Bento Gonçalves da Silva era filho do alféres português Joaquim Gonçalves
da Silva e de Perpétua da Costa Meirelles, filha de Jerônimo de Ornellas
Menezes e Vasconcellos, nasceu na Fazenda da Piedade, em Triunfo, pertencente à
família de sua mãe. Nascido a 23
de setembro de 1788, os país haviam planejado o futuro do filho ligado à
igreja, definindo a ele uma suposta vocação para membro do Clero. A trajetória
de Bento Gonçalves da Silva fugiu ao destino de pregar a palavra de Deus na
condição de padre, assumindo a liderança de um movimento que convulsionou a
Província durante uma década. Antes da Revolução Farroupilha, Bento transitou
como militar e estancieiro na fronteira entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul,
casando-se com a uruguaia Caetana Garcia em 1814, estabelecendo-se na Banda
Oriental e dedicando a atividade de estancieiro. Participou das Campanhas da
Cisplatina entre 1811 e 1821.
A partir de 1825 incrementou a participação militar nas
guerras entre Uruguai, Argentina e Brasil, tornando-se em 1829 coronel de
Estado Maior e assumindo o comando da fronteira e dos Guardas Nacionais no comandando o 4°
Regimento de Cavalaria de Linha. Em 1834 foi acusado de conspirar contra o
Império sendo absolvido no Rio de Janeiro mas perdendo o comando militar. Foi
eleito Deputado provincial em 1835. Em 20 de abril de 1835, na sessão de
instalação da Assembléia Provincial, é acusado pelo presidente da província,
Antonio Rodrigues Fernandes Braga, de articular a separação do Rio Grande do
Sul do restante do Império.
Despontou, pelo espírito de liderança e
experiência na política provincial e platina, como o líder do movimento
liberal-republicano farroupilha e um dos maiores inimigos do Império. Foi preso
em combate e posteriormente escapou da prisão na Bahia, assumindo o cargo de
presidente da República Rio-grandense. Foi um dos generais farroupilhas
afastando-se em 1844 do cenário revolucionário. O rico estancieiro no início do
conflito ficou empobrecido pela guerra civil, falecendo de pleurisia (inflação
na pleura, um tecido que recobre a superfície dos pulmões que pode ter sido
causado por pneumonia) em 1847, deixando a viúva Caetana Garcia e oito filhos.
NO PORTO DO RIO GRANDE
Raros registros que assinalam a popularidade que
Bento Gonçalves da Silva tinha na então Vila do Rio Grande de São Pedro, ficou
perpetuado no jornal O Noticiador que
acompanhou a passagem do Coronel pela localidade buscando no Porto do Rio
Grande a embarcação que o levaria até o Rio de Janeiro. Um pouco menos de dois
anos após esta passagem por Rio Grande eclodiria a Revolução Farroupilha e o
papel de Bento Gonçalves será fundamental nos rumos do movimento: “Temos o
prazer de anunciar aos nossos compatriotas rio-grandenses, que, no dia 28 do
passado, chegou a esta vila o sr. Coronel Bento Gonçalves da Silva, o qual,
segundo é fama, segue para a Corte, aonde foi chamado, para ser encarregado de
uma comissão importante nesta Província. O sr. Bento Gonçalves da Silva
deixando o Comando da Fronteira de Jaguarão, deixou igualmente penhorado e
saudoso, todos habitantes daquele Departamento; porque como Militar, soube
manter condignidade e respeito à paz e tranqüilidade de um ponto da maior
importância da Província, desarranjando com sagacidade, e política, todas as
tentativas que se fizeram para lhe introduzir a semente da anarquia, e
invadi-la de surpresa, e como Cidadão
soube captar a atenção, benevolência, e estima geral, que nele, e somente nele,
havia depositado a sua segura confiança, para a sua defesa, a pontos, que
mereceu os sufrágios dos seus Concidadãos, para Eleitor daquela Vila. Parte o
Sr. Bento Gonçalves para o Rio de Janeiro; e apenas chegar desfará
completamente a vil intriga de ‘ligas orientaes e sonhadas republicas’, que
seus invejosos e gratuitos inimigos, unidos aos caramurus-restauradores fizeram
espalhar para chegar à presença do Governo, visto que o Sr. Coronel era o maior
obstáculo aos seus nefandos projetos. (...) Nós, unidos aos Patriotas
Rio-grandenses, fazemos votos pela boa viagem e pronto egresso de S.S., a fim
de que venha continuar prestando serviços no seu país natal e vencer a
esperança que nele tem posto os seus briosos Concidadãos e Companheiros D’Armas
e os seus saudosos e verdadeiros amigos”. O
Noticiador, 4 de janeiro de 1834.
