A miraguaia ou
miragaia (Pogonis cromis; Linnaeus, 1766) é também chamada de burriquete,
corvina negra e Black drum consistindo num peixe que deixou um legado de
histórias para os pescadores da Barra do Rio Grande mas que atualmente, devido
a captura excessiva realizada entre as décadas de 1950-1980 está quase desaparecida
do litoral do Rio Grande do Sul. É um peixe de porte avantajado que pode
atingir mais de 1,40 metros de comprimento, cerca de 40 kg de peso e pode viver
por mais de 40 anos. Conforme o livro “Peixes Estuarinos e Costeiros” de
autoria de Luciano Gomes Fischer, Luiz Eduardo Dias Pereira e João Paes Vieira (2.
ed. – Rio Grande: Luciano Gomes Fischer, 2011), a miraguaia “ocorre de
Massachusetts, EUA, ao longo das Antilhas e norte da América do Sul, até a
Argentina. É uma espécie demersal encontrada em águas costeiras. No sul do
Brasil ocorre até 40 m de profundidade”. É lembrada por ser um peixe que
propicia uma briga demorada exigindo muita energia do pescador que utilizar
molinete ou linha de mão. Algumas décadas atrás - comprovado por fotografias
tiradas nos Molhes da Barra e no Clube de Regatas Rio Grande-, era um dos peixes
mais procurados pelos pescadores e dos mais festejados quando retirado das
águas, sendo cortado em postas ou em largos files para salgamento. Em 1885 a miraguaia
já constava na lista dos peixes mais valorizados que chegavam ao Mercado
Público para venda e exportação, conforme artigo do naturalista alemão Hermann
Von Ihering.
Vou destacar um documento pouco conhecido (de
1798, final do século XVIII) que já apontava a Miraguaia como uma promissora e
lucrativa atividade que era equiparada a pesca do bacalhau. A ocupação
sistemática do atual município do Rio Grande só ocorreu cerca de 4 décadas depois
da escrita deste documento, mas o potencial pesqueiro já se fazia divulgar em
Portugal em relação à Barra do Rio Grande.
O documento foi escrito por Hipólito José da
Costa Pereira (publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. Rio de Janeiro: 1858, vol. 21) que foi encarregado pelo Príncipe
Regente de Portugal (D. João de Bragança) para viajar a América Setentrional e
enviar informações sobre as atividades econômicas realizadas por
norte-americanos e ingleses, especialmente as atividades pesqueiras. Ele partiu
de Lisboa aos 16 de outubro de 1798 e chegou na Filadélfia após 59 dias de
viagem marítima.
Pereira deixou documentado um dos mais
antigos registros sobre o potencial pesqueiro do litoral de Santa Catarina e
junto a Barra do Rio Grande de São Pedro.
“Desde que os Holandeses deixaram as suas
pescarias pelo risco que os navios estão expostos, de serem tomados pelos
Ingleses, os Americanos suprem a Europa com azeite de peixe, espermacete, barba
de baleia além da grande quantidade de peixe salgado que exportam para
Portugal, Espanha e portos do Mediterrâneo. No artigo das baleias, se nos
propusermos estabelecer os mesmos regulamentos e leis que eles têm, indubitável
que este extenso ramo de comércio cairá exclusivamente em nossas mãos, por que
nós temos sobre eles estas vantagens: 1. maior barateza nas soldadas dos
marinheiros por que se achando entre nós bastante oito ou dez mil reis por mês,
nos portos da América, precisam pagá-los dezesseis e vinte e quatro mil réis
ainda as mais das vezes custa a encontrá-los; 2. Os Americanos tem de fazer sua
viagem da América a costa do Brasil, onde fazem principalmente as pescas e
depois à volta; a demora, despesa, risco e empate de dinheiro, que ha durante
este tempo, é salva para nós, que fazemos pesca ao pé das nossas Costas. 3. Os
nossos navios que pescam pelas costas do Brasil tem lá os nossos portos, onde
podem facilmente acolher-se para se repararem, ou proverem do que houverem
mister; comodidade que falta também aos Americanos, pois precisam estar sobre a
vela desde que saem, até que acabam a pescaria. Os Americanos porém estão de
tal modo experimentados neste tráfico, que meu plano seria convidar um número
de famílias de pescadores na América, das que vivem principalmente em Nantuket,
fazê-las estabelecer em dois pontos diferentes no Brasil, adir-lhes marinheiros
Portugueses, associar-lhes nos fundos negociantes do país usando depois disto
para com os pescadores das mesmas liberalidades e isenções que os Americanos
tem; não pode haver a menor dúvida, que em dois anos, não mais, o comércio das
baleias estará inteiramente nas mãos do Portugal. Quanto ao peixe salgado ha
toda probabilidade, que o bacalhau se encontrará em abundancia nas costas do
Sul, de S. Catarina para baixo mas ainda caso não se ache, temos miraguaia, um
peixe de arribação de que Rio Grande de S. Pedro, e outros portos imediatos,
abundam em tal quantidade, que podem suprir Portugal de peixe salgado, com toda
fartura, mais barato do que importam os Ingleses e Americanos. Se V. Ex. supuser
que este artigo merece alguma atenção, terei grande satisfação de reduzir ordem
as minhas ideias sobre isto, de ter honra de às apresentar a V. Ex. ou a Real
Junta do Comércio, ou mesmo de conferir, explanar circunstanciadamente com
qualquer pessoa que V. Ex. queira encarregar com execução deste projeto”.
Miraguaia. In: http://ambientes.ambientebrasil.com.br |
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