Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

domingo, 6 de agosto de 2017

BARONE E A FEB

No início de 1942 o governo dos Estados Unidos já havia convencido Getúlio Vargas a ceder a Ilha de Fernando de Noronha e a costa do nordeste para a construção de bases militares no esforço de guerra na luta contra o Eixo. Após o afundamento de navios mercantes por submarinos alemães, em agosto de 1942, o Brasil entrou oficialmente na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados.
         O Brasil prepara-se para a guerra organizando com cerca de 100 mil homens a defesa do seu extenso litoral contra uma possível invasão. Também é organizada a Força Expedicionária Brasileira (FEB) composta por mais de 25.000 militares com o objetivo de participação direta no cenário da guerra. Este contingente foi enviado para a Itália a partir de julho de 1944 entrando em combate em setembro deste ano. O objetivo era a retomada de posições militares e de cidades italianas que estavam ocupadas pelo Exército Alemão. A FEB foi integrada ao IV corpo do Exército Americano, recebendo treinamento e material bélico norte-americano. Somente em combate, morreram quase 500 brasileiros. Os brasileiros aprisionaram mais de 20.000 militares alemães. Os combatentes voltaram ao Brasil a partir de julho de 1945, sendo a FEB dissolvida e sua história foi caindo no esquecimento da população não militar (apesar da criação de associações de veteranos desde 1945 – sugiro uma visita ao site http://www.portalfeb.com.br/). Porém, este capítulo da história brasileira continua a despertar o interesse de escritores. É o caso do músico João Barone (baterista dos Paralamas do Sucesso) que vem desenvolvendo um interessante trabalho de divulgação destes eventos dramáticos ligados a Segunda Guerra Mundial. Seu último livro, lançado recentemente, 1942 — O Brasil e Sua Guerra Quase Desconhecida (Editora Nova Fronteira), retoma este tema. Barone é filho de João de Lavor Reis e Silva, um dos 25.000 febianos que foram lutar na Itália. Neste sentido, sua curiosidade vem desde a infância e o seu olhar está afetivamente ligado a esta experiência vivida pelos brasileiros que foram para a Itália e também para os que viviam no Brasil naquele período. E a participação da FEB está contextualizada no maior conflito militar da história da humanidade que refletiu no Brasil com racionamentos, blackout, perseguições a imigrantes alemães, italianos e japoneses, cenários já contados ou ainda por contar das histórias cotidianas que marcaram aquele período. Inúmeras experiências ocorridas permitem afirmar que a Segunda Guerra Mundial é um dos períodos mais importantes para entender o século XX, inclusive no Brasil. No caso de Rio Grande, o impacto do conflito levou às perseguições a comunidades alemãs aqui radicadas desde o século a primeira metade do século XIX rompendo um relacionamento que já se mantinha há um século.
         Barone, cujo livro está voltado à participação da FEB e suas ramificações no imaginário do período, consegue evidenciar as amplas dificuldades em organizar o grupo de combatentes que participou vitoriosamente da maior parte das ações. Um exercício de superação e criatividade, de luta por princípios democráticos num país que ainda buscava construir uma identidade nacional. No período atual de falta de identidade e de reprodução de relações patrimonialistas fundadas na acumulação pecuniária, é uma ótima leitura que vislumbra outros horizontes para a construção do “ser brasileiro”.  


Nenhum comentário:

Postar um comentário