A imprensa
da cidade do Rio Grande tem uma longevidade que recua ao ano de 1832. Dezenas
de periódicos são fontes para o estudo da história local, regional e nacional.
Processos políticos, econômicos, sociais, culturais, literários, artísticos etc
são desveláveis com o olhar crítico para estes periódicos. Em relação a outros
jornais de existência efêmera, restou apenas a referência em outras publicações
sobre a sua circulação em algum momento do passado.
Um destes
jornais “quase esquecidos” é “O Especulador” que circulou em Rio Grande no ano
de 1868. O exemplar solitário está na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro com
data de 6 de julho de 1868. A qualidade de impressão é precária (dificultando a
visualização) mas o achado merece ser divulgado nesta coluna. O exemplar é o
número 10 perdurando até número desconhecido. O jornal é um periódico
literário, noticioso e comercial. O momento histórico não é dos mais positivos
para a sobrevivência, pois, a Guerra do Paraguai já está em seu terceiro ano e
perduraria até 1870, provocando uma crise econômica e uma redução das
atividades portuárias. A economia da cidade do Rio Grande era dinamizada pelo
Porto e seu comércio de exportação e importação. A sobrevivência da imprensa,
através das assinaturas e anúncios, ficava comprometida com a queda na
circulação marítima.
Através do
Especulador é possível trazer um pouco do cotidiano de 150 anos atrás da cidade
cercada pelas trincheiras de defesa e com circulação de navios de guerra que
levavam homens para o front de combate no território paraguaio. Num breve
apanhado o jornal enfatizava que: a mendicidade era cada vez maior na cidade e
estava sendo explorada por “sanguessugas” que viraram profissionais; fazia
referência à chegada e saída de vapores para o Rio de Janeiro e para Porto
Alegre, ou seja, o olhar histórico voltado ao Oceano Atlântico e a Lagoa dos
Patos; trazia notícias sobre as atividades teatrais no Sete de Setembro e
publicava romances no formato de folhetins- autores internacionais e nacionais
que eram publicados em capítulos e que era uma forma de vender os jornais na
expectativa de continuar a leitura no próximo número; fazia referência à grave
crise econômica no Porto de Montevidéu em decorrência da Guerra; fortes chuvas
que alagavam as ruas e dificultavam o deslocamento; avisos marítimos; leilões
de produtos importados; denúncia de falcatruas e contrabando de charque etc.
Os olhares
dos habitantes (comerciantes, estivadores, escravos, trabalhadores em geral) estão
voltados à movimentação portuária e aos campos de combate no Paraguai, os
maiores combates terrestres da história da América do Sul estavam ocorrendo ao
longo deste ano.
Acervo: O Especulador, 06-07-1868. Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro.
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