenharia. Acervo: Núcleo de Memória da FURG |
Os anos
dourados em Rio Grande ,
ou seja, a década de 1950, trouxe uma série de inovações no cenário
científico-intelectual da cidade. Foi neste período que surgiu o ensino
superior que no final da década seguinte levaria a criação da Universidade
Federal do Rio Grande. No dia 18 de setembro de 1951, na casa do Eng. Francisco
Martins Bastos, ocorreu uma reunião entre profissionais ligados ao setor
público e privado, discutindo a criação de um Instituto Técnico Industrial,
cuja finalidade era formar engenheiros. Desta reunião foi formada uma comissão
composta pelos engenheiros Cícero Marques Vassão, Fernando Abott Torres e
Thomas Paes da Cunha. A imprensa local recebeu com entusiasmo esta
possibilidade de surgimento de cursos em nível superior numa das cidades
pioneiras da industrialização no Brasil. A imprensa destacava a instalação do
ensino superior seria a concretização de um ideal que permitiria que o rio-grandino
não precise mais afastar-se de sua terra para colher os frutos do ensino
superior. “Graças à alta compreensão de um grupo de engenheiros civis,
radicados em nossa terra e em cooperação com a nossa gente, o Rio Grande dentro
de breve terá a sua primeira faculdade e, por sinal, numa modalidade condizente
com a sua situação, que é industrial por excelência” (Prestigiaremos com todo
nosso civismo a criação de Engenharia de Rio Grande. O Tempo. Rio Grande: 18 de novembro de 1952).
Foi
encaminhado um memorial ao prof. Eliseu Paglioli reitor da Universidade do Rio
Grande do Sul em Porto
Alegre , buscando o apoio para a criação do primeiro curso
superior na cidade. Para organização do Curso foi criada uma instituição de
caráter técnico-científico, de direito privado, chamada de Fundação Cidade do
Rio Grande, a qual foi oficializada em 8 de julho de 1953, sob presidência do
Eng. Bastos. Seu objetivo prioritário era promover a criação de uma Escola de
Engenharia Industrial para prover a especialização e aperfeiçoamento técnico de
pessoal para empreendimentos públicos e privados. Tinha também o objetivo de
criar, oportunamente, outras escolas de ensino técnico e ensino superior, cuja
necessidade mais fortemente se faça sentir, ante o adiantamento e o progresso
da cidade do Rio Grande. A Fundação também previa promover estudos e pesquisas,
nos domínios das atividades públicas e privadas, visando o desenvolvimento
industrial.
O
apoio dado pelo reitor Eliseu Paglioli nas tratativas junto ao Ministério da
Educação e a contribuição da Faculdade de Engenharia da URGS, foram decisivas
para formalização da proposta. O Decreto n 37.378, de 24 de maio de 1955
autoriza o funcionamento da Escola de Engenharia Industrial da Fundação Cidade
do Rio Grande, segunda escola de Engenharia do Rio Grande do Sul. A aula
inaugural ocorreu em 5 de março de 1956, no prédio da Biblioteca Rio-Grandense
onde funcionou até julho de 1960, sendo depois transferida para a atual rua
Eng. Alfredo Huch. A formatura da primeira turma de engenheiros ocorreu em
dezembro de 1960. Para o jornal O Tempo
de 4 de março de 1956, foi graças a um grupo de cidadãos rio-grandinos,
“cônscios dos seus deveres de bem servir a terra onde vivem e a grande pátria
brasileira, será instalada amanhã nesta cidade, tendo como sede a Biblioteca
Pública, a Escola de Engenharia de Rio Grande; desta forma, não só está de
parabéns a mocidade estudiosa como também a nossa cidade, pois, sem dúvida, tal
evento constitui um passo agigantado no setor do ensino superior”.
O
ensino superior diversifica-se pois, em 26 de agosto de 1958 foi instalada a
Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas. Em 8 de fevereiro de 1959 é
autorizado o funcionamento da Faculdade de Direito Clóvis Beviláqua, ligada a
Universidade Católica de Pelotas. Segue-se a autorização, em 19 de janeiro de
1961 para funcionamento da Faculdade Católica de Filosofia de Rio Grande, com
os cursos de Filosofia e Pedagogia, mantidos pela Mitra Diocesana de Pelotas.
Em 2 de maio de 1961, a
Escola de Engenharia Industrial é federalizada.
Vivia-se
um período de ufanismo, de crença no conhecimento científico e no
desenvolvimento tecnológico industrial. A cidade teve uma forte presença no
cenário da revolução industrial no Rio Grande do Sul, buscando nos anos 1950
superar a crise do esgotamento do modelo industrial dominante. Acreditava-se
que o conhecimento através do Ensino Superior tinha um caráter prático e até
pragmático. “Aqui, a gênese do ensino superior viria a ser uma escola dedicada
à formação de engenheiros, logo sucedida por outras duas instituições
concebidas para proporcionar aos jovens a formação profissional adequada a sua
rápida absorção pelo sistema econômico-produtivo local. Sonhava-se com um
futuro promissor para o Rio Grande, contexto em que se acreditava que a
realização desse sonho se daria mais rapidamente se a juventude local fosse
preparada profissionalmente em cursos de nível superior focados na aquisição de
competência técnica que os habilitasse a dar conta das complexas tarefas que o
desenvolvimento econômico em cursou ou almejado estava a exigir – evitando-se
que os jovens buscassem sua formação superior em outros centros, o que
representava o risco de que não retornassem ao Rio Grande” (NUNES, Cláudio Omar
Iahnke. Ciências Sociais Aplicadas. In: FURG
35 anos a serviço da comunidade. Rio Grande: Ed. da FURG, 2004, p. 47).
Como podemos
observar, na década de 1950, importantes inovações ocorreram no campo intelectual
da cidade do Rio Grande. O anúncio, em dezembro de 1952, do jornal Rio Grande sobre a tratativas para
instalação da Escola de Engenharia, prenunciava grandes transformações. No
período também ocorrerá o surgimento dos estudos científicos de oceanografia na
cidade, através da Sociedade de Estudos Oceanográficos. Neste sentido, os
primeiros estudos acadêmicos/científicos na cidade tiveram um caráter
pragmático e estiveram ligados aos estudos oceanográficos, especialmente em
relação à pesca industrial; enquanto a aplicação do conhecimento em nível de
engenharia esteve voltada ao parque industrial. Os dois campos pioneiros de
aplicação de estudos científicos avançados na cidade estão em coerência com sua
formação histórica: o convívio histórico com o mar desde o século XVIII e a
tradição industrial que remonta a década de 1870.
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