Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 29 de maio de 2018

A VILA OPERÁRIA DA RHEINGANTZ

         Faremos uma incursão no livro de Vivian Paulitsch Rheingantz: uma vila operária em Rio Grande (Editora da FURG, 2008). O trabalho da autora desvelou a construção e funcionalidade da Vila Operária, constituindo num livro de suma importância e de consulta obrigatória num momento histórico em que precisamos nos voltar para as raízes que constituíram a trajetória histórico-cultural da cidade.
          Fundada em novembro de 1873, a Rheingantz foi uma empresa pioneira na produção de tecidos e panos de lã. A fábrica original funcionava nas proximidades da praça Marcílio Dias nas esquinas da Silva Paes com Barroso. Em 1885 inaugura suas novas instalações na Cidade Nova, começando a edificação do complexo arquitetônico hoje conhecido. Além dos prédios de produção e administração, foi construída a Vila Operária para que os trabalhadores morassem junto à fábrica.
O ato de inauguração foi registrado pelo jornal Echo do Sul do dia 7 de março de 1885: “O crescente desenvolvimento que tomou este estabelecimento aconselhou os Srs. Rheingantz e C. a mudarem sua fábrica de tecidos de lã para o grande terreno onde se acha a tinturaria e onde foi construído o vasto edifício, cujas obras foram inauguradas no dia primeiro do corrente com a assistência de Suas Altezas Imperiais. É a prova de fogo. A coberta de ferro. Ocupa o principal edifício uma área de 3.300 metros quadrados, não incluindo a grande casa do novo motor, inaugurada no dia primeiro do corrente e a que se deu o nome de Grão Pará. Este morto é de força de 150 cavalos. O edifício tem 35 janelas de frente, outras tantas de fundo e 8 de lado. (...) Os maquinismos são dos conhecidos fabricantes Platt e Brothers, de Oldham (Inglaterra). Em junho próximo devem as duas fábricas funcionar com regularidade, empregando cerca de 400 operários”. Posteriormente, a fábrica empregava em média 1.200 operários chegando a picos de produção intensa com 2.000.
Conforme Vivian Paulitsch, após a construção das casas da fábrica a partir de 1884, as demais construções de semelhante tipologia foram edificadas entre 1903 e 1922, constituindo a denominada Vila Operária. A localização desse conjunto de habitações dá-se pela avenida Presidente Vargas (ex-Avenida Rheingantz), rua América, rua 1° de Maio e rua Raul Barlém (ex-Rua Brasil). A ampliação das moradias operárias deu-se na virada do século, quando foram construídos outros prédios, como o Cassino dos Mestres, o Grupo Escolar, o Jardim de Infância, seis casas para mestres e mais seis para operários.
         Conforme a autora, a importância da manutenção deste acervo edificado também está em que os construtores estabeleceram uma dialética com uma cultura arquitetônica daquele momento que se reflete na conformação das residências. A propriedade é única em termos de conjunto edificado, pois foram demolidas as vilas que existiram nos bairros mais antigos da cidade de São Paulo, como Bom Retiro, Brás, Mooca, Belém, Belenzinho, Lapa e Ipiranga, que eram repletos de vilas construídas junto às fábricas.

         No livro ainda é enfatizado que a Vila Operária está direta e materialmente ligada à história da industrialização do Rio Grande do Sul e a da tradição de criação de animais que caracteriza o Estado. O complexo Rheingantz é um patrimônio cultural, compreendendo obras de arquitetos, criações anônimas de construtores surgidas da alma popular e um conjunto de valores histórico-culturais que dão sentido à vida dessa vila naquele período histórico. Portanto, faz parte de uma cultura arquitetônica daquele tempo e pode-se claramente observar que os construtores – dos quais não há informações atualmente – conheciam certos modelos internacionais, pois existe um ambicioso desenho dentro do contexto desse conjunto de habitações. Vivian também enfatiza que a identidade e o caráter da Vila Operária Rheingantz tem suma importância não só por sua estrutura física, mas também por suas características sociológicas – considerando sua integração ao processo vivo do local em relação ao que denominam Vila Alemã ou Casas da Rheingantz.





Quadro com parte do complexo Rheingantz/União Fabril (em primeiro plano o prédio da administração) no ano de 1923. Centralizando a imagem dos administradores está Carlos Guilherme Rheingantz. 

Cartão-postal de parte do complexo Rheingantz por volta de 1920. Em destaque o prédio da administração e a circulação do bonde urbano.


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