Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

NA DÉCADA DE 1940

Cartão-Postal de 1940. Acervo: Walter Albrecht.

        Nos primórdios da década de 1940, com uma população aproximada de 60.000 pessoas, Rio Grande tinha mais de 8 mil prédios na sede, distribuídos em 10 avenidas, 97 ruas, 44 travessas, 16 largos e praças, 1 parque e 3 praias. Os prédios que se destacavam no período era o da Alfândega, Capitania dos Portos, Mesa de Rendas, Quartel General, Quartel do 9° Regimento de Infantaria, Prefeitura Municipal, Biblioteca Rio-Grandenses, Ginásio Lemos Junior, Colégios Juvenal Miller e Bibiano de Almeida, Clube do Comércio, Clube Caixeral, Clube Saca Rolhas, Grêmio Luzitano, Centro Português, Hospital da Santa Casa de Misericórdia, Beneficência Portuguesa, Convento e Igreja do Carmo, Liceu Leão XIII, Associação dos Empregados no Comércio e muitos outros. Espaços religiosos em destaque era a Igreja Matriz de São Pedro, Matriz do Carmo, N. S. Da Conceição, N. S. do Bomfim, Sagrado Coração de Jesus, Igreja do Salvador etc.
Conforme Fortunato Pimentel (Aspectos do Município do Rio Grande. Porto Alegre: Oficina Gráfica Imprensa Oficial, 1944), a iluminação elétrica contava com 6.600 ligações domiciliares. As ruas possuíam 919 lâmpadas e os logradouros públicos 88. Em 1940, o transporte realizado por bondes apresentava 24.500 metros de linhas e transportaram 5.386.841 passageiros. [1] Em outubro de 1939 foi inaugurado o tráfego de ônibus. Em dezembro de 1940, 5 ônibus Ford e Chevrolet já circulavam pela cidade. Em 1940 foi inaugurada uma linha de ônibus entre a cidade e o Taim. Em 1941 havia quatro cinemas e a média de freqüência era de 42 mil espectadores por trimestre. “Em conjunto as praças são das melhores que conhecemos no território gaúcho, notadamente a Francisco Xavier. As praças e os jardins públicos de Rio Grande estão todos eles muito bem cuidados e constituem notadamente aos olhos do forasteiro, um honroso atestado da atenção dispensada pelo poder público municipal à parte referente ao embelezamento urbano”. Em 1939, com grandes festejos, havia sido inaugurado um monumento em homenagem ao fundador da cidade, José da Silva Paes na praça Xavier Ferreira. O monumento também ficou isolado quando do avanço da enchente sobre a praça.
Desde 1908 começa a ser instalada a energia elétrica na cidade. Em 1935 passa a funcionar a Central Elétrica (no local da atual CEEE) neste prédio que foi parcialmente alagado pela Grande Enchente. O primeiro prédio com elevador da cidade foi o da Câmara de Comércio, prédio em estilo art-déco que estava em construção ficando isolado pelas águas durante a enchente. No início dos anos 1940 outro avanço tecnológico: estava surgindo à primeira estrada asfaltada do Rio Grande do Sul ligando o Parque Rio-Grandense (na altura do atual pórtico) até o Cassino. Dos 8 mil prédios da cidade, 4.500 dispunham de recolhimento de esgoto e 5.500 de abastecimento de água encanada fornecido pela Companhia Hidráulica Rio-Grandense. Em 1940, a média de pessoal empregado na indústria era de 7.052 pessoas.
Apesar de um cenário relativamente promissor, é preciso ressaltar que a baixa remuneração da mão-de-obra caracterizava o processo industrial, com má distribuição de renda e proliferação de cortiços. A industrialização dispersa, que caracterizou a economia da cidade até esta década, entrará em decadência provocando falências de empresas na década de 1950, com o fechamento de grande parte do parque industrial tradicional. A integração da economia nacional, encabeçada por São Paulo, processo iniciado na década de 1930, trará graves conseqüências para Rio Grande. 
         O capital de exportação e importação, atividade que recuava a primeira metade do século 19, vivia um momento de expectativa frente à Segunda Guerra Mundial que se intensificara na Europa e que chegaria aos Estados Unidos até o final de 1941. A indústria estava ligada especialmente aos ramos têxtil, de carne frigorificada e de alimentos enlatados. Desde 1937, a Refinaria Ipiranga fazia parte do cenário econômico da cidade. No segmento industrial, empresas como a Rheingantz (União Fabril), Charutos Poock, Ítalo-Brasileira, Swift, Leal Santos e as empresas do empresário Luiz Loréa, projetavam Rio Grande no cenário estadual e nacional. No mês de agosto de 1942, frente ao afundamento de navios mercantes brasileiros, ocorreu em varias cidades brasileiras quebra-quebra de propriedades de imigrantes alemães, italianos e japoneses. Em Rio Grande, cuja economia tinha forte presença alemã, as atividades de comércio e indústria sofreram uma forte retração em decorrência das perseguições aos teuto-brasileiros e ítalo-brasileiros. Durante a enchente, uma das principais empresas aqui radicadas e com sede em Hamburgo-Alemanha, a Bromberg, colocou o seu palacete à disposição da Comissão Central para atendimento dos flagelados. Com a entrada do Brasil na Guerra, a empresa foi obrigada a encerrar as atividades.
A primeira metade da década de 1940 foi de grandes desafios para a cidade: dois anos de intensa chuva (1940-41) seguido de dois anos de seca (1942-43), somado a entrada do Brasil na Guerra (1942) e as expectativas do desdobramento do conflito na luta contra o nazi-fascismo que perdurou até 1945. E os sobressaltos de uma década difícil para a cidade começaram em maio de 1941, quando da Grande Enchente que assolou a cidade.
[1] PIMENTEL, Fortunato., p. 56 a 78.

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