Cartão-postal da Praça Tamandaré por volta de 1920. Prédio onde funcionou a SEORG na Praça Tamandaré. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande. |
A ideia de
criação da Sociedade de Estudos Oceanográficos do Rio Grande (SEORG) está
vinculada a Eliezer Carvalho Rios e Boaventura Barcellos. Conforme a Revista do Globo de 8 de setembro de
1956, também havia a participação do engenheiro Nicolas Vilhar “que fazia
coletas de peixes e do Eng. Cícero Vassão que estudava a constituição física da água, em sua
salinidade, temperatura, turbidez, etc.” Em
certo dia do ano de 1952, ao reunirem-se para um café, entre estes
profissionais surgiu a conversa de criação de uma sociedade de estudos
oceanográficos, o que tornou-se realidade com a Sociedade de Estudos
Oceanográficos do Rio Grande (SEORG) que foi fundada em 20 de março de 1953. O
primeiro presidente da Sociedade foi Geraldo Leite Serrano e o vice-presidente
Cícero Vassão.
Inicialmente,
a SEORG buscou um prédio para estabelecer o Museu Oceanográfico, pois neste
local seriam realizadas as pesquisas de laboratório e também a exposição do
acervo para os visitantes. Este prédio do início do século 20, foi obtido junto
à Prefeitura Municipal, através da Lei n°535, de 05/06/1953, pelo prazo de dez
anos, localizando-se na Praça Tamandaré e funcionando neste local de 1953 a 1972. Em maio de
1954, o artigo 1° desta Lei foi alterado, sendo o prédio cedido gratuitamente,
à Sociedade de Estudos Oceanográficos de Rio Grande enquanto a mesma existir.
Entre os
principais fatores que levaram ao surgimento desta Sociedade na década de 1950
está o interesse de seus fundadores pelos estudos oceanográficos - alguns deles
já desenvolviam trabalhos nessa área, ligados à indústria pesqueira; a
influência do meio ambiente a partir das possibilidades oferecidas pela
localização geográfica e recursos naturais da região; e a identificação do
setor pesqueiro industrial com a pesquisa oceanográfica como forma de
possibilitar um maior incremento de suas atividades.
Os
pesquisadores da área oceanográfica deste período estavam ligados a indústria
pesqueira, que prestava apoio material e por vezes financeiro. Conforme Eliezer Rios, também buscavam
contato com instituições desta área como é o caso do Serviço Oceanográfico e de
Pesca de Montevidéu.
Em setembro
de 1953 ocorreu à inauguração do Museu Oceanográfico e a SEORG estava
constituída pelos seguintes membros que exerciam suas atividades profissionais
e também se dedicavam à nova Sociedade: eng. Cícero Vassão (presidência e Departamento
de Oceanografia Física); advogado Leonel Romeu Neto (secretario); Ciro Luz
(tesouraria); Eliézer Rios e Boaventura Barcellos (Departamento de Oceanografia
Biológica). Para presenciar a inauguração do Museu viria do Uruguai o
hidrobiólogo Juan Soriano Señoras, professor da Faculdade de Ciências de
Montevidéu e “entusiasta dos estudos oceanográficos”, sendo um dos orientadores
técnicos da Sociedade. Isso demonstra, mais uma vez, as trocas existentes entre
pesquisadores riograndinos e uruguaios nesse período. Em comemoração a inauguração
do Museu ocorreu neste mês de setembro de 1953 a primeira Semana
Oceanográfica composta por um ciclo de palestras que buscavam levar a sociedade
local os problema ligados ao mar e a pesca.
A SEORG
busca convênios com os governos estadual e federal que buscavam o crescimento
do setor pesqueiro. Dando impulso a estas ações, em setembro de 1953 foi
inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas, o Entreposto de Pesca de Rio Grande,
obra que teve sua construção iniciada em 1939. Neste Entreposto foi instalado
um Laboratório de Bromatologia e
Tecnologia do Pescado. Neste laboratório foram realizadas pesquisas
voltadas a Melhoria na Industrialização do Pescado no Rio Grande do Sul através
de análises químicas e pesquisas dos produtos e subprodutos da pesca na cidade
do Rio Grande.
O
ano de 1953 é um marco para os estudos oceanográficos pela criação da SEORG,
inauguração do Museu Oceanográfico e organização da Semana Oceanográfica.
Também neste ano, a SEORG é reconhecida pela Lei n° 613 como de utilidade pública
municipal. O jornal Rio Grande de 23
de outubro de 1953, assim se expressou: “(...) Atos dessa natureza granjeiam a
simpatia da nossa população para os seus autores, porquanto trazem, como
resultado, facilidades maiores para o êxito de empreendimentos cuja única
finalidade é o aprimoramento cultural, como base para aplicações práticas que
determinarão o desenvolvimento do município”.
Apesar da
projeção nacional e internacional, a falta de recursos dificultou às atividades
desta sociedade particular que era mantida pelos sócios e pela cobrança de uma
taxa para visitação do museu. Em 1969, a Sociedade passou a ser administrada
pela Fundação Cidade do Rio Grande. A estrutura e prática já utilizadas para a
pesquisa oceanográfica desde os anos cinqüenta, certamente contribuíram para a
instalação de um curso superior de Oceanologia em Rio Grande no início dos
anos 1970. A
atuação incisiva da FURG no campo dos estudos oceanográficos leva a no ano de
1975, o Museu Oceanográfico ser doado para a Universidade Federal do Rio
Grande.
A pesquisa
oceanográfica realizada no Museu priorizou as áreas de malacologia, mamíferos
marinhos e museologia. A coleção malacológica organizada pelo prof. Eliézer de
Carvalho Rios e sua equipe constitui-se na mais completa coleção de moluscos
marinhos da América do Sul, utilizada para inúmeros estudos científicos
realizados por cientistas, estudantes e interessados na ecologia e sistemática
desses invertebrados. Constituindo o complexo de museus da FURG, foi inaugurado
em 7 de janeiro de 1997 o Museu Antártico, em 22 de abril de 1999 o Eco-Museu
da Ilha da Pólvora e em 9 de abril de 2003 o Museu Náutico. Teriam os
idealizadores da SEORG, imaginado que o pequeno Museu inaugurado em 1953, na
Praça Tamandaré, fosse gerar tantos frutos?
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