Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 5 de agosto de 2017

CALÇAMENTO DAS RUAS

Uma parte da história da cidade do Rio Grande está escrita nas ruas, mais especificamente, no calçamento das ruas. Um dos maiores desafios enfrentados para a constituição de um centro urbano na cidade foi o controle do deslocamento da areia e as inundações, especialmente no inverno. Os aterros e o calçamento tornaram-se vitais para a circulação da população e a manutenção das atividades comerciais deste importante centro de comércio da província do Rio Grande de São Pedro. A ausência de matéria-prima e os poucos recursos financeiros dificultaram a realização de obras essenciais para uma vida urbana. A história dos calçamentos e aterros reflete essencialmente a natureza da experiência civilizatória na cidade do Rio Grande, onde o homem lutou constantemente contra a ação da natureza. 
Desde os primórdios da ocupação militar e civil, a luta contra o vento, as chuvas, o deslocamento da areia, a falta de material de construção estão presentes nos relatos oficiais ou de viajantes. As ruas do centro urbano nascente estavam a descoberto de calçamento como relatou Saint-Hilaire em 1820, situação que seria mantida até a década de 1850.

URBANIZAÇÃO E CALÇAMENTO
Os esforços para promover aterramentos e calçamento de ruas esteve presente nos relatórios da Câmara municipal, onde é possível acompanhar o lento desenrolar das iniciativas e da captação de recursos públicos e privados para as obras. O relatório de 1851 ressaltou que muitas “são as ruas e praças desta cidade que precisam de aterro em razão de se tornar intransitáveis na estação invernosa. Para esta despesa e para as eventuais, orçadas em 2:000$000 pede a Câmara a competente autorização. Outras ruas da cidade precisão ser abertas. A bela rua do Rosário, por exemplo, acaba na rua do Pito, havendo, aliás, toda a facilidade em abri-la até a rua Direita; porque contanto a Câmara, com a cooperação dos moradores dela, pequena será a despesa municipal, para a desapropriação de dois prédios insignificantes que embargam o seguimento da mesma rua. A rua do Carmo, também reclama a mesma providência, e por certo não depende isso de muito maior despesa. É fundada nestas razões que a Câmara incluiu no seu orçamento 3:000$000 para socorrer a estas necessidades”.
No relatório de 1853 a Câmara continuou a pedir autorização para desapropriações de prédios para abertura de ruas. Novamente insistiu que no inverno as ruas tornam-se intransitáveis, pedindo 3 contos de réis para enfrentar parcialmente o problema com aterros. “Na estação invernosa a parte mais freqüentada e importante da cidade, isto é, a praça municipal, desde a casa ocupada pelo comando da guarnição, propriedade hoje do cidadão Porfírio Ferreira Nunes, até o edifício da Alfândega e daí ao primeiro alagado, torna-se por alguns dias, quase intransitável, a pé enxuto, em conseqüência dos pântanos e lagoas que se forma nessa distância; a Câmara querendo curar deste mal, tem em vista mandar fazer um lajedo dessa distância e direção, com o qual, calçados os pontos por onde passam as carroças e carros, ficará a principal rua da cidade com um melhoramento digno dela. Como, porém sinta a falta de autorização para despender com isso a quantia calculada de 1:600$000, vem pedi-la ao corpo legislativo compreendendo-a no seu orçamento.”
Apenas com o orçamento municipal buscou-se reduzir os problemas com aterramentos, porém “a experiência tem, contudo mostrado que os aterros das ruas não é o meio econômico de melhorá-las. O calçamento delas é tudo, e para esse fim a Câmara pede uma consignação de 3:000$00 réis e a autorização de engajar um hábil engenheiro por conta desta verba para fazer o nivelamento preciso”. (Relatório 24 de setembro de 1855).
Em 1856, a falta de material exigia a utilização do existente em outras construções como é o caso do aproveitamento das pedras da cadeia velha para “fazer caminhos nos lugares que eram mais precisos para assim facilitar o trânsito público”. O presidente da Província nomeou uma comissão para organizar o nivelamento das ruas, passo que seria indispensável para iniciar o calçamento, sendo solicitado 6 contos de réis a Assembléia. As atividades de calçamento tiveram início entre 1857 e 1858, pois o relatório de setembro de 1858 afirma que “deu-se já princípio ao calçamento que tem de continuar como convém, para o que a câmara pede aumento na respectiva verba”. Em 1859 para continuidade do calçamento pediu-se 6 contos de réis. O resultado deste esforço inicial redundou até 1860 no calçamento parcial das ruas Francisco Marques, Zallony, d’Afândega, do Poço e do Rosário. “Está se dando princípio ao calçamento da travessa do antigo Arsenal de Marinha. A Câmara tem dado preferência daquelas ruas que mais necessitam de tão importante melhoramento”  9 de outubro de 1860.
Em 1861, o relatório reconhece-se que as obras não marcham com “o progresso que a utilidade pública na realidade reclama, porque os poucos fundos de que a municipalidade pode dispor não permitem que ela dê mais de um passo em cada ano até que uma subvenção dos cofres provinciais possa vir auxiliá-la. Por isso pede-se no orçamento autorização para despender a quantia de 4:500$000 réis”.
O esforço da Câmara para aplicar recursos públicos nestas obras foi reconhecido no relatório de 1862. “Em virtude das ordens repetidamente expedidas, das providências tomadas, nota-se já nas ruas mais limpeza. A rua da Boa Vista, por exemplo, onde se via efetivamente embaraçado o trânsito público com depósito de madeiras, embarque e desembarque de cavalos etc, já se acha em mais livre e satisfatórias condições. Não sendo possível cuidar-se do calçamento de todas as ruas (...) e com a prontidão que convinha pela falta de fundos para melhoramentos tão despendidos é fora de dúvida que nas circunstâncias desta municipalidade, não se tem feito pouco em um ano apenas de exercício. As ruas do extinto Arsenal e do Carmo, desde a da Praça e da Boa Vista, pode-se dizer que estão calçadas; em diversas outras em algumas das quais as água pluviais impediam o trânsito, tem feito largos cordões de pedra e aterros conforme se tem podido com as preferências reguladas pelas mais ou menos urgentes necessidades. Ainda que em uma direção provisória, com a ajuda de alguns interessados, abriu-se a rua do Castro, desde a do Fogo até encontrar, na rua Direita, um beco que da saída para a Praia e praça Municipal. Diversas desapropriações de terrenos acham pendentes para outros melhoramentos idênticos, os quais não é possível levá-los todos a efeito, com a mesma rapidez, razão da falta de meios para as indenizações, eles se irão realizado com a brevidade que for compatível com as circunstâncias e desejos que anima a Câmara. Era sensível a falta de pessoa habilitada para dar o alinhamento da planta adotada, aos prédios que iam edificando; este inconveniente, porém está removido desde que a Câmara, competentemente autorizada, encarregou ao capitão Nabor Delfim Correia não só esse serviço como os mais de engenharia e agrimensura de que ela necessite”. 7 de janeiro de 1862.
Portanto, as primeiras obras de calçamento das ruas da cidade do Rio Grande foram realizadas entre 1857 e 1862. 

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