Os primeiros sete anos da implantação do Polo
Naval em Rio Grande
(iniciado com a construção da P-53 em 2006) já possibilitam realizar algumas
análises sobre o efeito deste megaprojeto no cotidiano da cidade.
Enfoques
ligados à urbanidade, saúde, segurança e inúmeros outros olhares sobre a cidade
antes e depois de 2006, permitem análises científicas sobre este processo. O
tema ligado à especulação imobiliária foi desenvolvido por professores e
acadêmicos do Curso de Economia da FURG (Rogério Piva da Silva, Rodrigo da Rocha Gonçalves, Ana Beatriz Kaffka
Carvalho e Camilla de Oliveira) no artigo “O Impacto do Polo Naval no Setor
Imobiliário da cidade do Rio Grande-RS” (http://www.fee.tche.br). Dada a importância deste assunto, sintetizo
e reproduzo a seguir, algumas interpretações que fiz do referido artigo.
O IMPACTO NO SETOR
IMOBILIÁRIO
Localizada no extremo sul do estado do Rio
Grande do Sul a cidade do Rio Grande, a mais antiga do estado, conta com uma
economia diversificada possuindo um Distrito Industrial composto por empresas
que atuam no setor agrícola, alimentício, madeireiro, de energia, químico e
metalúrgico. O parque eólico está em construção e com possibilidade de
instalações na área de gás natural liquefeito.
Apesar da grande diversidade de indústrias
instaladas na cidade são os investimentos em seu Polo Naval , que
tem ocasionado na região grandes mudanças em seu dinamismo e economia. Segundo
dados da Petrobrás, a companhia deve investir até 2017 cerca de U$ 13 bilhões e
até 2024, Rio Grande, através do seu pólo naval, deve gerar 26 bilhões de
dólares em bens e serviços e criar mais de 600 mil empregos diretos e indiretos
no estado do Rio Grande do Sul. A ascensão do Polo gera a necessidade de
investimento de diversas áreas em
Rio Grande , que carece de melhorias nas áreas de
pavimentação, saneamento básico e habitação.
Os investimentos de mais de 10 bilhões de reais
no Polo Naval do Porto do Rio Grande, geraram uma oferta superior a 30.000
empregos diretos e indiretos. Entretanto, a baixa qualificação da mão-de-obra
rio-grandina ocasionou a migração de diversos trabalhadores para a cidade a fim
de preencher os cargos disponíveis, o que resultou em um aumento da demanda por
residências na região. A baixa oferta de imóveis causou um impacto nos preços,
tanto para locação como para venda.
A cidade possui fatores geográficos e
históricos, que dificultam a sua verticalização, há escassez na oferta de
imóveis frente à crescente demanda causada pela chegada de novos trabalhadores
vindos das mais diversas regiões do país a procura de emprego. O Plano Diretor
e a concentração de imóveis em posse de especuladores também dificultam a
construção de novos imóveis tanto quanto o déficit no perímetro central. A
cidade, que concentra seu comércio e seus serviços na área central encontra
dificuldades em atrair os investidores a construírem em outros bairros.
O crescimento da atividade portuária em Rio Grande não foi um
processo contínuo, na fase atual opera com investimentos bilionários que
proporcionam à cidade grande visibilidade, proporcionando um aumento em índices
como o PIB e o PIB per capita. Traz ainda um grande fluxo de mão-de-obra de
outras regiões do país devido à falta de profissionais especializados na
região. A crescente demanda por mão-de-obra traz até a cidade novos moradores e
essa situação entra em conflito com a escassez de imóveis disponíveis e
deficiências na infra-estrutura da cidade.
Da mesma forma que investimentos de bilhões
de reais na implantação de um Polo Naval no município do Rio Grande, associados
à baixa qualificação da mão-de-obra local, que atraem trabalhadores de diversas
regiões do Brasil aumentando consideravelmente a demanda por imóveis em
contraste com uma baixa oferta imobiliária, são fatores relevantes para
explicar o aumento nos preços dos imóveis na cidade. Atualmente, o município do
Rio Grande possui uma população de aproximadamente 205 mil habitantes e um PIB
anual de mais de 6 bilhões de reais.
O preço dos imóveis na cidade do Rio Grande,
no período compreendido entre os anos de 2000 e 2012, aumentou em mais de 500%.
Quando se analisa separadamente, os incrementos de preço nos seis anos anteriores
ao Polo Naval (2000 – 2006) e os seis anos a partir da implantação do Polo
(2006 – 2012) tem-se a dimensão do impacto no preço dos imóveis causado pelos
investimentos neste setor do Polo e dos demais setores atraídos por este. De 2000 a 2006 os preços
subiram em média 70%, enquanto que no período de 2006 a 2012 elevaram-se em
mais de 330%.
Os maiores aumentos no preço dos imóveis ocorreram
no Centro (valorização de 481%) e nos bairros Cidade Nova em direção a av.
Portugal. A proximidade do centro onde ocorre a prestação de serviços levou a
maior busca nestas áreas. Forte valorização também ocorreu em bairros populares
como Santa Teresa, Getúlio Vargas, Trevo e Parque Marinha, devido à
aproximação/deslocamento para o Polo. Também a maior facilidade de crédito para
aquisição de imóveis representada pelo Programa Minha Casa Minha Vida do
Governo Federal, foi relevante nesse contexto. O Produto Interno Bruto do
município passa de R$ 1.850.177,00 em 2000 para R$ 6.280.858,00 em 2010, e a
população residente cresce menos que proporcionalmente de 2000 a 2010, sendo assim, a
renda per capita aumenta consideravelmente.
A partir de 2006, coincidindo com o início
dos investimentos no Polo Naval, os preços dispararam, crescendo de forma muito
mais acentuada do que o IGP-M do período, devido ao grande fluxo de pessoas,
que visavam preencher um dos postos de trabalho criados pela implantação do Polo
Naval, dos diretores das empresas que vem instalar-se em Rio Grande para
aproveitar o bom momento econômico e a baixa oferta de imóveis à venda na
cidade.
Em linhas gerais, o aumento no nível de
investimento, ocasionado pelo inicio das atividades do complexo naval, gerou um
aumento do Produto Interno do município, e conseqüentemente, uma elevação na
renda per capita. Considerando o mercado imobiliário extremamente dependente do
cenário econômico local, percebe-se um aumento considerável no preço dos
imóveis a venda na cidade do Rio Grande (matéria publicada em 09-07-2013).
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