Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

domingo, 10 de junho de 2018

ANÚNCIOS


Jornais da cidade do Rio Grande são fonte inesgotável de pesquisa para quem investiga os cotidianos de tempos passados. Através dos anúncios é possível identificar comportamentos sociais, penais, nível técnico, disponibilidade de produtos e tecnologias, saber médico e os fármacos disponíveis, padrões de estética recomendados, organização social e questões raciais etc.
A leitura dos jornais estão repletas de discussões políticas e de visões de mundo, informações que não são neutras e sim construções discursivas que devem ser interrogadas e reconstruídas a partir do arsenal intelectual do presente.
Para quem pesquisa jornais é como visitar o passado e sentir o sabor de descobrir aquilo que foi esquecido ao longo do tempo. O que pode ter sido tão importante no passado e virou notícia (como um assassinato) vai sendo esquecido com o falecimento das pessoas e com as estruturas materiais onde a trama se desenrolou. Mas o que ficou registrado nos jornais será sempre o tempo presente que inspirou os escritos. A perenidade das palavras acaba transcendendo o tempo de vida dos atores!
A seguir são reproduzidas alguns anúncios de jornais da cidade do Rio Grande (especialmente do Diário do Rio Grande e do Echo do Sul) com temas polêmicos, com picaretagens e denúncias ligadas ao comportamento cotidiano desta antiga urbe. Pelas matérias, dá para sentir um pouco deste sabor de voltar no tempo.

