Bloco Só Sai de Dia (1937). Acervo: Papareia. |
Grupo Carnavalesco Arara em 1914. Acervo: Papareia. |
Banho à fantasia do Clube Regatas. Acervo: Papareia. |
O antropólogo
Roberto da Matta interpreta o carnaval brasileiro como um rito de inversão, uma
subversão das hierarquias cotidianas que transforma os pobres em faraós, os
ricos em mascarados, os homens em mulheres e o recato em luxúria.
O carnaval
atual, do Rio de Janeiro, com seus regulamentos rigorosamente estabelecidos
para os desfiles das escolas de samba, tiveram uma história muito diferente
quando do seu surgimento. O carnaval
carioca teve a participação ativa dos grupos de foliões e dos habitantes de
ruas centrais da cidade que ali passaram a promover a festa. A implantação
definitiva de uma nova forma de brincar durante do carnaval ocorreu no ano de
1855, com a criação no Rio de Janeiro, por um grupo de amigos, de uma sociedade
chamada de Congresso de Summidades
Carnavalescas que tinha por objetivo passear pelas principais ruas do
centro com carruagens decoradas nas quais cidadãos da elite exibiam fantasias
vindas de Paris. Afinal, após a Independência do Brasil em 1822, a elite brasileira
começa a se distanciar dos modelos culturais de Portugal e aproxima-se dos
modelos franceses. Esta nova festa carnavalesca seria um divertimento moderno e
elegante, diferente das festas populares do entrudo ligadas à tradição
portuguesa.
Conforme
Felipe Ferreira, doutor em Geografia Cultural , o costume de comemorar o período imediatamente
anterior à Quaresma, denominado entrudo, já existia em terras brasileiras desde
as primeiras décadas do século XVI. Apresentada de diferentes formas, a
depender da época ou do lugar, a brincadeira era inicialmente muito semelhante
às balbúrdias medievais conhecidas como charivaris. Em nosso país esse costume
encontraria um solo fértil, espalhando-se de norte a sul. Com o passar das
décadas, os principais centros urbanos iriam desenvolver jeitos próprios de
brincar nesse período do ano. Em finais do século XVIII, a principal
característica do entrudo era o costume de as pessoas lançarem, umas nas
outras, pós e líquidos, geralmente perfumados. Sem se concentrar em um só
local, a brincadeira acontecia dentro das casas, em sua versão familiar, ou nas
ruas, na forma de Entrudo Popular. Durante três séculos, essa foi à
manifestação característica do carnaval, no Brasil, quando jogava-se cabaças
com farinhas e bexigas de água nas pessoas. Os viajantes estrangeiros relatavam
com indignação estas manifestações carnavalescas pedindo a sua proibição.
Para Ferreira, entre outras ações, buscava-se implantar uma festa
carnavalesca capaz de refletir o gosto da nova elite ascendente. Bailes, como
os da Ópera de Paris, e desfiles de carruagem ao estilo italiano tomavam conta da folia da capital da França e
passavam a ser copiados pela burguesia brasileira. Importantes pontas-de-lança
do carnaval que a burguesia brasileira desejava implantar por aqui, esses
bailes eram eventos isolados, realizados dentro de salões ou teatros. As ruas
das cidades ficavam, portanto, entregues ao grosseiro entrudo, que o novo
carnaval procurava sufocar com sua sofisticação. Ocupar as ruas passou a ser um
dos principais objetivos da elite, ao organizar grupos de foliões dispostos a
desfilar a céu aberto.
Dos bailes
carnavalescos mais concorridos até o final da década de 1940 estava o do Cinema
Politeama. As 1.500 cadeiras do Politeama eram retiradas transformando-se o
local num imenso salão de baile. Célio Soares também afirma que a primeira
escola de samba do Rio Grande do Sul foi criada na cidade em dezembro de 1945, a Escola de Samba
General Vitorino, que fez sua estréia triunfal nos festejos da vitória dos
aliados frente ao Eixo no carnaval de 1946. De fato era um bloco formado por
homens vestidos de calça branca, camisa de malandro e chapéu de palha, e as
pastoras, moças trajando saia e blusa do mesmo padrão. Não existia enredo nem
as alas, que já predominavam no carnaval carioca. Diga-se que, o início dos
desfiles das escolas de samba do Rio, ocorreu a partir de 1928.
Outra
prática carnavalesca que perdurou até a década de 1960 foram os banhos à
fantasia, na chamada terça-feira gorda. Na parte da tarde, aconteciam no cais
do Porto Velho e também no Cassino. No Porto Velho, próximo ao prédio da
Alfândega, participavam clubes náuticos como o Regatas e o Honório Bicalho, que
tinham intensa participação nas atividades carnavalescas.
Em tempo um
aviso aos carnavalescos: a festa termina hoje. Amanhã começa o jejum da
quaresma...
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