Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 19 de outubro de 2019

A HIDRÁULICA

Reservatório escocês da Hidráulica do Rio Grande. Acervo: papareia.

Desde o início da ocupação luso-brasileira em Rio Grande, o fornecimento de água potável para os militares e habitantes civis era uma das prioridades. No interior da atual praça Sete de Setembro (antiga praça do Poço) surgiu o primeiro local de captação de água, uma cacimba que ficava fora dos muros do Forte Jesus-Maria-José. Também na Praça Tamandaré (antiga Geribanda) ocorreria a coleta de água pela população além da água trazida da Ilha dos Marinheiros desde os primórdios do povoamento.
Com o crescimento populacional, a necessidade de abastecimento foi sendo ampliada e exigindo soluções mais arrojadas. Na década de 1870 os poços passam a ser lacrados e a água é fornecida nas residências por encanamento. São instalados quatro chafarizes onde também a população poderia ter acesso ao precioso líquido, além de uma fonte situada na atual Praça Julio de Castilhos (antiga Praça São Pedro), onde estava colocada a na época sensual ou quase explícita estátua Vênus no Banho. Com estas inovações foi construído um arrojado reservatório da Hidráulica.   
Para Solismar Martins (Cidade do Rio Grande: industrialização e urbanidade), o reservatório da Hidráulica foi a solução do problema da obtenção e contenção de água potável, recurso natural de difícil aquisição, devido à inexistência de cursos d’água significativos, mesmo tratando-se do abastecimento de uma população de pouco mais de 20.000 habitantes no final do século XIX. Após várias tentativas de obter água  por meio de poços artesianos em vários locais da cidade, em 1870 foi firmado entre o governo da província e a empresa Higino Corrêa Durão & João Frick um contrato para o estabelecimento da primeira captação e rede de distribuição de água. Foi fundada a Companhia Hidráulica Rio-Grandense e erguida a caixa d’água da Hidráulica, no estilo Art Nouveau, em 1879, a três quilômetros da cidade velha, sobre um terreno de 100 hectares. O reservatório metálico com capacidade para 1.500.000 litros foi erguido de forma que ficasse eqüidistante entre as duas margens do pontal arenoso onde está a cidade. Esta localização foi estrategicamente pensada como forma de tentar evitar a salinização da água obtida, seja pelas águas do Saco da Mangueira, ao sul, seja do Canal do Norte.  Verifica-se hoje que houve no passar de mais de um século um aterramento maior na parte do pontal ao norte da caixa d’água e o Saco da Mangueira. Uma outra opção estudada pelos técnicos na época era a da implantação do reservatório da Ilha dos Marinheiros, o que exigia maiores recursos financeiros para execução.
Fortunato Pimentel (Aspectos do Município do Rio Grande) informa que a caixa d’água foi erguida sobre colunas de ferro fundido com 22,80cm de diâmetro e altura de quatro metros sobre o fundo, estando este a 10 metros de altura em relação ao nível do terreno. Outras estruturas foram construídas como uma galeria circundante ao reservatório, assim como as bombas aspirantes e calcantes que levavam a água captada ao reservatório por meio de motores de 18 HP. Além disso, 27.616 metros de tubulação foram instalados para distribuição da água, divididos em tubos de nove, cinco e três polegadas. O reservatório foi erguido com sua frente voltada para o Parque Rio-Grandense, atual espaço ocupado pelo Parque do Trabalhador. Esta área também tem uma importância histórico-arqueológica, pois nestas imediações existiu a maior fortificação militar já construída em Rio Grande a partir do final de 1737, o Forte de Sant’Anna do Estreito, uma linha defesa que ligava o Saco da Mangueira com a Lagoa dos Patos, sendo constituída por dezenas de canhões. O local continuou a ser estratégico, pois no final do século 19, foi nas imediações da Hidráulica, que tropas republicanas organizaram a defesa da cidade durante a Revolução Federalista no ano de 1894.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário