Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

domingo, 6 de agosto de 2017

PATRIMÔNIO E CARTÕES-POSTAIS NA BELLE ÉPOQUE

Estou divulgando aos leitores o oitavo livro de uma série que tenho dedicado à história da cidade do Rio Grande. O projeto teve início em 2008 e novos volumes já estão sendo elaborados.
O livro que está sendo lançado é “Rio Grande: Patrimônio e Cartões-postais na Belle Époque” o qual contempla a perspectiva de enfatizar a imagem enquanto fonte para o conhecimento do passado.
As imagens escolhidas foram os cartões-postais, os quais são responsáveis pela popularização de visões multifacetadas das mais diferentes localidades do planeta. O colecionismo de cartões-postais associado ao seu período áureo (1900-1930) legaram centenas de milhares de imagens do que hoje chamamos de ‘passado das civilizações humanas’. Em Rio Grande os postais apresentam uma grande riqueza e potencialidade para a compreensão da urbanidade local e possibilitam, através das imagens e outros documentos, construir a narrativa histórica destes lugares. Os cartões-postais editados em Rio Grande estão entre os mais antigos do Brasil.
Foram reproduzidos 28 cartões-postais que retratam espaços públicos que ainda são uma referência na urbanidade da cidade do Rio Grande: o prédio da Prefeitura Municipal; o Mercado Público; o Quartel General e o Prédio da Alfândega. São construções do século XIX que ainda persistem no cenário urbano da mais antiga cidade luso-brasileira do Rio Grande do Sul.
         Os cartões-postais reproduzidos no livro foram editados entre o final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX, no período chamado de belle époque, uma referência às inovações tecnológicas, a indústria do divertimento (como o cinema), que surgiram ou se intensificaram no período de 1871 até 1914. O início da I Guerra Mundial assinala o início do fim deste período na Europa. A belle époque foi caracterizada pelo desenvolvimento científico e artístico, um período de paz e prosperidade burguesa que o grande conflito mundial colocou em crise. Tendo Paris como capital cultural deste processo, as cidades de formação ou influência ocidental buscaram reproduzir estes novos referenciais culturais de tecnologia e consumo, expressando a modernidade numa sala de cinema, na aquisição de automóvel ou telefone, nas roupas, na valorização dos prédios públicos ou particulares.
A Exposição Universal de Paris de 1900 buscou sintetizar as múltiplas possibilidades tecnológicas desta crença no ilimitado progresso técnico-científico.  Nestes “belos tempos” o desenvolvimento do capitalismo gerou nas elites brasileiras a disposição em se colocarem em sintonia com as forças da civilização e do progresso das nações da Europa Ocidental: a palavra-chave de um mundo agrário e ruralizado passa a ser ‘modernidade urbana’. Para além de uma imagem idealizada, a belle époque se expressou em Rio Grande num contexto de inúmeros problemas sociais, urbanos, administrativos e de má distribuição da riqueza gerada pelo comércio de exportação-importação e especialmente pela industrialização. O principal tema tratado por estes cartões que retratam Rio Grande a cerca de cem anos atrás foram os cenários que ostentam os avanços para uma vida urbana moderna.
         Que este livro possa instigar nos leitores o interesse pelo olhar atento as imagens e aos recortes arquitetônicos da paisagem urbana que faz parte do dia-a-dia (matéria publicada em 30-07-2013).


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