Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 19 de abril de 2018

O VALE DO DOURO

      A primeira região vitícola regulamentada é o Alto Douro no norte de Portugal. A paisagem do Vale do Rio Douro é constituído por encostas íngremes e solos pobres e acidentados. O trabalho humano para desenvolver atividades agrícolas do tipo mediterrâneo permitiu o desenvolvimento de um ecossistema onde as características do terreno são aproveitadas de forma exemplar, com a modelação da paisagem em socalcos, preservando-a da erosão e permitindo o cultivo da vinha.
         Nesta região é produzido o renomado vinho do Porto e outros vinhos de qualidade apreciada pelos consumidores em inúmeros países. O vinho do Porto é um vinho natural e fortificado, produzido exclusivamente a partir de uvas provenientes da Região Demarcada do Douro, a cerca de 100 km a leste da cidade do Porto, espaço portuário onde ocorria a exportação do produto.
       A fixação das populações que modelaram a paisagem recua a ocupação romana, e dele resultou uma realidade viva e em evolução, ao mesmo tempo testemunho do passado e motor do futuro, solidamente ancorado na otimização dos recursos naturais e na preservação das ambiências.
    Historicamente o Douro teve ocupação humana desde o Paleolítico Superior a cerca de 20 mil anos, inclusive com expressões artísticas: as pinturas rupestres. A presença da uva na região remonta há pelo menos quatro mil anos, pois foram escavadas grainhas carbonizadas (pequenas sementes). Os romanos ocupam a região no século I d.C. ocorrendo à intensificação da agricultura devido à construção de uma rede de estradas e pelas numerosas pontes que o Império construiu. O plantio da uva passa a ter destaque econômico que promove o surgimento de vilas agrárias especializadas no cultivo. A partir do século V, com a decadência da ocupação romana, as terras do Vale do Duro foram ocupadas por suevos e visigodos, povos bárbaros que são cristianizados. No século XVIII ocorre a ocupação muçulmana que marcará profundamente a Península Ibérica. Com as guerras movidas contra a ocupação árabe e a conseqüente independência, o reino português é criado em cinco de outubro de 1143, tendo por primeiro D. Afonso Henriques (1109-1185). Portugal começava a se projetar como um Estado Nacional que nos séculos seguintes se lançaria as aventuras marítimas e desenvolveria as tecnologias náuticas mais avanças daquela época.
          Na região do Douro, durante a Baixa Idade Média, nos séculos XII e XIII, a Ordem de Cister construiu mosteiros como o de São Pedro das Águias que edificou granjas nas encostas do Rio Douro e fortaleceu a presença da cristandade. A produção do vinho continuou a desenvolver-se, graças ao seu transporte para o Porto, através do rio Douro. As descobertas marítimas (séculos XV e XVI) promoveram o aumento da circulação no rio, uma vez que as viagens requeriam grandes quantidades de vinhos fortes para saciar os marinheiros. Avançando no tempo, entre os séculos XVII e XIX a Inglaterra passou a ser o principal consumidor dos vinhos produzidos no Douro, o que resultou na assinatura do Tratado de Methuen, em 1703, no qual o Reino Unido concedia direitos preferenciais aos vinhos portugueses, com a contrapartida de Portugal permitir a entrada livre dos tecidos britânicos em Portugal. O Marquês de Pombal criou a primeira região vitícola regulamentada do mundo, demarcando o Douro Vinhateiro (1757-1761), através da colocação de grandes marcos de granito, no terreno, com a palavra “Feitoria”.
          Entre crises e inovações biológicas e químicas, a região Douro recebeu na década de 1970, novas técnicas de plantio da vinha, em patamares, com muros de xisto delimitando os níveis. Em 2001, a UNESCO considerou o Alto Douro Vinhateiro fosse considerado Patrimônio Mundial da Humanidade (https://www.unescoportugal.mne.pt/pt/temas/proteger-o-nosso-patrimonio-e-promover-a-criatividade/patrimonio-mundial-em-portugal/alto-douro-vinhateiro).

Ilustrações: carros de bois e as pipas de vinho do Porto em Vila Nova de Gaia, 1905; azulejos portugueses na Estação ferroviária do Pinhão retratando cenários do Vale do Rio Douro e a viticultura. Acervo: http://www.cruzeiros-douro.pt










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