Conforme José Francisco Alves (Fontes d’Art no Rio Grande do Sul, editora Artfólio), no Rio Grande do Sul, a
presença da indústria francesa em ferro fundido foi muito representativa. A
fundição artística chega as maiores cidades da província, Porto Alegre, Pelotas
e Rio Grande, num contexto do fornecimento de água potável à população. As
peças fazem parte da arte pública, ou seja, eram equipamentos funcionais e
colocaram a arte no espaço público que cotidianamente era percorrido pelos
moradores. Os chafarizes que poderiam ter longa vida fornecendo água potável,
tornaram-se em poucas décadas obsoletos com a distribuição por encanamento
residencial. Com a perda da funcionalidade e a precária manutenção o destino de
muitos chafarizes foi o desaparecimento. “A maioria deles foi ignorada pela
vida das cidades, sem receber a manutenção necessária para a sua atribuição
decorativa – a água jorrando -, embora estivessem localizados em sítios
importantes. Seus destinos, com raras exceções, são lamentáveis.”
Além
da procedência francesa das peças José Alves também revelou uma característica
única, que distingue a coleção rio-grandense das demais: “a procedência dessas
obras de arte. Enquanto nas demais localidades da América Latina a origem
onipresente de tal acervo é procedente das Fundições Val D’osne, no Rio Grande
do Sul, porém, isto não ocorreu. Aqui reinaram soberanas as Fundições Durenne.
Em menos de 10 anos, entre as décadas de 1860-1870, nada menos do que doze
chafarizes de porte foram instalados em Porto Alegre , Pelotas e Rio Grande, todos eles
projetos exclusivos da empresa de Antoine Durenne. Entre esses chafarizes,
encontrava-se o mais notável modelo que saiu dos seus altos-fornos, o Chafariz
das Nereidas (denominação dada pela historiografia de Pelotas), criado pelo
escultor Jules Klagmann.”
O
segundo chafariz instalado foi na atual Praça Xavier Ferreira, segundo o autor,
no mês de maio de 1874. É o maior da cidade e chamado de Chafariz das Três
Graças (altura de 6,12m e 3,74m de largura), constituído por três estátuas
femininas – as mitológicas Três Graças: “Aglae, Tália e Eufrosina, filhas de
Vênus, deusa da beleza e da graça; formosas, davam-se as mãos como se
preparassem para dançar, presidiam às boas ações e dispensavam aos homens,
amabilidade, jovialidade e outras qualidades que constituem o encanto da vida”.
Conforme José Alves “Durenne não mencionava o nome dos escultores. O chafariz
foi apresentado pela primeira vez na Exposição Universal de 1867, ano da morte
de Jules Klagman. Carrier-Belleuse, tendo fornecido para as fundições Durenne
muitos modelos de estátuas e chafarizes, a base deste chafariz pode ser
atribuída à Carrier-Beleuse. A parte mais alta reproduz as Três Graças de
Germain Pilon”. Na Praça da Harmonia, em Porto Alegre , existiu
um chafariz igual mas que desapareceu sem deixar registros... Nas Três Graças à
presença francesa no espaço público da cidade apresenta um vínculo ainda maior
com a própria história da França: “As Três Graças, cópia industrial (Fundições
A. Durenne) da célebre obra homônima que faz parte do Monumento do Coração de
Henrique II (1519-1559) [Rei da França], pertencente ao acervo do Museu do
Louvre. A obra foi comissionada em 1561 pela esposa do Rei, a Rainha Catarina
de Médicis. As estátuas originais, realizadas entre 1561 e 1566, foram
esculpidas em mármore por Germain Pilon (ca. 1525-1590). O pedestal de mármore
e a urna (em bronze) originais são do italiano Domenico del Barbiere”.
Na
Praça da Caridade (atual Praça Barão de São José do Norte), no ano de 1878 foi
instalado o chafariz que recentemente voltou a funcionar. A alegoria principal
é composta de dois anjinhos alados (puttis
ailés) carregando no alto um jarro. “O modelo dos puttis do chafariz fazia parte do conjunto de 12 crianças
hidráulicas executadas por Carrier-Beleuse para a fundição Durenne por ocasião
da Exposição Internacional de 1862” .
Este chafariz dos Anjinhos (altura de 4,78m e largura de 2,62m) é muito
semelhante ao existente na Praça Tamandaré e que também foi instalado no ano de
1878. Colocado originalmente nas imediações ou no local do Monumento a Bento
Gonçalves da Silva (1909), o chafariz existente foi deslocado para o local
atual numa ilha próxima a esquina da rua General Vitorino com 24 de Maio. É
constituído pelos anjinhos segurando um jarro ou ânfora (altura de 5,05m e
largura de 3,0m).
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