Jornais da cidade do
Rio Grande são fonte inesgotável de pesquisa para quem investiga os cotidianos
de tempos passados. Através dos anúncios é possível identificar comportamentos
sociais, penais, nível técnico, disponibilidade de produtos e tecnologias,
saber médico e os fármacos disponíveis, padrões de estética recomendados,
organização social e questões raciais etc.
A leitura dos jornais
estão repletas de discussões políticas e de visões de mundo, informações que
não são neutras e sim construções discursivas que devem ser interrogadas e
reconstruídas a partir do arsenal intelectual do presente.
Para quem pesquisa
jornais é como visitar o passado e sentir o sabor de descobrir aquilo que foi
esquecido ao longo do tempo. O que pode ter sido tão importante no passado e
virou notícia (como um assassinato) vai sendo esquecido com o falecimento das
pessoas e com as estruturas materiais onde a trama se desenrolou. Mas o que
ficou registrado nos jornais será sempre o tempo presente que inspirou os
escritos. A perenidade das palavras acaba transcendendo o tempo de vida dos
atores!
A seguir são
reproduzidas alguns anúncios de jornais da cidade do Rio Grande (especialmente
do Diário do Rio Grande e do Echo do Sul) com temas polêmicos, com picaretagens
e denúncias ligadas ao comportamento cotidiano desta antiga urbe. Pelas
matérias, dá para sentir um pouco deste sabor de voltar no tempo.
ANÚNCIOS
“Na olaria
de João José de Oliveira Guimarães se vendem garrafas de Tintura de Turbit
composta; remédio infalível contra todas as qualidades de moléstias curáveis,
receita dos Jesuítas, achada na livraria do Povo dos Guaranis, denominado
Santos Mártires do Japão, pelo abaixo assinado, em 1816. Cada garrafa contém
mais de 16 purgantes ordinários e custa 500 réis, com o método curativo que a
acompanha. É ótimo remédio contra areias e pedras e mais moléstias urinárias;
tem sido utilíssimo nos ataques de erisipela e de asma; tem curado o
reumatismo, sarampão e inflamação em qualquer parte, e de todas as qualidades;
assim como febres, hidropesias, diarréias e câmaras de sangue; cura, o
escorbuto e não há moléstia venérea, por antiga, que resista; cura com mais
rapidez e segurança que a composição de M. Le Roy, como experimentação as
pessoas que usarem deste remédio, seguindo à risca o método que acompanha. Luiz
Guedes Ferreira de Moraes Sarmento”. 27/05/1829
“O Dentista
Universal chegou ontem de Montevidéu
oferece seu préstimo artístico ao ilustrado público desta cidade; sua
residência é no hotel Moraes. O mesmo dentista previne à população que hoje, ao
meio dia, tira dentes de graça, na praça em frente à Alfândega”. 25/06/1858
“Não há
mais cabelos brancos, com a tinta de E. Salliés de Paris, à venda na casa de A
Faveret Filho”. 02/06/1875
“Limas
químicas, remédio infalível e pronto para tirar sem pôr em perigo os calos dos
pés. Vendem-se a patacão o par, no escritório do finado José de Souza Gomes,
rua da Praia nº 74”. 06/06/1858
“Tísica –
Contra este mal que até hoje foi reputado incurável, inflamações e úlceras dos
brônquios, encontrou, ultimamente, o Dr. em medicina Landsberg um remédio
radical, fazendo uso da receita. Bromureto de cálcio, dracma e meia. Água
destilada, seis onças. Açúcar branco, três dracmas. Dissolva e misture”.
27/05/1881
“Vende-se
muitas boas bichas (sanguessugas) na botica de Joaquim Vieira Mendes, a 240
réis, cada uma, e aos centos por menos”. 11/02/1853
“No beco do
Carmo nº 13, pegando ao relojoeiro Braz, loja de barbeiro de Antonio José
Gonçalves, tem um grande sortimento de bichas de Hamburgo que aplica por cômodo
preço, sangra, tira dentes e bota ventosa sem fogo”. 29/03/1857
“Elisa
Maria da Conceição, rapariga de 20 anos mais ou menos, vestiu-se de homem e foi
à noite, na casa de pasto ‘Aliança’ à rua Paisandu e enciumada travou-se de
razões com um dos convivas freqüentadores daquela casa e de outras que gozam de
mesma reputação e que estão por isso debaixo das vistas da polícia. Foi, porém,
presa e conduzida ao xadrez do quartel, onde pernoitou, para não continuar a
disfarçar-se”. 08/04/1878
“Previne-se
aos srs. Ourives, que na noite de 26 para 27 do corrente roubaram um urinol de
prata; quem apreender e levar na casa da rua das Praças esquina da rua da
Alfândega será gratificado”. 30/03/1858
Confusões
da caserna: “Depois da meia-noite, cinco soldados de linha do contingente que
faz a guarnição da cidade, armados de cacete, espancaram no largo da Geribanda,
a um soldado de polícia e tiraram-lhe a
espada. O ajudante de ordens da guarnição que saíra do teatro e recolhia-se
para casa, sabendo do ocorrido, dirigiu-se ao quartel e mandou-os prender”.
