Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 5 de agosto de 2017

OS CHAFARIZES E A ARTE EM FERRO

Conforme José Francisco Alves (Fontes d’Art no Rio Grande do Sul,  editora Artfólio), no Rio Grande do Sul, a presença da indústria francesa em ferro fundido foi muito representativa. A fundição artística chega as maiores cidades da província, Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, num contexto do fornecimento de água potável à população. As peças fazem parte da arte pública, ou seja, eram equipamentos funcionais e colocaram a arte no espaço público que cotidianamente era percorrido pelos moradores. Os chafarizes que poderiam ter longa vida fornecendo água potável, tornaram-se em poucas décadas obsoletos com a distribuição por encanamento residencial. Com a perda da funcionalidade e a precária manutenção o destino de muitos chafarizes foi o desaparecimento. “A maioria deles foi ignorada pela vida das cidades, sem receber a manutenção necessária para a sua atribuição decorativa – a água jorrando -, embora estivessem localizados em sítios importantes. Seus destinos, com raras exceções, são lamentáveis.”
         Além da procedência francesa das peças José Alves também revelou uma característica única, que distingue a coleção rio-grandense das demais: “a procedência dessas obras de arte. Enquanto nas demais localidades da América Latina a origem onipresente de tal acervo é procedente das Fundições Val D’osne, no Rio Grande do Sul, porém, isto não ocorreu. Aqui reinaram soberanas as Fundições Durenne. Em menos de 10 anos, entre as décadas de 1860-1870, nada menos do que doze chafarizes de porte foram instalados em Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, todos eles projetos exclusivos da empresa de Antoine Durenne. Entre esses chafarizes, encontrava-se o mais notável modelo que saiu dos seus altos-fornos, o Chafariz das Nereidas (denominação dada pela historiografia de Pelotas), criado pelo escultor Jules Klagmann.”
Em Rio Grande existiram quatro chafarizes franceses, em ferro fundido que foram adquiridos na década de 1870 e confeccionados na Fundição Durenne. O primeiro chafariz instalado em Rio Grande recua ao ano de 1874. A Praça Sete de Setembro foi a escolhida para a experiência. Neste local havia surgido a primeira cacimba de captação de água ainda no ano de 1737. Tanto que o local era chamado de Praça do Poço. Com a instalação realizada pela Companhia Hidráulica Rio-Grandense a praça volta a ter destaque no fornecimento de água. Infelizmente, foi neste local que desapareceu o único chafariz dos quatro instalados na cidade. Seguindo o caminho dos chafarizes de Porto Alegre este também teria virado sucata? Rara imagem dele está na fotografia aqui reproduzida do ano de 1894.
         O segundo chafariz instalado foi na atual Praça Xavier Ferreira, segundo o autor, no mês de maio de 1874. É o maior da cidade e chamado de Chafariz das Três Graças (altura de 6,12m e 3,74m de largura), constituído por três estátuas femininas – as mitológicas Três Graças: “Aglae, Tália e Eufrosina, filhas de Vênus, deusa da beleza e da graça; formosas, davam-se as mãos como se preparassem para dançar, presidiam às boas ações e dispensavam aos homens, amabilidade, jovialidade e outras qualidades que constituem o encanto da vida”. Conforme José Alves “Durenne não mencionava o nome dos escultores. O chafariz foi apresentado pela primeira vez na Exposição Universal de 1867, ano da morte de Jules Klagman. Carrier-Belleuse, tendo fornecido para as fundições Durenne muitos modelos de estátuas e chafarizes, a base deste chafariz pode ser atribuída à Carrier-Beleuse. A parte mais alta reproduz as Três Graças de Germain Pilon”. Na Praça da Harmonia, em Porto Alegre, existiu um chafariz igual mas que desapareceu sem deixar registros... Nas Três Graças à presença francesa no espaço público da cidade apresenta um vínculo ainda maior com a própria história da França: “As Três Graças, cópia industrial (Fundições A. Durenne) da célebre obra homônima que faz parte do Monumento do Coração de Henrique II (1519-1559) [Rei da França], pertencente ao acervo do Museu do Louvre. A obra foi comissionada em 1561 pela esposa do Rei, a Rainha Catarina de Médicis. As estátuas originais, realizadas entre 1561 e 1566, foram esculpidas em mármore por Germain Pilon (ca. 1525-1590). O pedestal de mármore e a urna (em bronze) originais são do italiano Domenico del Barbiere”.   
         Na Praça da Caridade (atual Praça Barão de São José do Norte), no ano de 1878 foi instalado o chafariz que recentemente voltou a funcionar. A alegoria principal é composta de dois anjinhos alados (puttis ailés) carregando no alto um jarro. “O modelo dos puttis do chafariz fazia parte do conjunto de 12 crianças hidráulicas executadas por Carrier-Beleuse para a fundição Durenne por ocasião da Exposição Internacional de 1862”. Este chafariz dos Anjinhos (altura de 4,78m e largura de 2,62m) é muito semelhante ao existente na Praça Tamandaré e que também foi instalado no ano de 1878. Colocado originalmente nas imediações ou no local do Monumento a Bento Gonçalves da Silva (1909), o chafariz existente foi deslocado para o local atual numa ilha próxima a esquina da rua General Vitorino com 24 de Maio. É constituído pelos anjinhos segurando um jarro ou ânfora (altura de 5,05m e largura de 3,0m).       




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