Carga de Cavalaria Farroupilha. Autoria de Guilherme Litran, 1893. Acervo: Museu Júlio de Castilhos. |
Bento Gonçalves da Silva
era filho do alferes português Joaquim Gonçalves da Silva e de Perpétua da
Costa Meirelles, filha de Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcellos, nasceu
na Fazenda da Piedade, em Triunfo, pertencente à família de sua mãe. Nascido a 23 de setembro de 1788, os país
haviam planejado o futuro do filho ligado à igreja, definindo a ele uma suposta
vocação para membro do Clero. A trajetória de Bento Gonçalves da Silva fugiu ao
destino de pregar a palavra de Deus na condição de padre, assumindo a liderança
de um movimento que convulsionou a Província durante uma década. Antes da
Revolução Farroupilha, Bento transitou como militar e estancieiro na fronteira
entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, casando-se com a uruguaia Caetana Garcia
em 1814, estabelecendo-se na Banda Oriental e dedicando a atividade de
estancieiro. Participou das Campanhas da Cisplatina entre 1811 e 1821 A partir de 1825
incrementou a participação militar nas guerras entre Uruguai, Argentina e
Brasil, tornando-se em 1829 coronel de Estado Maior e assumindo o comando da
fronteira e dos Guardas Nacionais no comandando o 4° Regimento de
Cavalaria de Linha. Em 1834 foi acusado de conspirar contra o Império sendo
absolvido no Rio de Janeiro, mas perdendo o comando militar. Foi eleito
Deputado provincial em 1835. Em 20 de abril de 1835, na sessão de instalação da
Assembléia Provincial, é acusado pelo presidente da província, Antonio
Rodrigues Fernandes Braga, de articular a separação do Rio Grande do Sul do
restante do Império.
Despontou, pelo espírito de liderança e
experiência na política provincial e platina, como o líder do movimento
liberal-republicano farroupilha e um dos maiores inimigos do Império. Foi preso
em combate e posteriormente escapou da prisão na Bahia, assumindo o cargo de
presidente da República Rio-grandense. Foi um dos generais farroupilhas
afastando-se em 1844 do cenário revolucionário. O rico estancieiro no início do
conflito ficou empobrecido pela guerra civil, falecendo de pleurisia (inflação
na pleura, um tecido que recobre a superfície dos pulmões que pode ter sido
causado por pneumonia) em 1847, deixando a viúva Caetana Garcia e oito filhos.
NO PORTO DO RIO GRANDE
Raros
registros que assinalam a popularidade que Bento Gonçalves da Silva tinha na
então Vila do Rio Grande de São Pedro, ficou perpetuado no jornal O Noticiador que acompanhou a passagem
do Coronel pela localidade buscando no Porto do Rio Grande a embarcação que o
levaria até o Rio de Janeiro. Um pouco menos de dois anos após esta passagem
por Rio Grande eclodiria a Revolução Farroupilha e o papel de Bento Gonçalves
será fundamental nos rumos do movimento: “Temos o prazer de anunciar aos nossos
compatriotas rio-grandenses, que, no dia 28 do passado, chegou a esta vila o
sr. Coronel Bento Gonçalves da Silva, o qual, segundo é fama, segue para a
Corte, aonde foi chamado, para ser encarregado de uma comissão importante nesta
Província. O sr. Bento Gonçalves da Silva deixando o Comando da Fronteira de
Jaguarão, deixou igualmente penhorado e saudoso, todos habitantes daquele
Departamento; porque como Militar, soube manter condignidade e respeito à paz e
tranqüilidade de um ponto da maior importância da Província, desarranjando com
sagacidade, e política, todas as tentativas que se fizeram para lhe introduzir
a semente da anarquia, e invadi-la de surpresa, e como Cidadão soube captar a
atenção, benevolência, e estima geral, que nele, e somente nele, havia
depositado a sua segura confiança, para a sua defesa, a pontos, que mereceu os
sufrágios dos seus Concidadãos, para Eleitor daquela Vila. Parte o Sr. Bento
Gonçalves para o Rio de Janeiro; e apenas chegar desfará completamente a vil
intriga de ‘ligas orientaes e sonhadas republicas’, que seus invejosos e gratuitos
inimigos, unidos aos caramurus-restauradores fizeram espalhar para chegar à
presença do Governo, visto que o Sr. Coronel era o maior obstáculo aos seus
nefandos projetos. (...) Nós, unidos aos Patriotas Rio-grandenses, fazemos
votos pela boa viagem e pronto egresso de S.S., a fim de que venha continuar
prestando serviços no seu país natal e vencer a esperança que nele tem posto os
seus briosos Concidadãos e Companheiros D’Armas e os seus saudosos e
verdadeiros amigos”. O Noticiador, 4
de janeiro de 1834.
