Fotografia de Juvenal Miller. Acervo: Papareia. |
A partir de
artigo do historiador Paulo Ricardo Pezat (Juvenal Miller e a difusão do
Positivismo nos Primórdios da República In: ALVES, Francisco das Neves (Org.) Para uma História Multidisciplinar do Rio
Grande. Rio Grande: FURG, 1999) é que será contada a trajetória republicana
e positivista de Juvenal Miller, um dos personagens mais destacados da história
do município do Rio Grande durante os primeiros tempos do regime republicano.
Juvenal
Octaviano Miller nasceu na cidade do Rio Grande em 13 de outubro de 1866. Antes
de completar 15 anos, Juvenal Miller já havia se decidido a seguir a carreira
militar, matriculando-se na Escola Militar de Porto Alegre e seguindo posteriormente
para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Escola de Cadetes da Corte. No
princípio de 1882 foi admitido no curso de Engenharia Militar na capital do
Império, datando desta época seu contato sistemático com o pensamento de
Auguste Comte, através de Benjamin Constant, de quem foi aluno. Em abril de
1887, nas vésperas de concluir o curso, foi suspenso em virtude de questões
políticas: havia remetido um telegrama de apoio a Joaquim Nabuco por ter este
protestado contra a intromissão do Imperador no processo eleitoral. Retomando a
Porto Alegre, Juvenal Miller fundou com amigos o jornal O Debate, de caráter abolicionista e republicano. Em fins de 1889,
com a proclamação da República, retornou ao Rio de Janeiro para prestar os
exames finais na Escola Militar. Formado como engenheiro-militar, foi promovido
a 2º tenente no final de 1890, passando a servir no 2º Batalhão de Artilharia,
na capital federal. Após a conclusão deste curso passou a 1º tenente, sendo
destacado, em março de 1892, para servir em Rio Grande.
Desde
então a adesão de Miller ao positivismo já estava consolidada, como demonstra o
artigo que publicou no jornal governista Diário
do Rio Grande em resposta as críticas ao pensamento de Comte e aos seus
adeptos no Rio Grande do Sul feitas em intervenções em debates jornalísticos,
Juvenal Miller tomou parte ativa nos combates que marcaram os primeiros anos da
República no Rio Grande do Sul. Simpático ao projeto político implementado por
Julio de Castilhos através da Constituição sul-rio-grandense de 14 de julho de
1891, que tinha por suporte ideológico o positivismo comtiano, Juvenal Miller
participou da defesa de Rio Grande contras as duas tentativas de tomada da
cidade por parte das forças federalistas unidas à Revolta da Armada, entre o final
de 1893 e o princípio de 1894.
Apesar
desta adesão ao positivismo, Juvenal Miller não integrava o Club Cooperador
Positivista Sul-rio-grandense, fundado em Rio Grande no mês de fevereiro de 1891 por um
grupo de duas dezenas de simpáticos da Igreja Positivista do Brasil (IPB) e que
subsistiu até meados de 1894. De fato, alguns dos integrantes deste clube
apoiaram a dissidência republicana liderada por Demétrio Ribeiro, que se uniu
às forças do liberal Gaspar Silveira Martins contra o governo castilhista,
fazendo com que os diretores daquela instituição se desinteressassem pela sua
continuidade.
Em
1894, quando ainda estava em curso a Revolução Federalista, Miller foi colocado
à disposição da Comissão de Linhas Telegráficas do Mato Grosso, onde acumulou o
sub-comando da referida comissão com o comando da 2ª Companhia do 1º Batalhão
de Engenharia. Por influência de Julio de Castilhos, que desfrutava de amplo
prestígio junto à cúpula do Exército, Juvenal Miller conseguiu retornar ao Rio
Grande do Sul no final de 1895, sendo destacado para a Escola Militar de Porto
Alegre. Nesta época ele já mantinha intensa correspondência com Miguel Lemos e
Teixeira Mendes, os apóstolos que dirigiam a IPB, responsável pela propaganda
da vertente religiosa do pensamento de Comte no Brasil. A influência que Miller
recebeu da Religião da Humanidade, a religião ‘científica e demonstrável’, nas
palavras de Comte, fica evidente nos nomes que atribuiu aos filhos de seu
casamento com Maria Ignacia Rodrigues Barbosa, ocorrido em 1890: Clotilde,
Sofia Maria, Augusto Otávio, Carlos Edmundo, Jorge Floriano, Maria Inês e
Branca Eleutéria. Todos estes nomes são originários do Calendário Positivista
concebido por Comte ou pertencem aos ‘grandes vultos da Pátria’ cultuados pela
IPB. Percebe-se assim que a influência das idéias de Comte penetrava no âmbito
da sua vida privada. De outra parte, neste período sua vida profissional já
estava intimamente relacionada com a Igreja Positivista do Brasil. Em meados de
1896, Miller e alguns colegas de magistério na Escola Militar de Porto Alegre
conceberam a idéia de criar em
Porto Alegre uma instituição de ensino superior voltada à
formação de engenheiros.
Em
7 de setembro de 1900, fez um discurso no Teatro São Pedro em Porto Alegre ,
exaltando a Independência do Brasil e a figura de José Bonifácio. Neste
discurso fez uma defesa vigorosa da República e um ataque aos que desejavam um
retorno a restauração do Império no Brasil.
Em
1901, Miller elegeu-se deputado à Assembléia dos Representantes pelo Partido
Republicano Rio-grandense, tornando-se deputado federal em 1903, ocasião em que
retornou ao Rio de Janeiro e foi obrigado a abandonar o magistério na Escola de
Engenharia de Porto Alegre. Em 1905 foi eleito intendente da cidade do Rio
Grande, tornando-se uma liderança emergente dentro do PRR. Quando Carlos
Barbosa Gonçalves foi eleito presidente do estado, no final de 1907, em
substituição a Borges de Medeiros, este indicou Juvenal Miller para ser o
vice-presidente. No princípio de 1909, Miller foi reeleito intendente de Rio
Grande, acumulando tal função com a vice-presidência do estado. Porém, não
exerceu tais mandatos até o final. Doente, seguiu para o Rio de janeiro no
final de junho de 1909, em busca de melhores condições de tratamento. Não
resistindo, morreu com apenas 42 anos de idade, em 9 de setembro de 1909, sendo
sepultado no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro. Entre os
condutores de seu caixão estava Teixeira Mendes, que proferiu um breve discurso
na ocasião.
Apesar
da proximidade que manteve com a Igreja Positivista do Brasil, Juvenal Miller
jamais ingressou formalmente em seus quadros, pois esta instituição não
tolerava que seus integrantes participassem da política partidária. Mesmo
assim, exerceu um papel importante na difusão do positivismo no Rio Grande do
Sul e na aproximação entre a Igreja Positivista do Brasil e o Partido
Republicano Rio-grandense, seja através de seus escritos, seja através de sua
ação política.
Ressalte-se que Juvenal Miller faleceu alguns
dias antes da inauguração do monumento-túmulo a Bento Gonçalves da Silva, ocorrido
em 20 de setembro de 1909, uma obra que ele deu grande apoio e que representava
uma homenagem ao pensamento republicano no Rio Grande do Sul.
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