Estilo arquitetônico atual do prédio. Fotografia da década de 1970. Acervo: Fototeca Municipal. |
Prédio misto com a fachada de 1915 com o anexo de dois pisos posterior a 1936. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
Para
investigar o passado é necessário encontrar documentos, que são vestígios
parciais do que aconteceu. A maior parte do acontecido não deixa vestígios ou
poucas pistas restam. A forte ênfase dada no século 19 à preservação da
documentação em arquivos, advém da constatação de que escrever história
necessita de fontes, entendidas naquela época como ‘escritas’. Porém, hoje
sabemos que as fontes estão para além do documento escrito, podendo ser
iconográficas e fotográficas, orais, patrimônio material e imaterial etc.
Estas
fontes, no caso, as escritas, são pistas para pensar a historicidade de
sociedades. Muitas vezes uma breve informação em um texto do passado pode ser
uma destas pistas que leva ao esclarecimento da investigação. Ao fazer a
leitura de uma antiga publicação, encontrei uma referência aos primeiros passos
para construção do prédio que aparece na fotografia desta página no ano de 1894.
Atualmente, não há como reconhecê-lo na paisagem urbana da cidade pois ele já
foi demolido a quase um século. Mas ainda existia quando foi feita a seguinte
referência: “a pedra fundamental do edifício municipal foi lançada no dia 7 de
setembro de 1847. Hoje este edifício é propriedade da Biblioteca Rio-Grandense”.
(Revista Rio Grande do Sul. Rio Grande: Fontana, n.4, março de 1911, p. 78). Exatamente!
No local onde hoje está edificada a Biblioteca Rio-Grandense (General Netto
esquina General Osório) funcionou, originalmente, o prédio da Câmara de
Vereadores.
A
Intendência Municipal faz uma proposta de venda da Casa da Câmara para a
Biblioteca Rio-Grandense no ano de 1895. A Biblioteca consegue vender por leilão um
terreno no rua Uruguaiana (Silva Paes) por cerca de 17 contos de réis e adquire
o prédio, em agosto de 1895, por 25 contos de réis. Paralelamente, a
municipalidade adquiriu o Casarão da Família Tigre (atual Prefeitura em fase
final de restauro após o incêndio) e iniciou obras que estenderam-se até 1900. Após
a escrita desta matéria pela Revista em 1911, por volta de 1915, o prédio foi
amplamente reformado. A nova planta foi projetada por Carlos Ossola, que deu ao
prédio uma fachada eclética que associava colunas neoclássicas e elementos
barrocos. No ano de 1936, devido ao grande crescimento do acervo, o engenheiro
Fernando Duprat da Silva promove uma ampliação estrutural e a construção de um
segundo piso. Devido ao alto custo, a obra perdurou até 1954.
O tempo
passou e o prédio permanece como uma das referências do centro histórico da
cidade do Rio Grande. A descontinuidade dos investimentos
culturais/patrimoniais torna a edificação vulnerável ao desgaste com o passar
do tempo. As direções se sucedem na defesa do acervo e do bem material (o
prédio) que resguarda o precioso acervo da mais antiga instituição de cultura
do Rio Grande do Sul (em atividade desde 15 de agosto de 1846). Uma luta
difícil de gerações, porém, indispensável para a sobrevivência de um dos
principais acervos de livros e jornais do Brasil. A cidade dos bilhões de
dólares em investimento no Polo Naval, também poderia ser a cidade dos
investimentos, pelo menos módicos, num de seus maiores bens culturais que é a
Biblioteca Rio-Grandense.
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