No
início de 1942 o governo dos Estados Unidos já havia convencido Getúlio Vargas
a ceder a Ilha de Fernando de Noronha e a costa do nordeste para a construção
de bases militares no esforço de guerra na luta contra o Eixo. Após o
afundamento de navios mercantes por submarinos alemães, em agosto de 1942, o
Brasil entrou oficialmente na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados.
O Brasil prepara-se para a guerra
organizando com cerca de 100 mil homens a defesa do seu extenso litoral contra
uma possível invasão. Também é organizada a Força Expedicionária Brasileira
(FEB) composta por mais de 25.000 militares com o objetivo de participação
direta no cenário da guerra. Este contingente foi enviado para a Itália a
partir de julho de 1944 entrando em combate em setembro deste ano. O objetivo
era a retomada de posições militares e de cidades italianas que estavam
ocupadas pelo Exército Alemão. A FEB foi integrada ao IV corpo do Exército
Americano, recebendo treinamento e material bélico norte-americano. Somente em
combate, morreram quase 500 brasileiros. Os brasileiros aprisionaram mais de
20.000 militares alemães. Os combatentes voltaram ao Brasil a partir de julho
de 1945, sendo a FEB dissolvida e sua história foi caindo no esquecimento da
população não militar (apesar da criação de associações de veteranos desde 1945
– sugiro uma visita ao site http://www.portalfeb.com.br/). Porém, este capítulo
da história brasileira continua a despertar o interesse de escritores. É o caso
do músico João Barone (baterista dos Paralamas do Sucesso) que vem
desenvolvendo um interessante trabalho de divulgação destes eventos dramáticos
ligados a Segunda Guerra Mundial. Seu último livro, lançado recentemente, 1942
— O Brasil e Sua Guerra Quase Desconhecida (Editora Nova
Fronteira), retoma este tema. Barone é filho de João de Lavor Reis e Silva, um
dos 25.000 febianos que foram lutar na Itália. Neste sentido, sua curiosidade
vem desde a infância e o seu olhar está afetivamente ligado a esta experiência
vivida pelos brasileiros que foram para a Itália e também para os que viviam no
Brasil naquele período. E a participação da FEB está contextualizada no maior
conflito militar da história da humanidade que refletiu no Brasil com
racionamentos, blackout, perseguições a imigrantes alemães, italianos e
japoneses, cenários já contados ou ainda por contar das histórias cotidianas
que marcaram aquele período. Inúmeras experiências ocorridas permitem afirmar
que a Segunda Guerra Mundial é um dos períodos mais importantes para entender o
século XX, inclusive no Brasil. No caso de Rio Grande, o impacto do conflito
levou às perseguições a comunidades alemãs aqui radicadas desde o século a
primeira metade do século XIX rompendo um relacionamento que já se mantinha há
um século.
Barone, cujo livro está voltado à
participação da FEB e suas ramificações no imaginário do período, consegue
evidenciar as amplas dificuldades em organizar o grupo de combatentes que
participou vitoriosamente da maior parte das ações. Um exercício de superação e
criatividade, de luta por princípios democráticos num país que ainda buscava
construir uma identidade nacional. No período atual de falta de identidade e de
reprodução de relações patrimonialistas fundadas na acumulação pecuniária, é
uma ótima leitura que vislumbra outros horizontes para a construção do “ser
brasileiro”.
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