Os cartões-postais se
tornaram um sucesso comercial com o modelo “Gruss aus” (lembranças de) que são
os mais antigos do Brasil, com carimbos de circulação desde o ano de 1898. Este
modelo de cartão apresenta paisagens coloridas e de forte apelo visual dos
locais de atração urbana ou rural contemplados. O nome remete a atividade artístico-tipográfica
desenvolvidas na Alemanha e que sofreram inúmeras adaptações locais que se
difundiram pelo planeta. Até hoje são cartões disputados pelos cartofilistas
por sua beleza e antiguidade. Utilizar vários cenários no mesmo cartão já
evidenciava a necessidade de um trabalho primoroso de criação, aquarelado e sem
uso de imagem fotográfica. Conforme Elysio de Oliveira Belchior em “Lembranças
do Brasil” (2004): “na saga dos cartões-postais, são bem conhecidos entre os
pioneiros, também chamados incunábulos, os que tiveram a Alemanha por berço, em
fins do século XIX. Apreciados pelas cores alegres da cromolitografia, às quais
acrescentou em nossos dias a pátina de cem anos ou mais, trazem, no desenho de
apuro artístico desigual, a expressão Gruss
aus seguida do nome de uma cidade, lugar, evento, edifício ou mesmo de
algum inesperado tema que retratam”.
Mas como a Livraria
Rio-Grandense, fundada em Rio Grande em 1887, se situa em termos de
pioneirismo? Numa primeira hipótese o
seu proprietário Ricardo Strauch se esmerou nos cartões-postais alemães e
acompanhou a tendência do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia que estavam
entrando neste promissor mercado que unia a arte com a circulação de
correspondências. Haveria uma relativa contemporaneidade no lançamento de
cartões em São Paulo com Victor Vergueiro Steidel (1868-1906).
Uma segunda hipótese é que já no ano de 1896,
pioneiramente, Strauch lançou uma coleção de quatro Gruss aus “Lembranças do
Rio Grande do Sul” que atualmente são uma referência na cartofilia brasileira.
Esta segunda hipótese está fundada no prefácio escrito por Mons. Jamil Nassif
Abib (dos maiores especialistas em postais do Brasil e Mestre em História) no
prefácio do livro “Lembranças de São Paulo” (1999) contribuiu para historiar o
surgimento dos cartões-postais não estatais no Brasil:
“Surgido em 1 de outubro de 1869, no Império
Austro-Húngaro, chegou ao Brasil, 11 anos depois, em 28 de abril de 1880. São
Paulo, antes mesmo da quebra do monopólio dos correios brasileiros na edição
dos cartões-postais, abriu campo para o uso de ilustrações em edições privadas.
Em agosto de 1897, apareceu a primeira série, com 27 cartões litografados e
multicoloridos, editados pelo Estabelecimento Gráfico V. Steidel & Cia.
Registre-se, porém, que, meses antes, em 22 de março do mesmo ano, na capital
paulista, os alemães festejaram o Kaiser Guilherme I com a edição de um
cartão-postal, em litografia monocrômica, representando vinheta comemorativa de
autoria de J. Bischoff. No ano anterior, pioneiramente, o Rio Grande do Sul já
havia editado a primeira série de cartões-postais ilustrados. No Brasil, as
iniciativas da edição privada de cartões-postais ilustrados, sua
comercialização e colecionismo são creditados à cultura vigente no seio das
comunidades alemãs, graças à efervescência dessas ‘novidades’, tanto na pátria
de origem como, de resto, em outros países europeus. As grandes exposições
cartofilísticas despontaram, em 1898, no mundo germânico: Leipzig, Munique,
Nuremberg, Viena, Bale e Zurique. Continuaram, em 1899, em Berlim, Ostende,
Praga, Genebra, Liechtenstein, Veneza e Nice”.
Para Daltozo, o mais antigo postal conhecido,
“entre os produzidos no Brasil, é do Estabelecimento Gráfico V. Steidel, de São
Paulo, mostrando o edifício do Tesouro de São Paulo. Esse exemplar, circulado
com a data de 24.11.1898, pertence à coleção do cartofilista Elysio de Oliveira
Belchior, do Rio de Janeiro. Foi produzido por uma gráfica particular um ano
antes da autorização oficial do governo federal”, ocorrida em 14 de novembro de
1899 (DALTOZO, Cartão Postal, arte e magia, 2006:19).
Se o “Gruss aus Rio Grande do Sul” (com cenas
da cidade do Rio Grande) apresenta carimbos e datas a partir de abril de 1898
(os mais antigos carimbos que já identifiquei em coleções brasileiras), a
afirmação do Jamil Abib, que ao se referir aos cartões de Steidel como sendo de
1897 e que pondera afirmando “no ano anterior, pioneiramente, o Rio Grande do
Sul já havia editado a primeira série de cartões-postais ilustrados”. Ou seja,
a coleção de R. Strauch remete ao ano de 1896! Nesta hipótese, estamos com a
coleção de “Gruss aus” mais antiga do Brasil produzidos na Livraria
Rio-Grandense/R. Strauch e com o endereço que chamou pouco a atenção dos
colecionadores brasileiros: rua “Pedro II”, 102. “Pedro II” é a atual Marechal
Floriano na cidade do Rio Grande que “estranhamente” ainda continuava a ser
chamada, por tradição que feria os brios republicanos, de “rua Pedro II” por
Strauch. Afinal, os governos republicanos buscaram apagar os nomes ligados a
monarquia que fora derrubada em 15 de novembro de 1889. Continuar a transcrever
“rua Pedro II” é um componente que “sugere” a antiguidade do cartão e “sugere”
uma calma demasiada em “apagar” a memória monarquista e levantar a bandeira dos
republicanos.
A belíssima coleção em que nasceu a cartofilia no Brasil é reproduzida abaixo:
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