ANÚNCIOS
 “Na olaria de João José de Oliveira Guimarães se vendem garrafas de Tintura de Turbit composta; remédio infalível contra todas as qualidades de moléstias curáveis, receita dos Jesuítas, achada na livraria do Povo dos Guaranis, denominado Santos Mártires do Japão, pelo abaixo assinado, em 1816. Cada garrafa contém mais de 16 purgantes ordinários e custa 500 réis, com o método curativo que a acompanha. É ótimo remédio contra areias e pedras e mais moléstias urinárias; tem sido utilíssimo nos ataques de erisipela e de asma; tem curado o reumatismo, sarampão e inflamação em qualquer parte, e de todas as qualidades; assim como febres, hidropesias, diarréias e câmaras de sangue; cura, o escorbuto e não há moléstia venérea, por antiga, que resista; cura com mais rapidez e segurança que a composição de M. Le Roy, como experimentação as pessoas que usarem deste remédio, seguindo à risca o método que acompanha. Luiz Guedes Ferreira de Moraes Sarmento”. 27/05/1829
“O Dentista Universal chegou ontem de Montevidéu  oferece seu préstimo artístico ao ilustrado público desta cidade; sua residência é no hotel Moraes. O mesmo dentista previne à população que hoje, ao meio dia, tira dentes de graça, na praça em frente à Alfândega”. 25/06/1858
“Não há mais cabelos brancos, com a tinta de E. Salliés de Paris, à venda na casa de A Faveret Filho”. 02/06/1875
“Limas químicas, remédio infalível e pronto para tirar sem pôr em perigo os calos dos pés. Vendem-se a patacão o par, no escritório do finado José de Souza Gomes, rua da Praia nº 74”. 06/06/1858
“Tísica – Contra este mal que até hoje foi reputado incurável, inflamações e úlceras dos brônquios, encontrou, ultimamente, o Dr. em medicina Landsberg um remédio radical, fazendo uso da receita. Bromureto de cálcio, dracma e meia. Água destilada, seis onças. Açúcar branco, três dracmas. Dissolva e misture”. 27/05/1881
“Vende-se muitas boas bichas (sanguessugas) na botica de Joaquim Vieira Mendes, a 240 réis, cada uma, e aos centos por menos”. 11/02/1853
“No beco do Carmo nº 13, pegando ao relojoeiro Braz, loja de barbeiro de Antonio José Gonçalves, tem um grande sortimento de bichas de Hamburgo que aplica por cômodo preço, sangra, tira dentes e bota ventosa sem fogo”. 29/03/1857
“Elisa Maria da Conceição, rapariga de 20 anos mais ou menos, vestiu-se de homem e foi à noite, na casa de pasto ‘Aliança’ à rua Paisandu e enciumada travou-se de razões com um dos convivas freqüentadores daquela casa e de outras que gozam de mesma reputação e que estão por isso debaixo das vistas da polícia. Foi, porém, presa e conduzida ao xadrez do quartel, onde pernoitou, para não continuar a disfarçar-se”. 08/04/1878
“Previne-se aos srs. Ourives, que na noite de 26 para 27 do corrente roubaram um urinol de prata; quem apreender e levar na casa da rua das Praças esquina da rua da Alfândega será gratificado”. 30/03/1858
Confusões da caserna: “Depois da meia-noite, cinco soldados de linha do contingente que faz a guarnição da cidade, armados de cacete, espancaram no largo da Geribanda, a um soldado de polícia  e tiraram-lhe a espada. O ajudante de ordens da guarnição que saíra do teatro e recolhia-se para casa, sabendo do ocorrido, dirigiu-se ao quartel e mandou-os prender”. 29/05/1860
“Em Peth, faleceu um advogado, que deixou duzentos mil florins a quem descobrir um meio prático de correspondência com a lua. Esse patusco que, provavelmente em vida, muitas vezes pôs a arder o juízo do próximo, ainda depois de morto quis deixar uma fortuna de maluquices para o futuro!” 06/06/1883
O jornal O Artista noticiava: “As casas de bailões públicos, as bodegas mal freqüentadas e os Marcôs de ínfima classe estão fazendo da rua dos Príncipes (General Bacelar) o seu bairro predileto. O nosso estabelecimento acha-se cercado por todos os lados de casas desse gênero nas quais, diariamente, se estão dando cenas pouco edificantes e espetaculares, atentórias a moral pública... As famílias da vizinhança escrupulizam em chegar à janela para não depararem com alguma reprodução dos quadros realistas dos romances de Zola. Há tantas ruas no Rio Grande, onde semelhantes casas podiam ser estabelecidas sem grande prejuízo da moralidade pública! Não poderia a autoridade policial livrar a rua dos Príncipes das casas de bailes, das bodegas e dos Marcôs?”.  31/05/1884
“Na noite de ontem roubaram do circo de Espinosa, no Largo do Poço (Praça de Setembro), as cordas e moirões com que trabalhava sua companhia”. 10/04/1859
A viúva e os pé-na-cova: “Faleceu ontem, o padeiro francês Martin, casado com Mme. Latruff que acaba de ficar viúva pela segunda vez em menos de 22 meses. Ignoramos qual a enfermidade que, tão cedo, roubara-lhe a existência, mas o grande caso é que o delegado de polícia negou sepultura ao corpo e este, que em vida nunca tivera ‘ordenança’ acha-se com duas à vista, desde ontem, e hoje sofrerá anatomia pelos drs. Operadores Pio e Penna”. 12/04/1857
“Pela patrulha da polícia, na noite de ontem, foi multado Manoel Tavares Leite, com venda á rua general Osório nº 5, por consentir reuniões ilícitas dentro da taverna e terem sido apanhados de jogatinas sendo apreendido o baralho”. 16/04/1878
“Foi recolhida a cadeia pública, à ordem do delegado de Política, Ana Maria Joaquina, por ter açoitado a um filho de família, que tinha fugido de seus pais”. 21/04/1857
“Os gatunos favorecidos pela estação começaram a aparecer. Hoje, assaltaram a taberna de Francisco Gomes Vasquez, no Largo das Trincheiras e arrombaram-na pela porta da frente e introduzindo-se no interior trataram de desapossar seu dono de alguns objetos, quando foram pressentidos por este, que logo chamando em altas vozes pelos vizinhos, afugentou os gatunos, que mesmo assim sempre levaram uma capa do pano, deixando em troca uma baioneta velha. A polícia não se fez esperar muito, descoberto o roubo, e prendeu um dos autores que é o soldado de nome Joaquim José Leite”. 02/06/1860
“Foi recolhido ao quartel policial Manoel Gomes, por espancar uma escrava na rua. Foram multados em 18$ Victorino Ferreira da Silva Sobroza por ter chiqueiro de porcos dentro da cidade e Manoel José de Faria em 10$ por ter sido encontrado botando água no leite que tinha de expor à venda, a Francisco Antonio da Silva Braga em 4$ por correr com carroça na cidade”. 05/05/1859
“Um caso singular e quiçá, virgem, teve lugar hoje nesta cidade na rua do Pito. Um jovem de 17 anos de idade, de combinação com uma meretriz, de vida menos regular em sua ordem, envenenaram-se bebendo ácido sulfúrico. Acudidos imediatamente pelo dr. Menezes, que ainda os encontrou abraçados, aplicou os socorros que manda a arte, e a ainda assim ficaram em perigo de vida”. 11/05/1857
“Pelo delegado de Polícia foi condenado Joasephilo M. de Souza Prandão em 13 dias de prisão e 200$ de multa por ter reincidido em exercer a medicina nesta cidade, contra os quesitos da lei. Oxalá o sr. delegado de Polícia continue a empregar toda a energia contra os charlatões que tantas vítimas tem feito nesta cidade”. 11/05/1859
“Consciência. Roga-se à pessoa que por engano levou 18 lajes da rua da Boa Vista, de fronte à casa de Hugentebler & Cia, se acusar à mesma rua nº 24”. 12/06/1856
“Foram removidos de bordo do ‘Presiganga’ todos os presos que nele se achavam, por ameaçar aquele navio ir a pique, em razão de muita água que faz”. 18/06/1853
“Foi repreendido e mandado retirar do teatro, por ter atirado estalos, o indivíduo João Mendisco”. 18/06/1860
Diário do Rio Grande e os Caloteiros: “Como seja-nos muito penoso a cobrança de anúncios, declaramos positivamente, que os não publicamos de hoje em diante sem que sejam pagos adiantados, salvo os que forem de casas com quem temos por costume recebermos de três em três meses e de atrás com quem temos conta”. 01/01/1855
Movimento na cadeia era intenso: “Durante o ano findo de 1860 foram recolhidos à cadeia civil desta cidade 797 pessoas sendo homens livres 302, escravos 353, mulheres livres 68 e escravas 74. Saíram 788, sendo 299 homens livres, 347 escravos, 68 mulheres livres e 74 escravas”. 04/01/1861
A vingança dos lobos marinhos...: “Foi devorado ontem por um incêndio o palhabote inglês ‘Enterprise’ que se achava fundeado na Bóia. A tripulação foi salva nos escaleres de bordo e a carga que constava de 545 peles de lobo marinho, ficou inteiramente destruída”. 26/01/1906

Diário do Rio Grande. 28-06-1850. Anúncios marítimos e em geral. 
Recorte do jornal do dia 28-06-1850.

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