Faremos
uma incursão no livro de Vivian Paulitsch Rheingantz:
uma vila operária em Rio
Grande (Editora da FURG, 2008). O trabalho da autora
desvelou a construção e funcionalidade da Vila Operária, constituindo num livro
de suma importância e de consulta obrigatória num momento histórico em que
precisamos nos voltar para as raízes que constituíram a trajetória
histórico-cultural da cidade.
Fundada em novembro de 1873, a Rheingantz foi uma
empresa pioneira na produção de tecidos e panos de lã. A fábrica original
funcionava nas proximidades da praça Marcílio Dias nas esquinas da Silva Paes
com Barroso. Em 1885 inaugura suas novas instalações na Cidade Nova, começando
a edificação do complexo arquitetônico hoje conhecido. Além dos prédios de
produção e administração, foi construída a Vila Operária para que os
trabalhadores morassem junto à fábrica.
O ato de inauguração foi registrado pelo
jornal Echo do Sul do dia 7 de março
de 1885: “O crescente desenvolvimento que tomou este estabelecimento aconselhou
os Srs. Rheingantz e C. a mudarem sua fábrica de tecidos de lã para o grande
terreno onde se acha a tinturaria e onde foi construído o vasto edifício, cujas
obras foram inauguradas no dia primeiro do corrente com a assistência de Suas
Altezas Imperiais. É a prova de fogo. A coberta de ferro. Ocupa o principal
edifício uma área de 3.300 metros
quadrados , não incluindo a grande casa do novo motor,
inaugurada no dia primeiro do corrente e a que se deu o nome de Grão Pará. Este
morto é de força de 150 cavalos. O edifício tem 35 janelas de frente, outras
tantas de fundo e 8 de lado. (...) Os maquinismos são dos conhecidos
fabricantes Platt e Brothers, de Oldham (Inglaterra). Em junho próximo devem as
duas fábricas funcionar com regularidade, empregando cerca de 400 operários”.
Posteriormente, a fábrica empregava em média 1.200 operários chegando a picos
de produção intensa com 2.000.
Conforme Vivian Paulitsch, após a construção
das casas da fábrica a partir de
1884, as demais construções de semelhante tipologia foram edificadas entre 1903
e 1922, constituindo a denominada Vila Operária. A localização desse conjunto
de habitações dá-se pela avenida Presidente Vargas (ex-Avenida Rheingantz), rua
América, rua 1° de Maio e rua Raul Barlém (ex-Rua Brasil). A ampliação das
moradias operárias deu-se na virada do século, quando foram construídos outros
prédios, como o Cassino dos Mestres, o Grupo Escolar, o Jardim de Infância,
seis casas para mestres e mais seis para operários.
Conforme
a autora, a importância da manutenção deste acervo edificado também está em que
os construtores estabeleceram uma dialética com uma cultura arquitetônica
daquele momento que se reflete na conformação das residências. A propriedade é
única em termos de conjunto edificado, pois foram demolidas as vilas que
existiram nos bairros mais antigos da cidade de São Paulo, como Bom Retiro,
Brás, Mooca, Belém, Belenzinho, Lapa e Ipiranga, que eram repletos de vilas
construídas junto às fábricas.
No
livro ainda é enfatizado que a Vila Operária está direta e materialmente ligada
à história da industrialização do Rio Grande do Sul e a da tradição de criação
de animais que caracteriza o Estado. O complexo Rheingantz é um patrimônio
cultural, compreendendo obras de arquitetos, criações anônimas de construtores
surgidas da alma popular e um conjunto de valores histórico-culturais que dão
sentido à vida dessa vila naquele período histórico. Portanto, faz parte de uma
cultura arquitetônica daquele tempo e pode-se claramente observar que os
construtores – dos quais não há informações atualmente – conheciam certos
modelos internacionais, pois existe um ambicioso desenho dentro do contexto
desse conjunto de habitações. Vivian também enfatiza que a identidade e o
caráter da Vila Operária Rheingantz tem suma importância não só por sua
estrutura física, mas também por suas características sociológicas –
considerando sua integração ao processo vivo do local em relação ao que
denominam Vila Alemã ou Casas da Rheingantz.
Quadro com parte do complexo Rheingantz/União Fabril (em primeiro plano o prédio da administração) no ano de 1923. Centralizando a imagem dos administradores está Carlos Guilherme Rheingantz. |
Cartão-postal de parte do complexo Rheingantz por volta de 1920. Em destaque o prédio da administração e a circulação do bonde urbano. |
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