A sua
passagem pela Vila do Rio Grande foi rápida ficando registrada num documento:
“O abaixo assinado tendo embarcado com mais brevidade do que supunha, para o
Rio de Janeiro, não teve tempo de despedir-se dos seus amigos e de cumprimentar
aos Cidadãos desta Vila que o visitarão; por isso aproveitando esta ocasião
para cumprir este dever e agradecendo cordialmente a todos o afável acolhimento
e oficiosa amizade de que hão dado convincentes provas faz votos pelo aumento e
prosperidade de uma Província onde nasceu, e pela paz e bem ser dos seus
respeitáveis habitantes. Vila do Rio Grande, 1 de janeiro de 1834 – Bento
Gonçalves da Silva.” O Noticiador, 8
de janeiro de 1834.
Ao retornar
do Rio de Janeiro tendo provado sua inocência nas acusações de ser traidor, a
chegada de Bento Gonçalves foi festejada: “No dia 4 do corrente chegou a esta
Vila o Sr. Coronel Bento Gonçalves da Silva; que foi recebido nos braços da
amizade e visitado de grande número de cidadãos, que conhecem e apreciam as
suas qualidades: nessa noite foi obsequiado por uma bem concertada Orquestra
particular, dirigida por alguns jovens Patriotas e acompanhada de outras muitas
pessoas, que quiseram voluntariamente tomar parte neste plausível festejo”. O Noticiador, 5 de março de 1834.
A
sua passagem continuou a provocar impacto, pois dias após ainda era feito
referência a sua atuação militar e política. O comandante militar apresentava
uma imagem de liderança em meio a um clima agressivo de reinvindicações
políticas liberais radicais: “Chegou finalmente o sr. Coronel Bento Gonçalves
da Silva, terror dos caramurus-restauradores. Que alegria não deve causar aos
amigos do Trono de Abril a presença deste intrépido militar, que tem sido
caluniado pelos retrógrados, somente por se afeto a nova ordem de coisas. Na
verdade, quanto a sua ausência consternava aos amigos da ordem e dava novo gás
e força ao partido restaurador, que pretende destruir a grande obra começada no
sempre glorioso 7 de abril!!! O Sr. Bento Gonçalves é a única barreira que os
faz conter: querer apartá-lo desta Província é dar asas a que os restauradores
tramem a favor do detestável duque de Bragança, que cessou de reinar para
sempre no Brasil, por haver tramado a destruição de seus filhos. Caluniadores
infames e detestáveis, mordei-vos de raiva e na desesperação que vos atormenta,
cuidai somente de vos remeterdes ao silêncio; envergonhai-vos se de vergonha
sois suscetíveis, pelas falsidades que o levantastes contra este bravo Militar,
que até o presente não tem se não almejado o bem-estar da nossa pátria; quando
vós, pelo contrário ó infames, vos tendes inflamado, usando de mil baixezas,
atraiçoando a amizade e inculcando-vos os únicos sustentáculos da
Província!!!”. O Noticiador, 8 de março de 1834.
A
temperatura política continuaria a subir até o 20 de setembro de 1835 quando
tem início a Revolução Farroupilha.
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