A sua passagem pela Vila do Rio Grande foi
rápida ficando registrada num documento: “O abaixo assinado tendo embarcado com
mais brevidade do que supunha, para o Rio de Janeiro, não teve tempo de
despedir-se dos seus amigos e de cumprimentar aos Cidadãos desta Vila que o
visitarão; por isso aproveitando esta ocasião para cumprir este dever e
agradecendo cordialmente a todos o afável acolhimento e oficiosa amizade de que
hão dado convincente provas faz votos pelo aumento e prosperidade de uma
Província onde nasceu, e pela paz e bem ser dos seus respeitáveis habitantes.
Vila do Rio Grande, 1 de janeiro de 1834 – Bento Gonçalves da Silva.” O Noticiador, 8 de janeiro de 1834.
Ao retornar do Rio de Janeiro tendo provado
sua inocência nas acusações de ser traidor, a chegada de Bento Gonçalves foi
festejada: “No dia 4 do corrente chegou a esta Vila o Sr. Coronel Bento
Gonçalves da Silva; que foi recebido nos braços da amizade e visitado de grande
número de cidadãos, que conhecem e apreciam as suas qualidades: nessa noite foi
obsequiado por uma bem concertada Orquestra particular, dirigida por alguns
jovens Patriotas e acompanhada de outras muitas pessoas, que quiseram
voluntariamente tomar parte neste plausível festejo”. O Noticiador, 5 de março de 1834.
A
sua passagem continuou a provocar impacto, pois dias após ainda era feito
referência a sua atuação militar e política. O comandante militar apresentava
uma imagem de liderança em meio a um clima agressivo de reivindicações
políticas liberais radicais: “Chegou finalmente o sr. Coronel Bento Gonçalves
da Silva, terror dos caramurus-restauradores. Que alegria não deve causar aos
amigos do Trono de Abril a presença deste intrépido militar, que tem sido
caluniado pelos retrógrados, somente por se afeto a nova ordem de coisas. Na
verdade, quanto a sua ausência consternava aos amigos da ordem e dava novo gás
e força ao partido restaurador, que pretende destruir a grande obra começada no
sempre gloriosos 7 de abril!!! O Sr. Bento Gonçalves é a única barreira que os
faz conter: querer apartá-lo desta Província é dar asas a que os restauradores
tramem a favor do detestável duque de Bragança, que cessou de reinar para
sempre no Brasil, por haver tramado a destruição de seus filhos. Caluniadores
infames e detestáveis, mordeivos de raiva e na desesperação que vos atormenta,
cuidai somente de vos remeterdes ao silêncio; envergonhai-vos se de vergonha
sois suscetíveis, pelas falsidades que o levantastes contra este bravo Militar,
que até o presente não tem se não almejado o bem-estar da nossa pátria; quando
vós, pelo contrário ó infames, vos tendes infamado, usando de mil baixezas,
atraiçoando a amizade e enculcando-vos os únicos sustentáculos da
Província!!!”. O Noticiador, 8 de março de 1834.
A
temperatura política continuaria a subir até o 20 de setembro de 1835 quando
tem início a Revolução Farroupilha.
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