Área central da cidade do Rio Grande. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande. |
Rio
Grande está inserida no ecossistema costeiro do extremo sul do Brasil. O
convívio histórico com as águas fez parte da cultura local desde o século 18. A localização estratégica
junto ao estuário da Lagoa dos Patos e da Barra do Rio Grande foi decisivo para
o povoamento da localidade. O fator do surgimento de inúmeros povoamentos
inclusive de algumas das maiores cidades do planeta, tiveram o seu nascimento
junto a cursos de água ou a deltas (com o do Rio Nilo). As águas representam ao
longo da história humana, fertilidade para a agricultura e pecuária;
abastecimento da população do líquido essencial para a vida do corpo; a
navegação que transporta a produção e amplia as áreas de atuação geopolítica
das nações; o crescimento urbano promovido pela criação de pólos industriais
que absorvem grande mão-de-obra; além de serem espaços lúdicos no contexto da
indústria turística. Conforme ressaltou o historiador Christophe Courau (História Viva, Duetto Editorial, n. 90,
abril de 2011), a busca pela água é uma das mais antigas atividades humanas. Ao
longo dos séculos, os homens desenvolveram técnicas cada vez mais sofisticadas
para controlar cursos fluviais e armazenar seu conteúdo, chegando a guerrear
por eles. A abundância do líquido é também um dos fatores responsáveis pelo
nascimento das grandes civilizações antigas.
Às
primeiras formas de domesticação da água foi para o uso na agricultura nas antigas
civilizações que transferiram a água dos rios para as lavouras: os babilônios,
no atual Iraque, e os egípcios, que são os inventores das primeiras barragens e
da hidrologia. Na ilha de Creta, a 2.500 a .C., já existia um sistema de canais que
levava água até as casas. Na mesma época, a civilização harappeana, no atual
Paquistão, possuía casas com chuveiros e latrinas. Na cidade de Roma, 400 anos
antes de Cristo, foi inaugurado o seu primeiro sistema de esgotos. O primeiro
aqueduto, chamado de Aqua Appia,
começou a levar água até a cidade através de canais de alvenaria 100 anos antes
de Cristo. No final do Império Romano, havia 11 aquedutos, tendo o maior deles 68 km de extensão. Estes
dados não indicam que havia abundância no fornecimento de água ou condições de
higiene sofisticadas na antiguidade ou período posteriores. São dados
indicadores de técnicas e tentativas de avanço na captação do precioso líquido.
Na Idade
Média a escassez de água potável torna-se crônica. Além do consumo, a água tem
a função de escoamento do esgoto cloacal. Com a ausência de obras de esgoto
para este fim, as famílias jogavam os detritos nas ruas, onde permaneciam até
que a chuva os levasse, num cenário que persistiu no cotidiano do Brasil
Colonial e Imperial. No século 19, enfatizou-se a função higiênica da água a
partir do olhar científico da medicina.
A água poluída passa a ser fator explicativo para doenças que assolavam as
cidades da época. É o caso de Paris que contava com 1 milhão de habitantes em
1850 e recebia um pequeno volume de água potável para esta população. A
epidemia de cólera no ano de 1854 matou mais de 11.000 pessoas nesta cidade, uma doença transmitida
na água contaminada pelo vibrião colérico. Duas décadas depois, Paris estava servida com
ampla rede de esgotos e de fornecimento de água, estruturas utilizadas até
hoje.
Este
“ouro azul” é indispensável para a vida humana e para as atividades produtivas.
No Oriente Médio, o seu controle é um dos motivos do atual conflito
árabe-israelense, pois 60% da água consumida no Estado judeu provém dos territórios
palestinos. Conflitos étnicos na África estão relacionados à disputa pela água.
Várias áreas de tensão no conflito pela água poderão desencadear enfrentamentos
diplomáticos e militares nos próximos anos. A tendência é a situação agravar-se
pois o consumo tem subido intensamente. Não esqueçamos que a população mundial
já passou dos 6 bilhões habitantes. A falta de água tratada ainda é fator da
mortalidade de milhões de pessoas contaminadas por microorganismos.
Conforme Christophe
Courau, em apenas um século o consumo mundial foi multiplicado por sete. Esse
fenômeno é conseqüência de fatores como o aumento da atividade agrícola e
industrial, a melhoria do conforto doméstico e o crescimento demográfico. Para
produzir um quilo de trigo são necessários 1.500 litros de água; 4.500 litros para um
quilo de arroz; 40.000
litros de água para um quilo de carne. Entre 65% e 70%
de toda a água consumida pelo homem se destina à irrigação de lavouras e
pastos; as atividades industriais utilizam entre 20% e 25% e 10% são voltados
ao uso doméstico. A batalha pelo “ouro azul” também pode ser travada sob outros
olhares: a manutenção de um campo de golfe nas proximidades do mar Mediterrâneo
consome 500 mil m³ por ano, o suficiente para abastecer uma cidade de 13.000 habitantes...
No
Brasil, que possui um dos maiores potenciais hídricos do planeta, até o ano de
2015, 55% dos atuais 5.565 municípios terão problemas de abastecimento de água.
Incluindo grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo
Horizonte, Porto Alegre e o Distrito Federal. Segundo o Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água, elaborado pela Agência
Nacional de Águas (ANA), serão necessários investimentos de R$ 22 bilhões para
evitar a escassez do precioso líquido. Não esqueçamos que a população brasileira
tem aumentado em torno de 2 milhões de pessoa a cada ano. Somente nos últimos
40 anos, são 100 milhões a mais de brasileiros que hoje somam 190 milhões. Os
recursos do planeta são finitos ou infinitos... A projeção é que o “ouro azul”
se tornará nas próximas décadas um bem cada vez mais precioso.
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