Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 5 de agosto de 2017

BENTO GONÇALVES DA SILVA EM RIO GRANDE

Bento Gonçalves da Silva era filho do alféres português Joaquim Gonçalves da Silva e de Perpétua da Costa Meirelles, filha de Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcellos, nasceu na Fazenda da Piedade, em Triunfo, pertencente à família de sua mãe. Nascido a 23 de setembro de 1788, os país haviam planejado o futuro do filho ligado à igreja, definindo a ele uma suposta vocação para membro do Clero. A trajetória de Bento Gonçalves da Silva fugiu ao destino de pregar a palavra de Deus na condição de padre, assumindo a liderança de um movimento que convulsionou a Província durante uma década. Antes da Revolução Farroupilha, Bento transitou como militar e estancieiro na fronteira entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, casando-se com a uruguaia Caetana Garcia em 1814, estabelecendo-se na Banda Oriental e dedicando a atividade de estancieiro. Participou das Campanhas da Cisplatina entre 1811 e 1821. A partir de 1825 incrementou a participação militar nas guerras entre Uruguai, Argentina e Brasil, tornando-se em 1829 coronel de Estado Maior e assumindo o comando da fronteira e dos Guardas Nacionais no comandando o 4° Regimento de Cavalaria de Linha. Em 1834 foi acusado de conspirar contra o Império sendo absolvido no Rio de Janeiro mas perdendo o comando militar. Foi eleito Deputado provincial em 1835. Em 20 de abril de 1835, na sessão de instalação da Assembléia Provincial, é acusado pelo presidente da província, Antonio Rodrigues Fernandes Braga, de articular a separação do Rio Grande do Sul do restante do Império.
 Despontou, pelo espírito de liderança e experiência na política provincial e platina, como o líder do movimento liberal-republicano farroupilha e um dos maiores inimigos do Império. Foi preso em combate e posteriormente escapou da prisão na Bahia, assumindo o cargo de presidente da República Rio-grandense. Foi um dos generais farroupilhas afastando-se em 1844 do cenário revolucionário. O rico estancieiro no início do conflito ficou empobrecido pela guerra civil, falecendo de pleurisia (inflação na pleura, um tecido que recobre a superfície dos pulmões que pode ter sido causado por pneumonia) em 1847, deixando a viúva Caetana Garcia e oito filhos.

NO PORTO DO RIO GRANDE   
Raros registros que assinalam a popularidade que Bento Gonçalves da Silva tinha na então Vila do Rio Grande de São Pedro, ficou perpetuado no jornal O Noticiador que acompanhou a passagem do Coronel pela localidade buscando no Porto do Rio Grande a embarcação que o levaria até o Rio de Janeiro. Um pouco menos de dois anos após esta passagem por Rio Grande eclodiria a Revolução Farroupilha e o papel de Bento Gonçalves será fundamental nos rumos do movimento: “Temos o prazer de anunciar aos nossos compatriotas rio-grandenses, que, no dia 28 do passado, chegou a esta vila o sr. Coronel Bento Gonçalves da Silva, o qual, segundo é fama, segue para a Corte, aonde foi chamado, para ser encarregado de uma comissão importante nesta Província. O sr. Bento Gonçalves da Silva deixando o Comando da Fronteira de Jaguarão, deixou igualmente penhorado e saudoso, todos habitantes daquele Departamento; porque como Militar, soube manter condignidade e respeito à paz e tranqüilidade de um ponto da maior importância da Província, desarranjando com sagacidade, e política, todas as tentativas que se fizeram para lhe introduzir a semente da anarquia, e invadi-la de surpresa, e  como Cidadão soube captar a atenção, benevolência, e estima geral, que nele, e somente nele, havia depositado a sua segura confiança, para a sua defesa, a pontos, que mereceu os sufrágios dos seus Concidadãos, para Eleitor daquela Vila. Parte o Sr. Bento Gonçalves para o Rio de Janeiro; e apenas chegar desfará completamente a vil intriga de ‘ligas orientaes e sonhadas republicas’, que seus invejosos e gratuitos inimigos, unidos aos caramurus-restauradores fizeram espalhar para chegar à presença do Governo, visto que o Sr. Coronel era o maior obstáculo aos seus nefandos projetos. (...) Nós, unidos aos Patriotas Rio-grandenses, fazemos votos pela boa viagem e pronto egresso de S.S., a fim de que venha continuar prestando serviços no seu país natal e vencer a esperança que nele tem posto os seus briosos Concidadãos e Companheiros D’Armas e os seus saudosos e verdadeiros amigos”. O Noticiador, 4 de janeiro de 1834.
A sua passagem pela Vila do Rio Grande foi rápida ficando registrada num documento: “O abaixo assinado tendo embarcado com mais brevidade do que supunha, para o Rio de Janeiro, não teve tempo de despedir-se dos seus amigos e de cumprimentar aos Cidadãos desta Vila que o visitarão; por isso aproveitando esta ocasião para cumprir este dever e agradecendo cordialmente a todos o afável acolhimento e oficiosa amizade de que hão dado convincente provas faz votos pelo aumento e prosperidade de uma Província onde nasceu, e pela paz e bem ser dos seus respeitáveis habitantes. Vila do Rio Grande, 1 de janeiro de 1834 – Bento Gonçalves da Silva.” O Noticiador, 8 de janeiro de 1834.
Ao retornar do Rio de Janeiro tendo provado sua inocência nas acusações de ser traidor, a chegada de Bento Gonçalves foi festejada: “No dia 4 do corrente chegou a esta Vila o Sr. Coronel Bento Gonçalves da Silva; que foi recebido nos braços da amizade e visitado de grande número de cidadãos, que conhecem e apreciam as suas qualidades: nessa noite foi obsequiado por uma bem concertada Orquestra particular, dirigida por alguns jovens Patriotas e acompanhada de outras muitas pessoas, que quiseram voluntariamente tomar parte neste plausível festejo”. O Noticiador, 5 de março de 1834.
         A sua passagem continuou a provocar impacto, pois dias após ainda era feito referência a sua atuação militar e política. O comandante militar apresentava uma imagem de liderança em meio a um clima agressivo de reivindicações políticas liberais radicais: “Chegou finalmente o sr. Coronel Bento Gonçalves da Silva, terror dos caramurus-restauradores. Que alegria não deve causar aos amigos do Trono de Abril a presença deste intrépido militar, que tem sido caluniado pelos retrógrados, somente por se afeto a nova ordem de coisas. Na verdade, quanto a sua ausência consternava aos amigos da ordem e dava novo gás e força ao partido restaurador, que pretende destruir a grande obra começada no sempre gloriosos 7 de abril!!! O Sr. Bento Gonçalves é a única barreira que os faz conter: querer apartá-lo desta Província é dar asas a que os restauradores tramem a favor do detestável duque de Bragança, que cessou de reinar para sempre no Brasil, por haver tramado a destruição de seus filhos. Caluniadores infames e detestáveis, mordeivos de raiva e na desesperação que vos atormenta, cuidai somente de vos remeterdes ao silêncio; envergonhai-vos se de vergonha sois suscetíveis, pelas falsidades que o levantastes contra este bravo Militar, que até o presente não tem se não almejado o bem-estar da nossa pátria; quando vós, pelo contrário ó infames, vos tendes infamado, usando de mil baixezas, atraiçoando a amizade e enculcando-vos os únicos sustentáculos da Província!!!”. O Noticiador, 8 de março de 1834.
         A temperatura política continuaria a subir até o 20 de setembro de 1835 quando tem início a Revolução Farroupilha.


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