Fotografia da Rua Marechal Floriano em 1865. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
Poucas são as notícias da década da primeira
metade da década de 1830 na Vila do Rio Grande de São Pedro. O primeiro jornal
a registrar acontecimentos diariamente vividos pela população foi o jornal O Noticiador, que teve o seu primeiro
número lançado em 1832. Francisco Xavier Ferreira e o padre Bernardo Viegas
estiveram diretamente ligados a este periódico de cunho liberal-radical.
Pagaram com suas vidas pelas idéias defendidas num dos períodos mais
conturbados da história brasileira: o período Regencial.
Algumas notícias apresentadas nos
permitem um olhar sobre o que ocorria na então Vila do Rio Grande de São Pedro
que a partir de junho de 1835 passaria a denominar-se cidade do Rio Grande.
Podemos constatar que algumas novidades tiveram grande importância por décadas
como o Teatro Sete de Setembro que estava surgindo e que importantes mudanças
ocorriam na Praticagem da Barra que trazia o declínio a um dos personagens
fundamentais nas primeiras décadas do século 19 - Francisco Marques Lisboa. O
jornal registrou o abandono de peças de artilharia nas trincheiras evidenciando
a sua existência desde a década de 1820, e demarcando a cidade que vive dentro
dos muros e a cidade extramuros. Neste período está surgindo a Sociedade de Beneficência
e a inauguração de um hospital, entrando em cena até o presente a Santa Casa de
Misericórdia. Os problemas de navegação na Barra do Rio Grande e o medo dos
ventos de um forte temporal soterrarem a Vila do Rio Grande também ficou
registrado nas páginas do O Noticiador.
O
crescimento da Vila do Rio Grande: O Noticiador informava com orgulho que “a Vila do Rio Grande já
contava com mais de seiscentos fogos” [casas] (24 de fevereiro de 1832).
Praticagem da Barra:
Tendo caído o monopólio de Praticagem da Barra, de Francisco Marques Lisboa,
contra o qual havia grandes queixas, de 1º de dezembro de 1834 em diante, o
serviço passou a ser feito livremente. Os antigos práticos José da Rosa Pereira
e Manuel Joaquim da Rosa fizeram uma sociedade, propondo-se a dirigir as
embarcações tanto na entrada como na saída, para o que dispunham de uma catraia
e lancha e outras pequenas embarcações para levarem pratico a bordo de qualquer
navio. O preço da praticagem continuava o mesmo de 20$000 por cada embarcação”
(21 de novembro de 1834).
Indenização
ao patrão-mor: “Por decreto de 24 de outubro de 1832, foi
declarada livre a praticagem da Barra do Rio Grande, devendo ser o prático-mor
indenizado das propriedades que tinha naquele lugar, necessárias para a
segurança e comodidade do comércio” (22 de novembro de 1832).
A
Barra: “Acha-se na Barra para seguirem a diversos portos 20
embarcações, algumas há mais de mês; a razão, segundo fomos informados, parece
ser a falta de água para saídas, ao mesmo tempo em que as entradas tem sido
mais felizes” (19 de fevereiro de 1834).
Próprios
Nacionais em Abandono: O jornal afirma que existiam nas
trincheiras, enterradas na areia, muitas peças de artilharia, rodízios e obuses,
algumas de bronze; que essas peças tinham sido colocadas em diversos pontos de
uma irrisória trincheira que custara quarenta contos; que o portão das
trincheiras e a Casa da Guarda Militar do Moinho de Vento [como se chamava a
Aquidaban] estavam caindo em ruínas, que já lhe tinham roubado portas e janelas
e estava desaparecendo a telha; que das casas que tinham servido de quartéis e
armazéns de depósitos só restavam os míseros restos do traquete roto; que no
centro da vila ainda existia um horrendo calabouço, no qual jazeram enterradas
muitas vítimas do despotismo e da prepotência dos pachás comandantes da vila até 1828; que seria melhor reparar este
calabouço, abrindo-lhe janelas, para servir de cadeia, visto que a da vila
estava caindo aos pedaços, dando-se seguidamente arrombamentos noturnos” (2 de
agosto de 1832).
