Tenho que
esclarecer que os megatérios (preguiça gigante) não podem ser salvos, pois já
estão extintos a pelo menos 6 mil anos. É apenas uma analogia a algo
supostamente ultrapassado e de grandes dimensões: refiro-me aos antigos
aparelhos de televisão. Ainda possuo aparelhos que mesmo sem usar durante anos,
ao serem ligados funcionam perfeitamente. Porém o seu peso e dimensões os
tornam aberrações estéticas e agressivas a coluna. Nada como a modernidade da
compactação dos lcds e leds. Troque o megatério por um quadro de parede, é a
chamada que sensibiliza a maioria dos consumidores além do suposto ganho em
qualidade de imagem.
Porém esta
fantasia está se esfacelando rapidamente! Não pela tecnologia em si, mas pela
péssima qualidade dos produtos oferecidos. Passando o prazo de garantia os
produtos começam a dar problemas graves que necessitam Da assistência técnica.
Algumas preciosidades ocorrem nestes orçamentos da assistência credenciada:
diálogos como a TV já tem três anos e não há peças de reposição para ela – e
não pense em abandoná-la em nossa loja que nem para colocar no lixo aceitamos;
Somente
televisores digitais, os mais recentes, já existem 50 milhões no Brasil. No ano
de 2013 a produção foi de 14 milhões e para o ano da ‘Gloriosa Copa do Mundo’ a
projeção é de 16 milhões de unidades vendidas! Um mercado e tanto... Já existe
um estudo que avalie quantos milhões destes aparelhos estarão, nos próximos
três anos, jogados nos lixões pela irracionalidade dos consumidores ainda
mantê-los?
Estou
falando em marcas consagradas e não nas mais ‘em conta’. Fique claro que dentro
desta indústria do descarte, marcas consagradas ou não, possuem, com rara exceção,
uma identidade em comum: o selo no verso de ‘Made in China’.
A estupidez
desta indústria não se funda apenas no esvaziamento do bolso dos consumidores:
ela transforma estes em escravos anuais da assistência técnica que alimenta a
indústria da reposição de peças. A situação é tão grave que as empresas que não
aderirem a esta boçalidade (mantendo um aparelho vários anos sem defeito e sem
angariarem numerário com as peças de reposição), estão condenadas a falência!
Portanto, o suposto barateamento e popularização dos televisores de fato é
superficial, pois o preço final poderá ser muito superior a um aparelho que
funcione longos anos sem defeito.
Numa
escavação arqueológica recente, encontrei três megatérios no soca-soca da casa.
São preciosidades da técnica e da decência a que me curvei fanaticamente
louvando os bons tempos de uma indústria não descartável. Os aparelhos possuem
entre 16 e 9 anos de idade e pasmem: funcionam perfeitamente!
Já os três Lcds e Leds comprados nos três
últimos anos tiveram um destino diferente: um foi descartado por falta de
peças; o outro custou R$500 reais por uma peça que deve ser anualmente reposta
(sacramentando a relação hegeliana da dialética da submissão do escravo ao
senhor através da técnica pós-moderna) e o terceiro aguarda a fatídica
avaliação técnica (um laudo sempre cruel no olhar frio e distante dos
assistentes técnicos...).
Deixando
esta linguagem trágico-cômica, de fato quero promover uma reflexão sobre o tema
com os leitores. A tecnologia do descarte, que não se prende apenas aos
televisores, mas a qualquer aparelho de consumo de massa, evidencia que as
peças são feitas para estragarem em determinado prazo. A energia gasta no
planeta para esta produção de produtos de ‘vida efêmera’ consome parte dos
recursos energéticos do planeta e garante uma poluição acentuada (derivados do
petróleo) durante a sua confecção e para o seu descarte. Tanto a emissão de
poluentes no ar como as substâncias que vão poluir o lençol freático, demonstra
práticas antiecológicas e que vão à contramão das preocupações ambientais e do
aquecimento global.
Porém, como
no estágio atual do capitalismo a palavra de ordem é o crescimento do público
consumidor e do consumo ampliado de bens até a exaustão dos recursos, é difícil
visualizar uma alteração nestas práticas nefandas a saúde dos que vivem no
planeta e promotora do enriquecimento de uma rede produtiva poderosa.
Neste
cenário pós-moderno do descarte e das novidades pífias de uma suposta
tecnologia avançada e que de fato é oca de qualidade, quero sensibilizar os
leitores e afirmar: ressuscitem os megatérios!
Nenhum comentário:
Postar um comentário