Arcádia, 1869. Fonte: Biblioteca Pelotense,
Nestes bens culturais podem-se destacar
atividades sociais como os bailes e o teatro, que teve na cidade a sua primeira
casa edificada em 1832 (Teatro Sete de Setembro), além da publicação de
folhetins na imprensa local com livros e contos de autores europeus,
especialmente franceses, e também brasileiros. O surgimento de um grupo
intelectual que publicasse periodicamente material literário não era um corpo estranho
a uma cidade que deseja estar em sintonia com a cultura mais ampla. Daí a
Arcádia surgir um ano antes da criação da Sociedade Partenon Literário em Porto Alegre , e ser
ela, a “Arcádia”, a saudar com alegria em suas páginas o surgimento de um
parceiro que teria o seu primeiro periódico publicado no ano de 1869.
Além da
publicação da Arcádia desde 1867,
a busca de institucionalização para impulsionar os
estudos literários na cidade tomou forma com a instalação em 4 de abril de 1869
do Grêmio Literário Rio-Grandense tendo por presidente Frederico Bier. No
discurso pronunciado pelos sr . José Vicente Thibaut, primeiro secretário, ele
afirma que o objetivo do Grêmio Literário, era o estudo da literatura: “A
definição de literatura, da palavra latina Littere, letras, varia conforme se
considera arte, ou historicamente, e em sua compreensão. Considerada como arte,
tem por objeto o belo, assim como a pintura, a escultura, a arquitetura, etc.
Considerada historicamente, é o conjunto dos monumentos do pensamento humano,
manifestados pela palavra escrita. Um história completa da literatura, deveria,
pois, abranger a poesia, a eloquência, a filosofia, a política, a história
natural, a retórica, a crítica, o romance, o gênero epistolar, a linguística e
em geral as ciências, pois, para se manifestarem, todos os gêneros, todas essas
ciências precisam tomar uma forma mais ou menos literária (...) O Grêmio abre
para a cidade do Rio Grande uma era nova de ilustração. Esta heroica província
de S. Pedro, já tão ilustre na carreira militar, na qual teve e tem ainda desse
vultos majestosos, desses heróis, cujos nomes pertencem hoje, não as suas
famílias sós, nem a ditosa província que lhe serviu de berço, mas sim a
história universal” (Arcádia, 1869, p. 195-7).
Exaltando o
surgimento do Grêmio Literário, Antonio Joaquim Dias ressaltou que “As letras
são a luz da razão, e um seu tênue reflexo é bastante para suplantar as trevas
da ignorância. A literatura é a fonte perenal de todos os conhecimentos
profícuos e necessários. Não há progresso, civilização, sociedade, que não se
tenha solidificado sobre as majestosas bases da literatura. Florescem as artes,
a indústria, o comércio, a navegação toma extraordinárias proporções. Então é
justamente neste século 19, que todas as coisas atingem a um espantoso grau de
perfeição. O grande e maravilhoso invento do telégrafo elétrico, o vapor, as
estruturas de ferro, o balão aerostático, as máquinas para substituir o
trabalho braçal, a vacina, os aperfeiçoamentos em todas as artes, principalmente
na da guerra, são incontestáveis provas de que a humanidade é infatigável, e
espantosamente o mundo marcha, como disse Peletan. E a quem devemos tudo isso?
A inteligência e as letras.”
Para estes
intelectuais, a Literatura é o objeto principal e o fundamento dos estudos,
pois as letras falam ao coração e a razão, formando o homem inteiro.
Constata-se que a Literatura é apresentada como um grande guarda-chuva a ser
usado por todos os gêneros científicos para poder tomar forma discursiva. A
década de 1860 constituiu-se num momento especial para os estudos literários
pois a “Arcádia” congregou junto de si os primeiros críticos literários. Entre
os colaboradores estão Apolinário Porto Alegre, Bernardo Taveira Júnior,
Aquiles e Apeles Porto Alegre, Glodomiro Paredes e outros. O romantismo
predomina nos escritos e as raízes do regionalismo, construindo literariamente
a identidade regional do gaúcho, deixará um legado por décadas.
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