Teatro: Em
7 de setembro de 1832 foi inaugurado o novo Teatro Sete de Setembro, sendo
representada ‘ a insigne peça de Antonio Xavier de Azevedo’, ‘o bom amigo’.
Ante de começar o espetáculo, recitou um elogio Carlos Antonio da Silva Soares.
Terminou o divertimento com uma ‘jovial e graciosa pantomima e com a farsa
intitulada ‘O Casamento por gazeta’. Em tudo isto fez sentir a Companhia, com
bastante espírito e jocosidade, o engraçado do enredo e a boa execução dos
autores” (10 de setembro de 1832).
Grande
Temporal. “No dia 2 do corrente, pelas 4 e meia da tarde, tendo
precedido um calor excessivo, ausência de sol, ar sombrio e vento brando do
noroeste, repentinamente se levantou uma ventania tão forte que, se durasse
mais tempo, teria esta vila de ser destruída na maior parte de seus edifícios,
ou de todo submergida. Aquela coluna de vento julgamos que subsistiu 5 minutos,
e a areia que circunda a vila por uma parte, voou por toda ela de tal modo que
nuvens de semelhante terra movediça a circularam a uma distância incrível que
parecia noite. De todas as casas , altas e baixas, destruiu mais ou menos os
telhados e lançou por terra grande número de muros, algumas de parede dobrada
feita a cal, arrancou arvoredos, quebrou
vidraças grande parte das telhas arremessadas do vento sobre as que estavam
fronteiras, derrubou algumas pequenas casas, arremessou ao mar próximo e cobriu
de areia grande quantidade de roupa que estava estendida no lugar onde se
costuma lavar, e só neste genro causou considerável prejuízo. No mar, dizem que
se viraram algumas pequenas embarcações, que morreram algumas pessoas, o que
ainda não está bem averiguado. Abrandou muito, e com a mesma rapidez o vento.
Seguiu-se uma grossa chuva de grandes pedras, algumas de peso de uma onça, que
também concorreu para a quebra das vidraças, e passando algum espaço cessou,
continuando toda a noite a chuva ordinária e vento” (7 de outubro de 1833).
A
Sociedade de Beneficência: “Em 20 de novembro de 1831 foi
instalada no Rio Grande a Sociedade de Beneficência, destinada a melhorar a
condição da classe indigente e desvalida. Foram seus iniciadores setenta e
cinco dos mais distintos cidadãos da vila. Francisco Xavier Ferreira,
presidente; padre Bernardo José Viegas, secretário; Isabel Eufrásia de
Oliveira, Anna Joaquina Afonso Braga, Fernandes Duarte, Francisco Inácio da
Silveira, José Maria de Sá, Custódio José Antunes Guimarães, João da Costa
Goulart e Vicente Manoel Espíndola” (3 de janeiro de 1832).
A
inauguração do hospital: “Os honrados habitantes desta vila e
seu termo, que sempre se distinguiram em dons nacionais e que sempre celebraram
as suas festividades patrióticas com grandeza e profusão; os briosos
rio-grandenses que formaram uma sociedade e subscreveram voluntariamente para a
ereção e sustentação de um suntuoso teatro, muito próximo a concluir-se; o
interessante Corpo de Comércio que instituiu uma associação por empresas para a
difícil abertura de um canal, cujos resultados serão da maior utilidade para
esta província e de considerável aumento para esta vila; não podiam deixar de
correr com emulação a exarar seus nomes nesta prestante sociedade. Discurso de
Francisco Xavier Ferreira no dia da inauguração do novo hospital” [o atual da
Santa Casa teve a pedra fundamental colocada em 1850] (16 de julho de 1832).
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