Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 30 de outubro de 2018

PRAÇAS DA CIDADE DO RIO GRANDE



          Espaços públicos ajudam a contar a História da Cidade do Rio Grande. Antigamente, o convívio com estes espaços era mais intenso e direcionado como forma de lazer e recreação daí o enfoque nos cuidados estéticos e nos monumentos que poderiam fixar acontecimentos, personagens e ideologias, verdadeiras aulas ao ar livre na época e aulas pelo passado histórico na atualidade. Muitos monumentos estão esquecidos e espaços públicos mais parecem pontos de travessia que foram engolidos pela cidade (a Praça Júlio de Castilhos) ou encontra-se em relativo abandono (a Praça Sete de Setembro). Foram perdendo a sua historicidade, mas de fato estão repletos de história. Estes locais são interessantes de serem lembrados e valorizados pelo grande esforço feito pelas autoridades e populares desde o século XIX para a fixação de espaços de públicos de sociabilidade.   

PRAÇA JÚLIO DE CASTILHOS
Praça Júlio de Castilhos por volta de 1930. 

         Conforme Antenor Monteiro em sua coluna Rebuscos (Jornal Rio Grande) a Praça Júlio de Castilhos já foi denominada de Praça do Largo da Quitanda, São Pedro de Alcântara, São Pedro e Largo do Teatro (em referência a localizar-se nas imediações do Teatro Sete de Setembro). Em documento da Câmara Municipal de 27 de março de 1824, o juiz almotacé propõe a abertura da “travessa da Alfândega (atual rua  Andradas) até o campo e fazer uma praça no fim das ruas do Pito (rua República do Líbano) e do Fogo (rua Luiz Loréa).” Outra referência sobre o surgimento da praça foi feita em 6 de outubro de 1827, quando a Câmara pede ao Comandante da Vila do Rio Grande de São Pedro para continuar a mandar prisioneiros para a terraplanagem da Praça São Pedro, onde acordaram fundar a Casa da Câmara e a Cadeia. Na planta da Vila do Rio Grande de São Pedro do ano de 1829 foi feita a seguinte referência: “A Praça S. Pedro criada pelo Meritíssimo Juiz de Fora, desta Vila, Agostinho Moreira Guerra, em 1828, que depois desta planta feita se soube”. Portanto, as primeiras iniciativas para o surgimento da Praça recuam a 1824 e a sua oficialização a 1828. A Praça também não tem relação com a Igreja Matriz de São Pedro ou com o Largo Dr. Pio.
         Conforme o Código de Posturas de 17 de dezembro de 1836, a Praça era um espaço para a venda de verduras, frutas e produtos oriundos das localidades vizinhas como o Povo Novo e que chegavam de carretas a cidade do Rio Grande. Esta prática começou a ser oficialmente questionada em 1855, pelos vereadores Eufrásio Lopes de Araújo e Miguel Tito Sá, os quais argumentam que “não convinha que aí estacionassem as carretas que vinham do Povo Novo pelo abuso de conservarem soltos os animais que as puxavam”. Além deste espaço para a uma espécie de Feira Livre a praça também teve a função essencial para o centro urbano ligado a coleta de água. A Câmara em sessão de 10 de julho de 1834 resolveu utilizar pedras e tijolos que haviam “sobrado dos poços do Moinho de Vento e manda construir um Poço na São Pedro”. Posteriormente, a Companhia Hidráulica que em 1874 importou da França os chafarizes colocados nas praças da cidade construiu no lugar do poço uma coluna de ferro com torneiras laterais. No alto desta coluna de ferro ficava a Vênus no Banho, estátua que é a mais antiga da cidade em espaço público e que se encontra pelo menos desde a década de 1910 na Praça Tamandaré.
         A arborização da Praça recua a 1878 aí também funcionou o Circo de Cavalinhos (assim como no Largo Dr. Pio) e nas proximidades do Teatro Sete de Setembro existiu um Tambo onde se vendia leite diretamente a população. Nesta área um comerciante proprietário da loja de fazendas Ao Torrador, Pedro Lourenço de Oliveira, o Pedro Torrador, obteve a concessão para edificar aí um Mercado, concessão que foi anulada em 1890.
Fotografia da praça por volta de 1925. Relatório da Prefeitura Municipal do Rio Grande.

