Um livro de referência para conhecer o litoral entre Rio
Grande e Santa Vitória do Palmar é o livro “Areias do Albardão – Um guia ecológico ilustrado do
litoral no extremo sul do Brasil”. Seus autores são Ulrich Seeliger, César Cordazzo e Lauro
Barcellos (Rio Grande: Ecoscientia, 2004).
Os fundamentos preliminares da
evolução geológica desta região, da formação das planícies costeiras e do maior complexo lagunar do Mundo,
dos biomas, da fauna, flora e da ação antrópica nestes ecossistemas, são alguns
dos temas abordados numa linguagem voltada ao público não especializado. A
leitura do livro é amplamente recomendada e está disponível gratuitamente para
download no site http://www.peld.furg.br/divulgacao-cientifica.
Um breve trecho será
reproduzido a seguir e certamente ensejara a vontade em conhecer a obra.
A História Geológica da Costa Atlântica: “A areia das praias e dunas age como uma
barreira flexível que protege a costa contra a violenta erosão causada pelas
ondas e ventos de tempestades. O ambiente de praias e dunas destaca-se pela
elevada biodiversidade, composta por mais de trezentas diferentes espécies de
animais e plantas, algumas raras e até sob perigo de extinção. Atrás das praias
desertas e dos vastos campos de dunas esconde-se o maior complexo lagunar do
mundo, formado pelas lagoas dos Patos e Mirim. As praias, as dunas, as lagoas e
o estuário, como nós os conhecemos hoje, tiveram suas origens em um passado bem
distante. Há cerca de 400 mil anos atrás, no período pré-histórico chamado
Pleistoceno, a planície costeira do Rio Grande do Sul era inteiramente coberta
pelo Oceano Atlântico. Durante um longo tempo, as ondas e as correntes
litorâneas depositaram barreiras arenosas que foram lentamente separando as
duas lagoas do oceano. Finalmente, cerca de 120 mil anos atrás, cada lagoa se
comunicava com o mar através de uma única abertura. Há aproximadamente 17 mil
anos, no fim do Pleistoceno, caracterizado pelo clima frio, grande parte da
água dos oceanos estava congelada nas calotas de gelo polar. O nível do mar era
então 120m abaixo de seu nível atual. Nessa época a planície costeira se estendia
cerca de 70km mar adentro, fazendo com que as lagoas dos Patos e Mirim
secassem, dando espaço para leitos de rios que conduziram a água da chuva em
direção ao mar. Há cerca de 5.500 anos atrás, no período seguinte chamado de
Holoceno, devido ao clima mais quente as calotas polares descongelaram, o mar
subiu, lentamente, até alcançar de 3
a 5
metros acima do nível atual. Como no passado distante, a
água do oceano cobriu novamente extensas áreas da planície costeira. De lá para
cá, as águas baixaram e, retrabalharam os sedimentos arenosos da costa,
moldando a paisagem de dunas como nós a conhecemos hoje. Também as
desembocaduras da Lagoa dos Patos e da Lagoa Mirim se modificaram durante esse
período. O fluxo contínuo de água doce da Lagoa dos Patos, ao encontrar as
correntes do litoral, movimentou grandes quantidades de sedimentos, formando
gradualmente os bancos e esporões arenosos que hoje caracterizam o estuário e a
estreita barra da Lagoa. Na barra da Lagoa Mirim, a formação de um comprido
pontal arenoso deslocou a desembocadura cada vez mais para o sul, até que, há
aproximadamente 4 mil anos atrás, o canal fechou finalmente, formando assim o
Banhado do Taim e a Lagoa Mangueira. Hoje, a erosão da costa próxima ao
balneário de Hermenegildo está expondo os depósitos desse antigo canal como
testemunho do passado geológico. Um pouco mais ao norte, em um trecho
apropriadamente denominado “Concheiros”, as ondas cavam grandes quantidades de
conchas de moluscos fósseis da plataforma submersa e jogam-nas na praia. Junto
com pedaços de conchas são depositados dentes fósseis de tubarões e fósseis de
mamíferos terrestres gigantes que viveram até cerca de 10 mil anos atrás na
antiga planície costeira, que constitui atualmente a plataforma submersa”.
As três imagens foram reproduzidas do livro Areias do Albardão. |
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