Darwin em pintura de 1830 de G. Richmon. |
Beagle em pintura de 1841, autor Owen Stanley. |
O naturalista inglês Darwin é um dos cientistas de maior
destaque dos dois últimos dois séculos. A biologia e a genética contemporânea
fundamenta suas interpretações na teoria da evolução. Darwin mostrou que todas as espécies
descendem de um ancestral comum, uma forma de vida simples e primitiva. Este
processo foi batizado de seleção natural, as espécies evoluem ao longo das
eras, sofrendo mutações aleatórias que são transmitidas para seus descendentes.
Essas mutações podem determinar a permanência da espécie na Terra ou sua
extinção – dependendo da capacidade de adaptação ao ambiente. É o que consta no
longo estudo publicado em 1859
A Origem das Espécies.
Para Darwin
o mundo não foi criado por ninguém nem é imutável; os organismos descendem de
um ancestral comum que em última instância é uma bactéria unicelular; as
populações vão se diferenciando de geração em geração, até que a espécie não
mais pertence ao mesmo galho da árvore da vida; os seres humanos sofrem
mutações genéticas e podem passá-las aos seus descendentes; as espécies tendem
a se diferenciar, criando novas espécies; homens e macacos descendem de um
ancestral comum que viveu milhões de anos atrás e que deu origem as diferentes
espécies.
Darwin
pesquisou durante 21 anos para publicar o livro revolucionário. Nasceu na
Inglaterra em 1809 e aos 22 anos, embarcou no navio Beagle em 1832 para pesquisar e coletar espécies em quatro
continentes, numa viagem de quase 5 anos. Esteve no Brasil, fazendo pesquisas
em Fernando de Noronha, Bahia e Rio de Janeiro. Infelizmente não fez escalas no
Porto Velho do Rio Grande quando de sua passagem para Montevidéu e Terra do
Fogo. Se tivesse visitado a então Vila do Rio Grande de São Pedro,
possivelmente, teria deixado escritos de sua impressão. Durante a estadia do naturalista
francês Auguste Saint-Hilaire, em 1820, ele deixou a seguinte descrição da
entrada da Barra do Rio Grande: “Nada
se iguala à tristeza desses lugares. De um lado, o bramir do oceano; e do
outro, o rio. O terreno, extremamente plano e quase ao nível do mar, é todo
areal esbranquiçado, onde crescem plantas esparsas, especialmente o senecio. As
choupanas, mal conservadas, só anunciam miséria: destroços de embarcações
semi-enterradas na areia recordam pungentes desgraças e nossa alma se enche,
pouco a pouco, de melancolia e terror”.
Em
1832, quando o Beagle passou ao largo da Barra do Rio Grande rumo ao Prata, o
Porto Velho estava dinamizado pela economia do charque e o comércio de
exportação, num período de expansão, antes da retração econômica promovida pela
Revolução Farroupilha (1835-45) com a desestruturação das atividades
pecuário-charqueadoras. Teria visto escravos negros entrando por Rio Grande e
em grande parte seguindo para outras regiões da Província do Rio Grande do Sul,
o que lhe causaria repugnância como deixou atestado em escritos sobre a
escravidão e corrupção no Brasil: “É algo aterrador ouvir os crimes monstruosos
que se cometem diariamente e escapam sem punição. Se um escravo mata o seu
senhor, depois de ficar confinado algum tempo, ele se torna propriedade do
governo. Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra um homem
de posses, é seguro que em pouco tempo ele estará livre. Todos aqui podem ser
subornados”.
Darwin
poderia visitar o recentemente fundado jornal O Noticiador, editado por Francisco Xavier Ferreira e pelo padre
Bernardo Viegas (que foi assassinado no ano seguinte). Assistiria alguma
apresentação no requintado Teatro Sete de Setembro que fora inaugurado naquele
ano. Se aqui ficasse hospedado em período de carnaval, teria contato com o
entrudo, atividade que ele considerava perigosa
e que ele “queria distância” como deixou relatado: “Esse perigo consiste em ser
alvejado sem misericórdia por bolas de cera cheias de água e sair encharcado
por grandes seringas de lata. Achamos muito difícil manter a nossa dignidade
enquanto caminhávamos nas ruas”.
Possivelmente, teria as mesmas queixas de Saint-Hilaire em relação às
ruas sem calçamento e as areias que entravam nos olhos e eram consumidas
durante as refeições. Se teria despertado interesse botânico e faunístico pelo
estuário da Lagoa dos Patos é uma incógnita que jamais saberemos. A recente
formação geológica local não traria elementos para reconstituir o elo perdido
dos hominídeos, mas a diversidade de aves e peixes poderia ter sido objeto de
análise.
A
expedição do Beagle mudou a
compreensão do surgimento e do sentido da vida no planeta Terra. O somatório de
informações obtidas nas viagens, com destaque às atividades na Argentina, Chile
e Ilhas Galápagos, constituíram uma construção intelectual arrojada que buscou
explicar o surgimento e evolução das formas de vida. O evolucionismo biológico
fundamentou-se como um paradigma utilizado por diversos campos do conhecimento.
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