A epidemia é uma ruptura do cotidiano onde o medo, o isolamento, a desintegração dos vínculos sociais do espaço, da rua e das sociabilidades, a perda de entes queridos que são referenciais de segurança e continuidade, são fatores que convergem para um colapso do tempo presente.
Segundo Jean Delumeau (História do Medo no Ocidente), o período epidêmico desperta um comportamento coletivo de insegurança não apenas pela atuação da doença, mas pela desestruturação do ambiente cotidiano, das sociabilidades, do espaço do fazer na rua e dos projetos do futuro. O medo do isolamento e da falta de perspectivas, com a morte rondando inclusive as pessoas próximas, produz um efeito psíquico também devastador. O trabalho e as práticas cotidianas se desintegram sem uma perspectiva sólida de superação.
Em todo o mundo entre 20 e 50 milhões de pessoas morreram com a gripe espanhola. No Brasil, mais de 300 mil pessoas sucumbiram e milhões contraíram a doença. Associado a epidemia, às sociedades evidenciam a fragilidade dos serviços públicos e privados e a desestruturação do cotidiano perdendo a expectativa do futuro. As precárias condições de atendimento médico-hospitalar, as insalubres condições de higiene, a desestruturação do sistema produtivo da agricultura-pecuária-comércio e indústria, levaram ao desabastecimento e à especulação desenfreada que conduziu ao desencadeamento de processos inflacionários. Desafios e enfrentamentos que foram travados em diferentes locais do planeta em busca da sobrevivência, as materialidades e imaterialidades do cotidiano, são fragmentos complexos e produtivos para as incursões dos historiadores.
Hospital militar em Camp Funston, Kansas In: http//www.army.mil |
Medicamento para gripe da Bayer e a representação da morte (o ceifador). Revista A Cigarra 219 (1921). |
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