Desde o
início da ocupação luso-brasileira em Rio Grande , o fornecimento de água potável para
os militares e habitantes civis era uma das prioridades. No interior da atual
praça Sete de Setembro (antiga praça do Poço) surgiu o primeiro local de
captação de água, uma cacimba que ficava fora dos muros do Forte
Jesus-Maria-José. Também na Praça Tamandaré (antiga Geribanda) ocorreria a coleta
de água pela população além da água trazida da Ilha dos Marinheiros desde os
primórdios do povoamento.
Com o
crescimento populacional, a necessidade de abastecimento foi sendo ampliada e
exigindo soluções mais arrojadas. Na década de 1870 os poços passam a ser
lacrados e a água é fornecida nas residências por encanamento. São instalados
quatro chafarizes onde também a população poderia ter acesso ao precioso
líquido, além de uma fonte situada na atual Praça Julio de Castilhos (antiga
Praça São Pedro), onde estava colocada a na época sensual ou quase explícita
estátua Vênus no Banho. Com estas
inovações foi construído um arrojado reservatório da Hidráulica.
Para
Solismar Martins (Cidade do Rio Grande:
industrialização e urbanidade), o reservatório da Hidráulica foi a solução
do problema da obtenção e contenção de água potável, recurso natural de difícil
aquisição, devido à inexistência de cursos d’água significativos, mesmo
tratando-se do abastecimento de uma população de pouco mais de 20.000
habitantes no final do século XIX. Após várias tentativas de obter água por meio de poços artesianos em vários locais
da cidade, em 1870 foi firmado entre o governo da província e a empresa Higino
Corrêa Durão & João Frick um contrato para o estabelecimento da primeira
captação e rede de distribuição de água. Foi fundada a Companhia Hidráulica
Rio-Grandense e erguida a caixa d’água da Hidráulica, no estilo Art Nouveau, em 1879, a três quilômetros da
cidade velha, sobre um terreno de 100 hectares . O reservatório metálico com
capacidade para 1.500.000
litros foi erguido de forma que ficasse eqüidistante
entre as duas margens do pontal arenoso onde está a cidade. Esta localização
foi estrategicamente pensada como forma de tentar evitar a salinização da água
obtida, seja pelas águas do Saco da Mangueira, ao sul, seja do Canal do
Norte. Verifica-se hoje que houve no
passar de mais de um século um aterramento maior na parte do pontal ao norte da
caixa d’água e o Saco da Mangueira. Uma outra opção estudada pelos técnicos na
época era a da implantação do reservatório da Ilha dos Marinheiros, o que
exigia maiores recursos financeiros para execução.
Fortunato
Pimentel (Aspectos do Município do Rio
Grande) informa que a caixa d’água foi erguida sobre colunas de ferro
fundido com 22,80cm de diâmetro e altura de quatro metros sobre o fundo,
estando este a 10 metros
de altura em relação ao nível do terreno. Outras estruturas foram construídas
como uma galeria circundante ao reservatório, assim como as bombas aspirantes e
calcantes que levavam a água captada ao reservatório por meio de motores de 18
HP. Além disso, 27.616
metros de tubulação foram instalados para distribuição
da água, divididos em tubos de nove, cinco e três polegadas. O reservatório foi
erguido com sua frente voltada para o Parque Rio-Grandense, atual espaço
ocupado pelo Parque do Trabalhador. Esta área também tem uma importância
histórico-arqueológica, pois nestas imediações existiu a maior fortificação
militar já construída em
Rio Grande a partir do final de 1737, o Forte de Sant’Anna do
Estreito, uma linha defesa que ligava o Saco da Mangueira com a Lagoa dos
Patos, sendo constituída por dezenas de canhões. O local continuou a ser
estratégico, pois no final do século 19, foi nas imediações da Hidráulica, que
tropas republicanas organizaram a defesa da cidade durante a Revolução
Federalista no ano de 1894.
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