         O nome de Praça Júlio de Castilhos foi dado pelo Decreto Municipal n. 16, de 15 de novembro de 1894, em homenagem da Intendência Municipal a Júlio Prates de Castilhos, chefe do Partido Republicano Rio-Grandense. O busto em bronze que foi edificado a mando da Intendência Municipal é obra do escultor Décio Vilares e o pedestal foi feito na Escola de Engenharia de Porto Alegre sendo originalmente colocado na Praça Marques do Herval em 21 de abril de 1918. Em 1925, com a remodelação da Praça Júlio de Castilhos, o monumento foi para ela transferido. Na época ficou próximo a um dos grandes centros de fluxo urbano que era o Teatro Sete de Setembro (1832), onde poderia ser visto pelos populares.
        
PRAÇA SETE DE SETEMBRO
Cartão-postal da praça Sete de Setembro. Foto-postal Colombo. Meados dos anos 1950. 

         Este é o mais antigo espaço público e urbano da formação luso-brasileira no Rio Grande do Sul por estar situada nas imediações do Forte Jesus-Maria-José a qual é a mais antiga fortificação que de forma sistemática buscou fixar a presença portuguesa no extremo Sul do Brasil. Com o surgimento do Forte em fevereiro de 1737, surgiu uma cacimba para captação de água próxima a face com a atual rua República do Líbano. Em mapa da Vila do Rio Grande de 1829 esta área é chamada de Praça do Poço. O poço foi encontrado quando de escavações arqueológicas realizadas pela equipe do prof. Pedro Mentz Ribeiro na década de 1990. Anteriormente teve os nomes de Largo do Forte, Largo do Poço e Lago da Conceição em referência a Igreja da Conceição que foi inaugurada em dezembro de 1874. Oficialmente, pela Resolução de 31 de julho de 1858 a Câmara Municipal em homenagem a Independência do Brasil lhe da à denominação de Praça Sete de Setembro. Neste local, nas décadas de 1850-60, se realizavam as comemorações do dia máximo da Pátria. 
         A Câmara Municipal manda plantar em 1854 álamos e figueiras no “Largo do Poço”. Não dando bons resultados, em 1858 são plantados umbus. Em 1874, a Companhia Hidráulica instala neste local o seu primeiro chafariz trazido da França e construído na Fundição Durrene. O chafariz foi removido na década de 1910. 
Em 1883, somente a face norte estava calçada sendo as outras faces “verdadeiros charcos” como afirmou um vereador. Este calçamento, ainda existente, é um dos mais antigos da cidade junto com o da rua Luiz Loréa que desemboca na Praça devendo remontar as décadas de 1860-70. Em 1884, foi apresentado à Câmara um projeto de aterro, calçamento e arborização. Em 1887, foi organizada uma comissão para angariar donativos para o ajardinamento da Praça Sete de Setembro e também da Praça São Pedro. O calçamento das três ruas no padrão “lisboeta” foi realizado em 1925. Neste mesmo ano, a 10 de fevereiro por iniciativa de uma Comissão de Conselheiros da cidade, foi inaugurado o monumento do Barão do Rio Branco. O bronze foi feito em Porto Alegre pela firma H. Brachsler & Filhos e o pedestal por Cardório & de Angeli.
Cartão-postal da Praça Sete de Sembro por volta de 1940. 

Ao lado do Forte de Santana do Estreito foi nesta praça e em seu entorno é que surgiram as primeiras modalidades urbanas e sociabilidades da nascente formação luso-brasileira, a capela do Forte Jesus-Maria-José desenvolveu as primeiras práticas religiosas e registros paroquiais em 1737. Posteriormente, nas décadas seguintes é que surgirá a rua Direita (atual Bacelar) e a rua da Praia (atual Marechal Floriano) redirecionando o fluxo urbano. A revitalização da Praça Sete de Setembro permitiria contar uma parte da história luso-brasileira no Rio Grande do Sul.
Velódromo (corrida de bicicletas) na praça Sete de Setembro. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.  


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