Porto Velho por volta de 1910. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
* Matéria publica no Jornal Agora em 13 de agosto de 2013.
Com plena inserção geográfica na zona costeira no extremo sul do Brasil, o município do Rio Grande tem uma história de povoamento humano que recua aos últimos cinco milênios com a ocupação de grupos caçadores-coletores-pescadores, no último milênio, de horticultores de floresta subtropical.
Cenário geopolítico de enfrentamento entre Portugal e a Espanha pelo controle do estuário da Lagoa dos Patos (área onde foi edificado o único complexo marítimo portuário do Rio Grande do Sul), o início oficial do povoamento europeu ocorreu em 19 de fevereiro de 1737 com a chegada de uma frota naval portuguesa, comandada pelo Brigadeiro José da Silva Paes, o qual organiza uma Comandância Militar para administrar o Rio Grande do Sul lusitano. Em 1751 surge o poder público no atual Rio Grande do Sul com a instalação da Vila do Rio Grande de São Pedro e da respectiva Câmara Municipal que administrava toda a Capitania do Rio Grande.
O povoamento no século 18 teve predominância de açorianos, portugueses, cariocas e paulistas, dotando o local de uma identidade luso-brasileira. Tempo de fortificações e de guerras caracterizou este século 18, inclusive com o domínio espanhol durante 13 anos (1763-1776), período em que existiram 15 fortificações nas margens ou nas proximidades da Barra do Rio Grande. Com a vitória militar portuguesa em 1776, tem início um período de expansão das atividades comerciais ligadas à pecuária e à charqueada rio-grandense. Nos primórdios do século 19, Rio Grande era o principal centro de comércio da Capitania, estando o crescimento sócio-econômico ligado diretamente ao movimento portuário.
A partir da década de 1840 o município se caracteriza pela expansão e consolidação do capitalismo comercial e do comércio de exportação e importação pelo Porto Velho do Rio Grande. A localidade é considerada por viajantes estrangeiros como o maior entreposto comercial do sul do Brasil. Comerciantes portugueses, alemães, ingleses, franceses e italianos instalam filiais de casas comerciais européias nas ruas próximas ao Porto Velho, dinamizando um importante comércio internacional que ligou o Porto do Rio Grande com portos europeus e dos Estados Unidos.
Ainda no século 19, Rio Grande novamente inova e se insere na revolução industrial com a primeira grande indústria do Rio Grande do Sul, a fábrica têxtil Rheingantz (1873), construindo uma Vila Operária modelo em nível de Brasil. Empresas de grande porte do ramo de alimentos/enlatados (Leal Santos), de tabacos (Charutos Poock), têxtil (Ítalo-brasileira) e o frigorífico norte-americano Swift (1917), além de gerarem milhares de empregos, dotam Rio Grande de tecnologia de ponta iniciando a denominação popular de “a cidade das chaminés”.
Teatros e cinemas marcaram a vida cultural da cidade desde 1832 (Teatro Sete de Setembro), além da Biblioteca Rio-Grandense e seu acervo de obras raras que recuam a 1846. O ensino superior surgiu na década de 1950, contemporâneo ao primeiro museu da cidade, o Museu Oceanográfico.
Os aportes financeiros do comércio e da indústria remodelam a estética arquitetônica do centro urbano invertendo parte dos lucros na construção civil de casarões espalhados pelas ruas Marechal Floriano, General Bacelar e Riachuelo, e o aformoseando de espaços públicos como as praças e boulevards, além do Mercado Público (1863) e do prédio da Intendência Municipal (1900). Destacam-se as praças Xavier Ferreira e Tamandaré que ostentam além dos chafarizes franceses e da Vênus ao Banho (fontes d’art) da década de 1870, monumentos como a Coluna da Liberdade (1889); Monumento túmulo a Bento Gonçalves da Silva (1909); Monumento a Silva Paes (1939); etc.
A partir da década de 1960 até meados dos anos 1980, Rio Grande concentrou o maior complexo de indústrias pesqueiras do país, chegando a empregar 20 mil trabalhadores. É preciso enfatizar que a dinamização de setores industriais esteve ligada à construção dos Molhes da Barra e do Porto Novo do Rio Grande (inaugurado em 1915), que possibilitaram um fluxo de mercadorias que garante, até o presente, o escoamento de grande parte da produção primária e industrial gaúcha, incrementadas com a edificação do Superporto na década de 1970 (e a edificação dos terminais químicos, graneleiros e de contêiner).
O município, do atualmente com 200.000 habitantes residentes e dezenas de milhares egressos de diferentes municípios brasileiros, devido aos investimentos bilionários do Polo Naval, tem recebido um número crescente de novos trabalhadores e empreendimentos empresariais. O sentido histórico de Rio Grande que é estar voltado ao ecossistema costeiro e a dinâmica do espaço portuário continua sendo o fator de atração para os investimentos. Nesta direção, algumas projeções indicam uma população circulante no município de até 300.000 habitantes até 2015 (considerando o impacto do estaleiro EBR em São José do Norte).
Em meio a mudanças tão profundas, fortalece a necessidade de preservação e divulgação das raízes histórico-culturais desta que é a cidade mais antiga do Rio Grande do Sul e cuja identidade deve ser redescoberta/construída.
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