Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 22 de outubro de 2019

NOS MUROS DA CIDADE ANTIGA


Fotografia da rua da Praia (rua Marechal Floriano), altura da rua da Cadeia (rua dos Andradas) em 1865. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

          Histórias, anúncios, produtos, notícias e curiosidades eram divulgados pelos jornais da cidade do Rio Grande no século XIX.  Neste período a cidade vivia dentro de muros ou trincheiras e através do jornal é possível conhecer um pouco do que fazia parte do dia-a-dia da população. A vida dentro dos muros da cidade antiga emerge nestas matérias.

          Manual de Civilidade: “A venda na Casa de Mello Código do Bom Tom ou Regras de Civilidade e Bem Viver no século XIX por J. I. Roquette”. A Imprensa, 11 de maio de 1855.
         “O Clube do Comércio se estabelece na rua Riachuelo no local da Sociedade Euterpina”. Diário do Rio Grande, 4 de janeiro de 1867.
Em alguns casos, a rua Riachuelo (assim denominada a partir de 1865) continua a ser chamada pelo nome antigo de rua da Boa Vista: “A Caixa Filial do London e Brazilian Bank Limited está localizada na rua da Boa Vista n.29”. Diário do Rio Grande, 4 de janeiro de 1867.
         O coração de Napoleão Bonaparte: “Quando morreu Bonaparte em Santa Helena, foi-lhe tirado o coração para ser embalsamado. O médico inglês a quem foi confiado este órgão extraordinário, tinha-o depositado em um vaso de prata com água, e deitou-se tendo acendido duas luzes no pé dele. Depois contava muitas vezes aos seus amigos que estava inquieta, e não poderá dormir porque conheceu a importância do depósito que lhe confiaram. Estando meio acordado na cama, ouviu no silêncio da noite um leve rumor, depois o movimento como de coisa que se mexia na água e por fim o ruído de coisa caída no chão. Saltou fora da cama e imediatamente conheceu a causa daquele ruído. Era um rato que arrastava para a sua toca o coração de Bonaparte. Se tarda mais alguns instantes aquele coração que nunca se poderá satisfazer com a soberania da Europa continental, teria sido roído pelos ratos. O general Montholon confirmou este fato.” Diário do Rio Grande, 11 de janeiro de 1867.
         Altas horas: “Foram presos e recolhidos à cadeia os pretos Manuel, escravo de José dos Santos Lontra, à requisição de seu senhor; Francisco, escravo de José Martins; Leonardo, escravo de Virgolino Barteloti; Adão, escravo de D. Joaquina Vieira; Martinho, escravo de Joaquim das Saudades; Antonio, escravo de Manuel Ferreira; todos por andarem na rua fora de horas”. Diário do Rio Grande, 22 de janeiro de 1867.
         “Quem precisar de uma ama de leite, muito carinhosa para crianças, dirija-se a loja de Zifirino e Cia, rua 16 de Julho, que se lhe darão as informações necessárias”. Diário do Rio Grande, 22 de janeiro de 1867.
         O álcool e a Revolução Industrial: “A embriaguez é a grande e principal causa da loucura das enfermidades e dos crimes de toda espécie (...) O consumo de licores fortes era nos Estados Unidos em 1828 de 300 milhões de litros (...) Em Manchester, Glasgow e Londres a miséria que se vê nos quarteirões e distrito onde reside a pobreza destas cidades é realmente horrorosa e medonha. É, na verdade, necessário ter visitado aqueles lugares, para formar-se uma idéia do espetáculo que apresenta a população embrutecida pelo gim, daqueles homens, daquelas mulheres de rosto lívido, de andar titubeante, cobertos de ignóbeis trapos, que dormem promiscuamente em subterrâneos úmidos, onde só penetra luz pela porta, que dá para becos nauseabundos, sem a menor noção de religião ou mesmo de pudor. E, no entanto, os salários são de trinta, quarenta e mesmo cinqüenta francos por semana. Mas a embriaguez e o vício tudo absorvem. Na Suécia o país que ocupa o mais alto grau nesta vergonhosa escala, o consumo atinge a 200 milhões de litros, cerca de 100 litros por pessoa (...) Em França, de 1828 a 1846, a produção do veneno mortífero denominado aguardente teve um aumento de mais de metade (...) há distritos nas cidades fabris francesas em que existem quase tantas tavernas quanto casas. E que tavernas!”. Diário do Rio Grande, 1 de fevereiro de 1867.
         Quase filantrópico: “Na Praça Sete de Setembro foram achadas seis colheres de prata para sopa, por um preto escravo; a quem pertencerem queira dirigir-se à rua Pedro II moradia do finado João Dias Viana, que dando os sinais certos os receberá pagando este anúncio”. Diário do Rio Grande, 2 de fevereiro de 1867.
         Imigração norte-americana para o Rio Grande do Sul: “há nos Estados do Sul uma grande massa de habitantes que desejam ardentemente abandonar a mãe pátria por uma pátria nova onde se lhe ofereçam boas terras, boas leis e boa hospedagem. Voltam dali os olhos para o Império, mormente agora que por uma lei do congresso foram os Estados Unidos submetidos a regime militar”. Diário do Rio Grande, 25 de abril de 1867.
         Dicas de higiene na Era dos Urinóis: “Nas casas particulares onde por falta de cômodos as evacuações se praticam em urinóis, usando de água e caparosa não se precisaria queimar alfazema ou pastilhas, fumaças que obscurecem o mau cheiro mas não o neutralizam. Dr. Afonso Gassier, Piratini.” Diário do Rio Grande, 9 de abril de 1867.
         Filantropia: “No dia 21 a noite, neste antro de miséria onde jazia a infeliz viúva e órfão, penetrou ainda o flagelo da época (cólera). Essa pobre senhora cercada de 4 inocentes, o mais velho dos quais não conta mais de 7 anos e o mais moço 10 meses, foi encontrada deitada no chão de sua humilde casa violentamente atacada e quiçá prestes a morrer. Um cavalheiro filantropo dirigiu-se a essa sinistra habitação, acompanhado de um médico para socorrer a esses desvalidos: todos os obstáculos ali existiam reunidos para impossibilitar que a enferma recebesse o menor socorro, assim o dizia o médico, e era uma verdade evangélica. Todos os obstáculos, porém, foram vencidos pelo grande coração do filantropo que imediatamente levou para sua casa, para o seio de sua família a inditosa, prestes a morrer e seus quatro filinhos, e hoje, devido aos extremos do médico, do filantropo e de sua estimável família, a infeliz está salva, a mãe está entregue aos seus filhos... O grande coração, o homem bemfazejo, foi o sr. Dr. José Joaquim Cândido de Macedo”. Diário do Rio Grande, 24 de março de 1867.
         A construção do paiol na Ilha da Pólvora: “Pela inspetoria da Alfândega se faz público que, além das madeiras para construção da casa da pólvora, na Ilha do Gonçalinho, cuja compra foi anunciada pelo edital desta inspetoria impresso nos periódicos desta cidade com data de 24 de janeiro último, compra-se mais os seguintes materiais: 860 toneladas de pedra alvenaria, 143.000 tijolos, 7.500 telhas, 3.446 alqueires de cal, 6.793 ditas de areia grossa. Inspetor Antonio de Sá Brito”. Diário do Rio Grande 26 de fevereiro de 1856. 

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