Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 19 de outubro de 2019

O SURGIMENTO DO ENSINO SUPERIOR

Biblioteca Rio-Grandense em fotografia da década de 1950, primeiro local onde funcionou a Escola de Engenharia. Acervo: Núcleo de Memória da FURG

Os anos dourados em Rio Grande, ou seja, a década de 1950, trouxe uma série de inovações no cenário científico-intelectual da cidade. Foi neste período que surgiu o ensino superior que no final da década seguinte levaria a criação da Universidade Federal do Rio Grande. No dia 18 de setembro de 1951, na casa do Eng. Francisco Martins Bastos, ocorreu uma reunião entre profissionais ligados ao setor público e privado, discutindo a criação de um Instituto Técnico Industrial, cuja finalidade era formar engenheiros. Desta reunião foi formada uma comissão composta pelos engenheiros Cícero Marques Vassão, Fernando Abott Torres e Thomas Paes da Cunha. A imprensa local recebeu com entusiasmo esta possibilidade de surgimento de cursos em nível superior numa das cidades pioneiras da industrialização no Brasil. A imprensa destacava a instalação do ensino superior seria a concretização de um ideal que permitiria que o rio-grandino não precise mais afastar-se de sua terra para colher os frutos do ensino superior. “Graças à alta compreensão de um grupo de engenheiros civis, radicados em nossa terra e em cooperação com a nossa gente, o Rio Grande dentro de breve terá a sua primeira faculdade e, por sinal, numa modalidade condizente com a sua situação, que é industrial por excelência” (Prestigiaremos com todo nosso civismo a criação de Engenharia de Rio Grande. O Tempo. Rio Grande: 18 de novembro de 1952).
         Foi encaminhado um memorial ao prof. Eliseu Paglioli reitor da Universidade do Rio Grande do Sul em Porto Alegre, buscando o apoio para a criação do primeiro curso superior na cidade. Para organização do Curso foi criada uma instituição de caráter técnico-científico, de direito privado, chamada de Fundação Cidade do Rio Grande, a qual foi oficializada em 8 de julho de 1953, sob presidência do Eng. Bastos. Seu objetivo prioritário era promover a criação de uma Escola de Engenharia Industrial para prover a especialização e aperfeiçoamento técnico de pessoal para empreendimentos públicos e privados. Tinha também o objetivo de criar, oportunamente, outras escolas de ensino técnico e ensino superior, cuja necessidade mais fortemente se faça sentir, ante o adiantamento e o progresso da cidade do Rio Grande. A Fundação também previa promover estudos e pesquisas, nos domínios das atividades públicas e privadas, visando o desenvolvimento industrial.
         O apoio dado pelo reitor Eliseu Paglioli nas tratativas junto ao Ministério da Educação e a contribuição da Faculdade de Engenharia da URGS, foram decisivas para formalização da proposta. O Decreto n 37.378, de 24 de maio de 1955 autoriza o funcionamento da Escola de Engenharia Industrial da Fundação Cidade do Rio Grande, segunda escola de Engenharia do Rio Grande do Sul. A aula inaugural ocorreu em 5 de março de 1956, no prédio da Biblioteca Rio-Grandense onde funcionou até julho de 1960, sendo depois transferida para a atual rua Eng. Alfredo Huch. A formatura da primeira turma de engenheiros ocorreu em dezembro de 1960. Para o jornal O Tempo de 4 de março de 1956, foi graças a um grupo de cidadãos rio-grandinos, “cônscios dos seus deveres de bem servir a terra onde vivem e a grande pátria brasileira, será instalada amanhã nesta cidade, tendo como sede a Biblioteca Pública, a Escola de Engenharia de Rio Grande; desta forma, não só está de parabéns a mocidade estudiosa como também a nossa cidade, pois, sem dúvida, tal evento constitui um passo agigantado no setor do ensino superior”.
         O ensino superior diversifica-se pois, em 26 de agosto de 1958 foi instalada a Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas. Em 8 de fevereiro de 1959 é autorizado o funcionamento da Faculdade de Direito Clóvis Beviláqua, ligada a Universidade Católica de Pelotas. Segue-se a autorização, em 19 de janeiro de 1961 para funcionamento da Faculdade Católica de Filosofia de Rio Grande, com os cursos de Filosofia e Pedagogia, mantidos pela Mitra Diocesana de Pelotas. Em 2 de maio de 1961, a Escola de Engenharia Industrial é federalizada.
         Vivia-se um período de ufanismo, de crença no conhecimento científico e no desenvolvimento tecnológico industrial. A cidade teve uma forte presença no cenário da revolução industrial no Rio Grande do Sul, buscando nos anos 1950 superar a crise do esgotamento do modelo industrial dominante. Acreditava-se que o conhecimento através do Ensino Superior tinha um caráter prático e até pragmático. “Aqui, a gênese do ensino superior viria a ser uma escola dedicada à formação de engenheiros, logo sucedida por outras duas instituições concebidas para proporcionar aos jovens a formação profissional adequada a sua rápida absorção pelo sistema econômico-produtivo local. Sonhava-se com um futuro promissor para o Rio Grande, contexto em que se acreditava que a realização desse sonho se daria mais rapidamente se a juventude local fosse preparada profissionalmente em cursos de nível superior focados na aquisição de competência técnica que os habilitasse a dar conta das complexas tarefas que o desenvolvimento econômico em cursou ou almejado estava a exigir – evitando-se que os jovens buscassem sua formação superior em outros centros, o que representava o risco de que não retornassem ao Rio Grande” (NUNES, Cláudio Omar Iahnke. Ciências Sociais Aplicadas. In: FURG 35 anos a serviço da comunidade. Rio Grande: Ed. da FURG, 2004, p. 47).
Como podemos observar, na década de 1950, importantes inovações ocorreram no campo intelectual da cidade do Rio Grande. O anúncio, em dezembro de 1952, do jornal Rio Grande sobre a tratativas para instalação da Escola de Engenharia, prenunciava grandes transformações. No período também ocorrerá o surgimento dos estudos científicos de oceanografia na cidade, através da Sociedade de Estudos Oceanográficos. Neste sentido, os primeiros estudos acadêmicos/científicos na cidade tiveram um caráter pragmático e estiveram ligados aos estudos oceanográficos, especialmente em relação à pesca industrial; enquanto a aplicação do conhecimento em nível de engenharia esteve voltada ao parque industrial. Os dois campos pioneiros de aplicação de estudos científicos avançados na cidade estão em coerência com sua formação histórica: o convívio histórico com o mar desde o século XVIII e a tradição industrial que remonta a década de 1870.   

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