O livro é,
com algumas modificações, o resultado da tese de Doutorado (2005) apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em Letras, área de concentração em Teoria da
Literatura, da PUCRS. Mauro Póvoas buscou a partir da discussão de tópicos
teóricos vinculados à Teoria da História da Literatura – fontes primárias,
rastros, cânone, memória cultural e sistema literário -, realizar um trabalho que
tem por intenção descortinar a produção poética de escritores do século XIX,
pouco ou nada estudados pelas historiografias literária brasileira e
sul-rio-grandense, como Maria Clemência da Silveira Sampaio, Carlos Jansen,
Bernardo Taveira Júnior, Damasceno Vieira, Revocata Heloísa de Melo e Julieta
de Melo Monteiro.
O autor
analisa três revistas literárias do Rio Grande do Sul que circularam ao longo
do século XIX: O Guaíba (Porto Alegre, 1856-1858), Revista Mensal da Sociedade
Partenon Literário (Porto Alegre, 1869-1879) e Corimbo (Rio Grande, 1883-1943).
Cada periódico tem sua trajetória contextualizada, com dados sobre circulação,
formato e principais escritores, muitas vezes dirimindo dúvidas e corrigindo
erros que se perpetuavam no âmbito da historiografia literária
sul-rio-grandense. O estudo delimita, a partir da Teoria da História da
Literatura, a importância das três revistas para a implementação e a
consolidação do sistema literário no Rio Grande do Sul, em especial por meio da
análise da poesia publicada nas páginas periódicas.
Na
apresentação do livro a profa. Maria Eunice Moreira (orientadora) ressalta que
o estudo encontra-se ancorado em sólida fundamentação teórica, proveniente da
história da literatura, história da cultura, história da imprensa, abordando
questões fundamentais para o entendimento da formação dos sistemas literários,
especialmente os regionais.
Conforme Póvoas,
“ao longo deste trabalho, seguiram-se rastros, procuraram-se resíduos,
buscaram-se resquícios em periódicos do Rio Grande do Sul do século XIX. O
intento foi o de retirar do esquecimento uma vasta produção literária que, se
não fosse por isso, estaria escondida nas prateleiras das bibliotecas
responsáveis pela manutenção de acervos, arquivos, manuscritos e documentos”.
O autor
enfatiza que o estudo com fontes documentais (no caso, os periódicos) abre
espaço para questionamentos que “se interseccionam em torno da história, da
literatura e do cânone. A história da literatura desde o seu princípio revelou
uma tendência à monumentalidade, numa tentativa vã e improvável de alcançar a
completude e de abraçar tudo e todos de um determinado período ou local. Isso
levou a um rompimento das relações entre história e literatura, que somente
foram reatadas com a substituição da visão positivista de progressão,
totalidade e objetividade, pela consciência da incompletude e pela
subjetividade. Dessa maneira, a nova história da literatura advogada não se
caracteriza pela amplidão, mas pode ser abertamente fragmentária e se compor de
várias micro-histórias que preservam a memória do que também está à margem, e
não apenas no centro”.
Mauro Póvoas
tem muito a dialogar salutarmente com os historiadores! Seu espírito de
investigação e de ampliação crítica do objeto até o desvelamento em pequena
escala das narrativas e sua transposição numa escala ampliada que são os
sistemas literários, apresenta muitos pontos em comum com as investigações dos
novos paradigmas do conhecimento histórico. Leitura obrigatória e que
contribuiu para evidenciar, num recorte, a importância da cidade do Rio Grande
oitocentista para a formação literária Rio-grandense.
Corymbo. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
Acervo: Biblioteca Digital Luso-Brasileira. |
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