Porto do Rio Grande em 1908

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sábado, 19 de outubro de 2019

A SOCIEDADE DE ESTUDOS OCEANOGRÁFICOS

Cartão-postal da Praça Tamandaré por volta de 1920. Prédio onde funcionou a SEORG na Praça Tamandaré. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.


A ideia de criação da Sociedade de Estudos Oceanográficos do Rio Grande (SEORG) está vinculada a Eliezer Carvalho Rios e Boaventura Barcellos. Conforme a Revista do Globo de 8 de setembro de 1956, também havia a participação do engenheiro Nicolas Vilhar “que fazia coletas de peixes e do Eng. Cícero Vassão que estudava  a constituição física da água, em sua salinidade, temperatura, turbidez, etc.” Em certo dia do ano de 1952, ao reunirem-se para um café, entre estes profissionais surgiu a conversa de criação de uma sociedade de estudos oceanográficos, o que tornou-se realidade com a Sociedade de Estudos Oceanográficos do Rio Grande (SEORG) que foi fundada em 20 de março de 1953. O primeiro presidente da Sociedade foi Geraldo Leite Serrano e o vice-presidente Cícero Vassão.
Inicialmente, a SEORG buscou um prédio para estabelecer o Museu Oceanográfico, pois neste local seriam realizadas as pesquisas de laboratório e também a exposição do acervo para os visitantes. Este prédio do início do século 20, foi obtido junto à Prefeitura Municipal, através da Lei n°535, de 05/06/1953, pelo prazo de dez anos, localizando-se na Praça Tamandaré e funcionando neste local de 1953 a 1972. Em maio de 1954, o artigo 1° desta Lei foi alterado, sendo o prédio cedido gratuitamente, à Sociedade de Estudos Oceanográficos de Rio Grande enquanto a mesma existir.
Entre os principais fatores que levaram ao surgimento desta Sociedade na década de 1950 está o interesse de seus fundadores pelos estudos oceanográficos - alguns deles já desenvolviam trabalhos nessa área, ligados à indústria pesqueira; a influência do meio ambiente a partir das possibilidades oferecidas pela localização geográfica e recursos naturais da região; e a identificação do setor pesqueiro industrial com a pesquisa oceanográfica como forma de possibilitar um maior incremento de suas atividades.
Os pesquisadores da área oceanográfica deste período estavam ligados a indústria pesqueira, que prestava apoio material e por vezes financeiro.  Conforme Eliezer Rios, também buscavam contato com instituições desta área como é o caso do Serviço Oceanográfico e de Pesca de Montevidéu.
Em setembro de 1953 ocorreu à inauguração do Museu Oceanográfico e a SEORG estava constituída pelos seguintes membros que exerciam suas atividades profissionais e também se dedicavam à nova Sociedade: eng. Cícero Vassão (presidência e Departamento de Oceanografia Física); advogado Leonel Romeu Neto (secretario); Ciro Luz (tesouraria); Eliézer Rios e Boaventura Barcellos (Departamento de Oceanografia Biológica). Para presenciar a inauguração do Museu viria do Uruguai o hidrobiólogo Juan Soriano Señoras, professor da Faculdade de Ciências de Montevidéu e “entusiasta dos estudos oceanográficos”, sendo um dos orientadores técnicos da Sociedade. Isso demonstra, mais uma vez, as trocas existentes entre pesquisadores riograndinos e uruguaios nesse período. Em comemoração a inauguração do Museu ocorreu neste mês de setembro de 1953 a primeira Semana Oceanográfica composta por um ciclo de palestras que buscavam levar a sociedade local os problema ligados ao mar e a pesca.
A SEORG busca convênios com os governos estadual e federal que buscavam o crescimento do setor pesqueiro. Dando impulso a estas ações, em setembro de 1953 foi inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas, o Entreposto de Pesca de Rio Grande, obra que teve sua construção iniciada em 1939. Neste Entreposto foi instalado um Laboratório de Bromatologia e Tecnologia do Pescado. Neste laboratório foram realizadas pesquisas voltadas a Melhoria na Industrialização do Pescado no Rio Grande do Sul através de análises químicas e pesquisas dos produtos e subprodutos da pesca na cidade do Rio Grande.
         O ano de 1953 é um marco para os estudos oceanográficos pela criação da SEORG, inauguração do Museu Oceanográfico e organização da Semana Oceanográfica. Também neste ano, a SEORG é reconhecida pela Lei n° 613 como de utilidade pública municipal. O jornal Rio Grande de 23 de outubro de 1953, assim se expressou: “(...) Atos dessa natureza granjeiam a simpatia da nossa população para os seus autores, porquanto trazem, como resultado, facilidades maiores para o êxito de empreendimentos cuja única finalidade é o aprimoramento cultural, como base para aplicações práticas que determinarão o desenvolvimento do município”.
Apesar da projeção nacional e internacional, a falta de recursos dificultou às atividades desta sociedade particular que era mantida pelos sócios e pela cobrança de uma taxa para visitação do museu. Em 1969, a Sociedade passou a ser administrada pela Fundação Cidade do Rio Grande. A estrutura e prática já utilizadas para a pesquisa oceanográfica desde os anos cinqüenta, certamente contribuíram para a instalação de um curso superior de Oceanologia em Rio Grande no início dos anos 1970. A atuação incisiva da FURG no campo dos estudos oceanográficos leva a no ano de 1975, o Museu Oceanográfico ser doado para a Universidade Federal do Rio Grande.
A pesquisa oceanográfica realizada no Museu priorizou as áreas de malacologia, mamíferos marinhos e museologia. A coleção malacológica organizada pelo prof. Eliézer de Carvalho Rios e sua equipe constitui-se na mais completa coleção de moluscos marinhos da América do Sul, utilizada para inúmeros estudos científicos realizados por cientistas, estudantes e interessados na ecologia e sistemática desses invertebrados. Constituindo o complexo de museus da FURG, foi inaugurado em 7 de janeiro de 1997 o Museu Antártico, em 22 de abril de 1999 o Eco-Museu da Ilha da Pólvora e em 9 de abril de 2003 o Museu Náutico. Teriam os idealizadores da SEORG, imaginado que o pequeno Museu inaugurado em 1953, na Praça Tamandaré, fosse gerar tantos frutos?

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