29/05/1860
“Em Peth,
faleceu um advogado, que deixou duzentos mil florins a quem descobrir um meio prático
de correspondência com a lua. Esse patusco que, provavelmente em vida, muitas
vezes pôs a arder o juízo do próximo, ainda depois de morto quis deixar uma
fortuna de maluquices para o futuro!” 06/06/1883
O jornal O
Artista noticiava: “As casas de bailões públicos, as bodegas mal freqüentadas e
os Marcôs de ínfima classe estão fazendo da rua dos Príncipes (General Bacelar)
o seu bairro predileto. O nosso estabelecimento acha-se cercado por todos os
lados de casas desse gênero nas quais, diariamente, se estão dando cenas pouco
edificantes e espetaculares, atentórias a moral pública... As famílias da
vizinhança escrupulizam em chegar à janela para não depararem com alguma
reprodução dos quadros realistas dos romances de Zola. Há tantas ruas no Rio
Grande, onde semelhantes casas podiam ser estabelecidas sem grande prejuízo da
moralidade pública! Não poderia a autoridade policial livrar a rua dos
Príncipes das casas de bailes, das bodegas e dos Marcôs?”. 31/05/1884
“Na noite
de ontem roubaram do circo de Espinosa, no Largo do Poço (Praça de Setembro),
as cordas e moirões com que trabalhava sua companhia”. 10/04/1859
A viúva e
os pé-na-cova: “Faleceu ontem, o padeiro francês Martin, casado com Mme.
Latruff que acaba de ficar viúva pela segunda vez em menos de 22 meses.
Ignoramos qual a enfermidade que, tão cedo, roubara-lhe a existência, mas o
grande caso é que o delegado de polícia negou sepultura ao corpo e este, que em
vida nunca tivera ‘ordenança’ acha-se com duas à vista, desde ontem, e hoje
sofrerá anatomia pelos drs. Operadores Pio e Penna”. 12/04/1857
“Pela
patrulha da polícia, na noite de ontem, foi multado Manoel Tavares Leite, com
venda á rua general Osório nº 5, por consentir reuniões ilícitas dentro da taverna
e terem sido apanhados de jogatinas sendo apreendido o baralho”. 16/04/1878
“Foi
recolhida a cadeia pública, à ordem do delegado de Política, Ana Maria
Joaquina, por ter açoitado a um filho de família, que tinha fugido de seus
pais”. 21/04/1857
“Os gatunos
favorecidos pela estação começaram a aparecer. Hoje, assaltaram a taberna de
Francisco Gomes Vasquez, no Largo das Trincheiras e arrombaram-na pela porta da
frente e introduzindo-se no interior trataram de desapossar seu dono de alguns
objetos, quando foram pressentidos por este, que logo chamando em altas vozes
pelos vizinhos, afugentou os gatunos, que mesmo assim sempre levaram uma capa
do pano, deixando em troca uma baioneta velha. A polícia não se fez esperar
muito, descoberto o roubo, e prendeu um dos autores que é o soldado de nome
Joaquim José Leite”. 02/06/1860
“Foi
recolhido ao quartel policial Manoel Gomes, por espancar uma escrava na rua.
Foram multados em 18$ Victorino Ferreira da Silva Sobroza por ter chiqueiro de
porcos dentro da cidade e Manoel José de Faria em 10$ por ter sido encontrado
botando água no leite que tinha de expor à venda, a Francisco Antonio da Silva
Braga em 4$ por correr com carroça na cidade”. 05/05/1859
“Um caso
singular e quiçá, virgem, teve lugar hoje nesta cidade na rua do Pito. Um jovem
de 17 anos de idade, de combinação com uma meretriz, de vida menos regular em
sua ordem, envenenaram-se bebendo ácido sulfúrico. Acudidos imediatamente pelo
dr. Menezes, que ainda os encontrou abraçados, aplicou os socorros que manda a
arte, e a ainda assim ficaram em perigo de vida”. 11/05/1857
“Pelo
delegado de Polícia foi condenado Joasephilo M. de Souza Prandão em 13 dias de
prisão e 200$ de multa por ter reincidido em exercer a medicina nesta cidade,
contra os quesitos da lei. Oxalá o sr. delegado de Polícia continue a empregar
toda a energia contra os charlatões que tantas vítimas tem feito nesta cidade”.
11/05/1859
“Consciência.
Roga-se à pessoa que por engano levou 18 lajes da rua da Boa Vista, de fronte à
casa de Hugentebler & Cia, se acusar à mesma rua nº 24”. 12/06/1856
“Foram
removidos de bordo do ‘Presiganga’ todos os presos que nele se achavam, por
ameaçar aquele navio ir a pique, em razão de muita água que faz”. 18/06/1853
“Foi
repreendido e mandado retirar do teatro, por ter atirado estalos, o indivíduo
João Mendisco”. 18/06/1860
Diário do
Rio Grande e os Caloteiros: “Como seja-nos muito penoso a cobrança de anúncios,
declaramos positivamente, que os não publicamos de hoje em diante sem que sejam
pagos adiantados, salvo os que forem de casas com quem temos por costume
recebermos de três em três meses e de atrás com quem temos conta”. 01/01/1855
Movimento
na cadeia era intenso: “Durante o ano findo de 1860 foram recolhidos à cadeia
civil desta cidade 797 pessoas sendo homens livres 302, escravos 353, mulheres
livres 68 e escravas 74. Saíram 788, sendo 299 homens livres, 347 escravos, 68
mulheres livres e 74 escravas”. 04/01/1861
A vingança
dos lobos marinhos...: “Foi devorado ontem por um incêndio o palhabote inglês
‘Enterprise’ que se achava fundeado na Bóia. A tripulação foi salva nos
escaleres de bordo e a carga que constava de 545 peles de lobo marinho, ficou
inteiramente destruída”. 26/01/1906
Diário do Rio Grande. 28-06-1850. Anúncios marítimos e em geral. |
Recorte do jornal do dia 28-06-1850. |
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