Porto do Rio Grande em 1908

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domingo, 6 de agosto de 2017

RESSUSCITEM OS MEGATÉRIOS!

Heinrich Harder (1858-1935) - The Wonderful Paleo Art of Heinrich Harder.

Tenho que esclarecer que os megatérios (preguiça gigante) não podem ser salvos, pois já estão extintos a pelo menos 6 mil anos. É apenas uma analogia a algo supostamente ultrapassado e de grandes dimensões: refiro-me aos antigos aparelhos de televisão. Ainda possuo aparelhos que mesmo sem usar durante anos, ao serem ligados funcionam perfeitamente. Porém o seu peso e dimensões os tornam aberrações estéticas e agressivas a coluna. Nada como a modernidade da compactação dos lcds e leds. Troque o megatério por um quadro de parede, é a chamada que sensibiliza a maioria dos consumidores além do suposto ganho em qualidade de imagem.
Porém esta fantasia está se esfacelando rapidamente! Não pela tecnologia em si, mas pela péssima qualidade dos produtos oferecidos. Passando o prazo de garantia os produtos começam a dar problemas graves que necessitam Da assistência técnica. Algumas preciosidades ocorrem nestes orçamentos da assistência credenciada: diálogos como a TV já tem três anos e não há peças de reposição para ela – e não pense em abandoná-la em nossa loja que nem para colocar no lixo aceitamos;
Somente televisores digitais, os mais recentes, já existem 50 milhões no Brasil. No ano de 2013 a produção foi de 14 milhões e para o ano da ‘Gloriosa Copa do Mundo’ a projeção é de 16 milhões de unidades vendidas! Um mercado e tanto... Já existe um estudo que avalie quantos milhões destes aparelhos estarão, nos próximos três anos, jogados nos lixões pela irracionalidade dos consumidores ainda mantê-los?
Estou falando em marcas consagradas e não nas mais ‘em conta’. Fique claro que dentro desta indústria do descarte, marcas consagradas ou não, possuem, com rara exceção, uma identidade em comum: o selo no verso de ‘Made in China’.
A estupidez desta indústria não se funda apenas no esvaziamento do bolso dos consumidores: ela transforma estes em escravos anuais da assistência técnica que alimenta a indústria da reposição de peças. A situação é tão grave que as empresas que não aderirem a esta boçalidade (mantendo um aparelho vários anos sem defeito e sem angariarem numerário com as peças de reposição), estão condenadas a falência! Portanto, o suposto barateamento e popularização dos televisores de fato é superficial, pois o preço final poderá ser muito superior a um aparelho que funcione longos anos sem defeito.
Numa escavação arqueológica recente, encontrei três megatérios no soca-soca da casa. São preciosidades da técnica e da decência a que me curvei fanaticamente louvando os bons tempos de uma indústria não descartável. Os aparelhos possuem entre 16 e 9 anos de idade e pasmem: funcionam perfeitamente!
Já os três Lcds e Leds comprados nos três últimos anos tiveram um destino diferente: um foi descartado por falta de peças; o outro custou R$500 reais por uma peça que deve ser anualmente reposta (sacramentando a relação hegeliana da dialética da submissão do escravo ao senhor através da técnica pós-moderna) e o terceiro aguarda a fatídica avaliação técnica (um laudo sempre cruel no olhar frio e distante dos assistentes técnicos...).
Deixando esta linguagem trágico-cômica, de fato quero promover uma reflexão sobre o tema com os leitores. A tecnologia do descarte, que não se prende apenas aos televisores, mas a qualquer aparelho de consumo de massa, evidencia que as peças são feitas para estragarem em determinado prazo. A energia gasta no planeta para esta produção de produtos de ‘vida efêmera’ consome parte dos recursos energéticos do planeta e garante uma poluição acentuada (derivados do petróleo) durante a sua confecção e para o seu descarte. Tanto a emissão de poluentes no ar como as substâncias que vão poluir o lençol freático, demonstra práticas antiecológicas e que vão à contramão das preocupações ambientais e do aquecimento global.
Porém, como no estágio atual do capitalismo a palavra de ordem é o crescimento do público consumidor e do consumo ampliado de bens até a exaustão dos recursos, é difícil visualizar uma alteração nestas práticas nefandas a saúde dos que vivem no planeta e promotora do enriquecimento de uma rede produtiva poderosa.
Neste cenário pós-moderno do descarte e das novidades pífias de uma suposta tecnologia avançada e que de fato é oca de qualidade, quero sensibilizar os leitores e afirmar: ressuscitem os megatérios!  


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