Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 26 de outubro de 2019

HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DO RIO GRANDE


Porto Velho por volta de 1910. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.

* Matéria publica no Jornal Agora em 13 de agosto de 2013. 
      Com plena inserção geográfica na zona costeira no extremo sul do Brasil, o município do Rio Grande tem uma história de povoamento humano que recua aos últimos cinco milênios com a ocupação de grupos caçadores-coletores-pescadores, no último milênio, de horticultores de floresta subtropical. 
         Cenário geopolítico de enfrentamento entre Portugal e a Espanha pelo controle do estuário da Lagoa dos Patos (área onde foi edificado o único complexo marítimo portuário do Rio Grande do Sul), o início oficial do povoamento europeu ocorreu em 19 de fevereiro de 1737 com a chegada de uma frota naval portuguesa, comandada pelo Brigadeiro José da Silva Paes, o qual organiza uma Comandância Militar para administrar o Rio Grande do Sul lusitano. Em 1751 surge o poder público no atual Rio Grande do Sul com a instalação da Vila do Rio Grande de São Pedro e da respectiva Câmara Municipal que administrava toda a Capitania do Rio Grande. 

       O povoamento no século 18 teve predominância de açorianos, portugueses, cariocas e paulistas, dotando o local de uma identidade luso-brasileira. Tempo de fortificações e de guerras caracterizou este século 18, inclusive com o domínio espanhol durante 13 anos (1763-1776), período em que existiram 15 fortificações nas margens ou nas proximidades da Barra do Rio Grande. Com a vitória militar portuguesa em 1776, tem início um período de expansão das atividades comerciais ligadas à pecuária e à charqueada rio-grandense. Nos primórdios do século 19, Rio Grande era o principal centro de comércio da Capitania, estando o crescimento sócio-econômico ligado diretamente ao movimento portuário. 

          A partir da década de 1840 o município se caracteriza pela expansão e consolidação do capitalismo comercial e do comércio de exportação e importação pelo Porto Velho do Rio Grande. A localidade é considerada por viajantes estrangeiros como o maior entreposto comercial do sul do Brasil. Comerciantes portugueses, alemães, ingleses, franceses e italianos instalam filiais de casas comerciais européias nas ruas próximas ao Porto Velho, dinamizando um importante comércio internacional que ligou o Porto do Rio Grande com portos europeus e dos Estados Unidos. 

           Ainda no século 19, Rio Grande novamente inova e se insere na revolução industrial com a primeira grande indústria do Rio Grande do Sul, a fábrica têxtil Rheingantz (1873), construindo uma Vila Operária modelo em nível de Brasil. Empresas de grande porte do ramo de alimentos/enlatados (Leal Santos), de tabacos (Charutos Poock), têxtil (Ítalo-brasileira) e o frigorífico norte-americano Swift (1917), além de gerarem milhares de empregos, dotam Rio Grande de tecnologia de ponta iniciando a denominação popular de “a cidade das chaminés”. 

           Teatros e cinemas marcaram a vida cultural da cidade desde 1832 (Teatro Sete de Setembro), além da Biblioteca Rio-Grandense e seu acervo de obras raras que recuam a 1846. O ensino superior surgiu na década de 1950, contemporâneo ao primeiro museu da cidade, o Museu Oceanográfico. 

       Os aportes financeiros do comércio e da indústria remodelam a estética arquitetônica do centro urbano invertendo parte dos lucros na construção civil de casarões espalhados pelas ruas Marechal Floriano, General Bacelar e Riachuelo, e o aformoseando de espaços públicos como as praças e boulevards, além do Mercado Público (1863) e do prédio da Intendência Municipal (1900). Destacam-se as praças Xavier Ferreira e Tamandaré que ostentam além dos chafarizes franceses e da Vênus ao Banho (fontes d’art) da década de 1870, monumentos como a Coluna da Liberdade (1889); Monumento túmulo a Bento Gonçalves da Silva (1909); Monumento a Silva Paes (1939); etc. 

          A partir da década de 1960 até meados dos anos 1980, Rio Grande concentrou o maior complexo de indústrias pesqueiras do país, chegando a empregar 20 mil trabalhadores. É preciso enfatizar que a dinamização de setores industriais esteve ligada à construção dos Molhes da Barra e do Porto Novo do Rio Grande (inaugurado em 1915), que possibilitaram um fluxo de mercadorias que garante, até o presente, o escoamento de grande parte da produção primária e industrial gaúcha, incrementadas com a edificação do Superporto na década de 1970 (e a edificação dos terminais químicos, graneleiros e de contêiner). 

         O município, do atualmente com 200.000 habitantes residentes e dezenas de milhares egressos de diferentes municípios brasileiros, devido aos investimentos bilionários do Polo Naval, tem recebido um número crescente de novos trabalhadores e empreendimentos empresariais. O sentido histórico de Rio Grande que é estar voltado ao ecossistema costeiro e a dinâmica do espaço portuário continua sendo o fator de atração para os investimentos. Nesta direção, algumas projeções indicam uma população circulante no município de até 300.000 habitantes até 2015 (considerando o impacto do estaleiro EBR em São José do Norte). 

       Em meio a mudanças tão profundas, fortalece a necessidade de preservação e divulgação das raízes histórico-culturais desta que é a cidade mais antiga do Rio Grande do Sul e cuja identidade deve ser redescoberta/construída.

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