Porto do Rio Grande em 1908

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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

CINE-TEATRO SETE DE SETEMBRO

Sete de Setembro no inicio da década de 1960. Acervo: Papareia. 
Folder de inauguração do Sete de Setembro. Acervo: Papareia. 


Quem ainda recorda dos áureos tempos do Cine-Teatro Sete de Setembro o qual foi reinaugurado em 15 de novembro de 1949 em um prédio monumental? No tempo em que o espaço público do Cinema unia sociabilidade e cultura – antes da decadência das grandes salas promovida pelo amplo consumo do vídeo cassete e outras mídias posteriores. Para aqueles que tiveram parte da vida marcada pelas sessões de cinema, certamente muitas histórias ficaram para serem contadas e relembradas na rua General Bacelar e na Praça Julio de Castilhos.
Um folhetim editado em 1949 pela Empresa Cupello, traz uma caracterização das expectativas ligadas a arte do teatro e do cinema na cidade do Rio Grande. Esta área do entretenimento era pensada em grande amplitude nesta época e Rio Grande estava inserida no contexto dos grandes empreendimentos que ocorriam no Brasil.
         “Foi no dia 31 de outubro de 1831, que teve lugar o início de uma casa de diversões em nossa cidade. Nessa data foi lavrada a escritura de compra feita por um grupo de pessoas de representação social, de um terreno à rua Direita, com fundo para a Praça da Quitanda, pertencente ao Cônego Francisco Ignácio da Silveira, para aí ser construído um Teatro. Constituiu-se, então, uma associação, cujo capital fora conseguido por meio de ações do valor de 100 mil réis, tomando a denominação de Associação Teatral Sete de Setembro. Como se vê do exposto acima, há 118 anos que no mesmo local de sua primitiva construção, vem o Sete de Setembro, cumprindo na vida de nossa cidade, uma das mais altas e nobres funções educadoras, a de levar ao povo, através das obras criadas pela inteligência dos pensadores e dos poetas, a noção e o sentido da arte e da beleza. E assim, nessa longa trajetória nem sempre fácil, ele é, hoje, com orgulho para todos nós, o 2°, dos teatros, cuja data de inauguração é mais antiga em todo o Brasil.
Até o ano de 1910 funcionou sempre, embora não seguidamente, como Teatro. Nesse ano, porém, a partir de 5 de outubro, estabeleceu-se nele a Empresa Francisco Machado, como cinema. Daí em diante, várias foram as empresas que o arrendaram, trabalhando então, ora como Cinema, ora como Teatro, e havendo, em determinada fase de sua vida, mudado seu nome, passando a chamar-se Cine Independência. A Empresa F. Cupello & Cia Ltda, recebeu-o em 1° de janeiro de 1947, da Empresa F. S. Gaudio. Tendo compreendido, desde logo, que se impunha a construção, nesta culta cidade, de uma casa de espetáculos nos moldes das mais modernas que existem no país, pôs mãos a obra, tendo logo que se fez possível o cometimento, não medindo sacrifícios nem foros para bem atingir o fim visado, e hoje, com justo orgulho, entrega à população rio-grandina um estabelecimento à altura dos seus esforços de civilização, por tudo quanto nele foi posto para proporcionar conforto e bem ao generoso público desta terra. Nesta obra foram invertidos cerca de 2 milhões de cruzeiros, detalhe que a Empresa F. Cupello & Cia. Ltda, julga útil destacar, não para auferir disso um motivo que mais a recomende a consideração pública, - mas sim para provar a sua confiança na simpatia e na colaboração amiga deste povo, retribuindo, sem um instante sequer de dúvida ou vacilação, a deliberada e positiva preferência que sempre recebeu dele.
A construção como já foi dito, foi realizada sob um plano de magnífica estrutura arquitetônica, possuindo o edifício duas faces, uma de acesso a rua General Bacelar e a outra de saída à praça Julio de Castilhos, e ambas traçada em estilo sóbrio, mas elegantíssimo, constituído de linhas simples mas de grande beleza. O realizador dessa obra, é o habilíssimo construtor sr. Horacio Rocha, que, aliando a sua reconhecida competência profissional, ao seu alto espírito de cooperação e ainda, o seu desvelo, concorreu de maneira nítida e insofismável para aumentar o acervo urbanístico desta cidade, implantando um marco monumental neste momento de renovação na história de suas construções. (...) Todo o mobiliário que reveste o novo Cine-Teatro Sete de Setembro é como se vê, o que foi possível obter de melhor qualidade, para esta espécie de casa de diversões. Suas poltronas, representam a última palavra nos resultados a que chegaram os técnicos em mobiliários para platéias e auditórias. Possuem um conforto baseado em regras científicas anatômicas. E a sua disposição, nas duas platéias, corresponde rigorosamente a linha de construção da sala, estudada especialmente, para que de qualquer ângulo, o espectador divise a tela, ou o palco, sem esforço ou torções visuais que prejudiquem o espetáculo. A cortina de boca de cena, foi adquirida na maior casa de decorações da América do Sul – A Casa Nunes – do Rio de Janeiro e seu custo está orçado em cerca de 50 mil cruzeiros. As passadeiras, tapetes e tecidos para revestimento interno, cortinas, etc, procedem da indústria local, a opulenta Companhia União Fabril. A aparelhagem técnica é a mais perfeita, e está constituída por um conjunto de projetores Brenkert, com lanternas de alta intensidade, um dos mais completos e perfeitos aparelhos de projeção atualmente instalados no Estado. Os aparelhos de som tipo Klang-Filme são uma maravilha de fidelidade e de tonalidade. A amplificação dupla é moderníssima e possui todos os recursos eletrônicos para uma audição perfeita”.

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